COMO A BORDALLO PINHEIRO PASSOU DE QUASE FALIDA A FACTURAR MAIS DE €6 MILHÕES E A INAUGURAR LOJAS EM MADRID E PARIS
Se em 2009 quase faliu, em 2017 atingiu uma facturação recorde: 6,1 milhões de euros. Agora, aumentaram a fábrica para o dobro do tamanho e já neste semestre tiveram um crescimento de 13 por cento.
“TÍNHAMOS TODA A EQUIPA A VIRAR O MOLDE, QUE TINHA 1.600 KG”, CONTA O RESPONSÁVEL PELA MODELAÇÃO
José Luís Bispo alterna entre a dúzia de pincéis pousados na mesa, enquanto segura, com uma mão só, uma peça. Perto de si há taças com tintas, em tons de castanho e cinzento. Estão numeradas para ajudar no quebra-cabeças: é que, depois de sair do forno, a peça terá tons de azul vivo, verde e rosa. Quando pinta, José não vê as cores brilhantes finais.
Com mais de 40 anos na fábrica Bordallo Pinheiro, o pintor está, por estes dias, a mudar de poiso. A fábrica está já na recta final das obras de remodelação – passaram de 6 mil m2 para 12 mil – uma ampliação que representa um investimento de 8,3 milhões de euros. Tudo para dar resposta ao sucesso. “Estávamos a ter dificuldade em absorver a procura. Creio que, com a ampliação, a fábrica vai ganhar 60 por cento de capacidade de produção”, explica à SÁBADO
Nuno Barra, administrador. Agora têm um showroom para mostrar as peças aos clientes. Também há novos materiais e ferramentas, como os fornos que a própria Bordallo ajudou a concluir: maiores e mais eficazes, têm a capacidade de manter a temperatura, fundamental para garantir que as peças saem iguais, sem queimaduras nem cores transformadas. Mas, no que toca à arte da cerâmica, continua tudo muito semelhante ao que era em 1884. O desenho nasce no papel: primeiro faz-se a modelação, depois criam-se os moldes, a seguir vem o enchimento, seguido da ornamentação. A peça faz a primeira cozedura, segue-se a pintura e a última ida ao forno: se tudo correr bem, está finalizada.
O trabalho é manual, exige tempo e paciência. “Tudo começa com um charuto de barro”, lembra Vítor Formiga à frente da área de modelação, que recebe as primeiras ideias e esboços. Aponta para um amendoim gigante que está a ser moldado. Faz parte de uma colecção de caixas em forma de frutos secos (há o amendoim, a noz, a amêndoa e a avelã) que agora ganharam novo tamanho, porque o modelo fez sucesso numa das maiores feira de decoração da Europa, a Maison Et Objet, em Paris.
Com um percurso de 35 anos nesta área da Bordallo, foi o responsável por recuperar e reorganizar o vasto histórico de antigos moldes da fábrica. E tem enfrentado outros desafios, como construir um gato assanhado (personagem original de Raphael Bordallo Pinheiro) em ponto gigante: “Foram dois meses de trabalho com quatro pessoas. Muitas vezes tínhamos toda a equipa a virar o molde que tinha 1.600 quilos (com o barro e a água pesava o dobro).”
O gato assanhado gigante, colocado diante da loja da Bordallo Pinheiro de Lisboa (que abriu no início de 2017) faz parte de um novo caminho da empresa. É que se, em 2009, a empresa facturava 2,3 milhões de euros e estava à beira da falência, em 2017 a história é outra. Com um novo plano estratégico atingiu um máximo histórico dos seus 134 anos de vida: facturou 6,1 milhões de euros.
Dos EUA ao Japão
No primeiro semestre de 2018, tiveram um crescimento de 13% face ao período homólogo, sugerindo que o ano será ainda melhor do que aquele que passou. A Bordallo Pinheiro vai dar o grande salto e