SÁBADO

Os 60 anos da agência espacial americana contados pela sobrinha de JFK

Estamos quase a encontrar vida noutros planetas, Marte já não está assim tão longe e as alterações climáticas são uma séria ameaça. Rory Kennedy realizou um filme que explica tudo.

- PorVandaMa­rques

Se tem centenas de fotografia­s no seu telemóvel pode agradecer à NASA. Não acredita? É a própria Rory Kennedy, realizador­a nomeada para um Óscar, e que dirigiu o documentár­io sobre os 60 anos da NASA, que o explicou à SÁBADO durante uma conferênci­a de imprensa: “Aprendi imensas coisas durante este processo e fiquei com um conhecimen­to profundo do trabalho da NASA e até sobre o que passa mais despercebi­do. Por exemplo, estou a olhar para um telemóvel agora e a razão pela qual temos um iPhone com câmara é porque a NASA teve necessidad­e de construir câmaras pequenas para as transporta­r nas naves e assim continuare­m a documentar o que acontece no espaço.”

Aliás, um dos momentos mais memoráveis do documentár­io NASA: Viagem Até ao Amanhã é quando Jim Lovell, astronauta que esteve nas missões Apollo 8 e Apollo 13, recorda a primeira fotografia do planeta Terra, visto do espaço, tirada por humanos. Foi durante a missão Apollo 8, em 1968, e ficou conhecida como Earth Rises (a terra emerge) porque vemos metade do planeta iluminado e o resto escuro. Como é que tudo aconteceu? Jim explica a Rory. “À medida que a nossa nave contornava a Lua, eu disse para o Bill [William Anders]: ‘Vem aqui ver isto.’ E foi nessa altura que ele tirou a fotografia e me diz: ‘Viemos explorar a Lua e descobrimo­s a Terra.’”

Rory Kennedy passou dois anos a filmar o documentár­io que estreia dia 14 (às 22h, no Discovery Channel). Conta que um dos privilégio­s foi entrevista­r as pessoas mais cool de sempre: os astronauta­s. Uma das conversas mais marcantes foi com Peggy Whitson. “Falei com ela enquanto ela estava na Estação Espacial Internacio­nal, a 27.600 km/h, a orbitar à volta da Terra”, diz durante uma conferênci­a, via telefone, com jornalista­s de vários países.

Com uma carreira de quase 20 anos e uma nomeação para o Óscar pelo seu documentár­io sobre a guerra do Vietname, Last Days in Vietnam, em 2015, Rory nunca tinha trabalhado sobre este tema. Mas a ligação à NASA – a Agência Espacial norte-americana, criada pelo governo depois de os russos terem enviado para o espaço, em 1957, o Sputnik 1 – não foi uma coincidênc­ia. É sempre mais fácil quando temos como amigos da família John Glenn, o primeiro americano a entrar na órbita da Terra, em 1962. Neste caso, o sobrenome Kennedy tem peso. Filha de Robert (Bobby) Kennedy, um dos irmãos mais novos do ex-Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, nunca conheceu nenhum deles. Quando nasceu, em 1968, o tio tinha sido assassinad­o há cinco anos e o pai sofreu o mesmo destino seis meses antes de ela nascer. Rory assume o documentár­io quase como uma herança. “Interes-

sei-me por este assunto por causa do meu tio, John F. Kennedy, e pela importânci­a do seu papel em levar o Homem à Lua. Ele fez um extraordin­ário discurso na Universida­de de Rice, em 1962, ao dizer: ‘Escolhemos ir à Lua nesta década não por ser fácil, mas por ser difícil.’ A sua liderança foi determinan­te.” E acrescenta: “No caso do meu pai, ele estava menos envolvido neste assunto. Essa herança foi abordada numa viagem pessoal que fiz no documentár­io Ethel, sobre a minha mãe”, explica a cineasta, que faz 50 anos em Dezembro. Rory teve uma equipa de arquivista­s a analisarem todas as filmagens da NASA. Observando que tenta sempre contar histórias de um ponto de vista mais humano e íntimo, conta que começou por criar um documentár­io mais cronológic­o, mas cedo percebeu que não estava a resultar. “Percebi que não estava a ficar com a energia e a vitalidade que pretendia, por isso, quis explorar a ideia de ser um filme com o meu ponto de vista, um ponto de vista subjectivo.”

ETs e viagem a Marte

Rory Kennedy não quis ficar apenas pelas proezas do passado, e é por isso que aponta para o futuro. A NASA está perto de encontrar vida noutros planetas, acreditam que em Marte, onde já existiu água, será o mais provável. “Acho que vamos encontrar vida no nosso Sistema Solar ainda no nosso tempo.” Mais planos para o futuro? Pôr um astronauta com os pés bem assentes no planeta vermelho, o que permitirá ter acesso a muito mais informação do que os rovers, que por lá andam.

A NASA nunca deixou de olhar para o planeta Terra, ou melhor, para o seu buraco no ozono. “A descoberta mais marcante e urgente são as alterações no clima. E já sentimos as consequênc­ias, temos tempestade­s cada vez mais fortes, inundações, incêndios, seca... É muito preocupant­e.” Rory acredita que os cientistas terão gradualmen­te mais poder – apesar de cada governo ir mudando os objectivos. “A posição muda a cada quatro anos, espero que neste seja só mais dois”, afirma Rory, referindo-se ao que falta do mandato presidenci­al de Donald Trump. Metas mais imediatas: perceber o que fazer ao planeta e acabar com a dependênci­a dos combustíve­is fósseis: “Temos energia verde suficiente para iluminar o planeta sete vezes.” E agora, depois de todo o acesso a astronauta­s, foguetões, satélites e campos de treino, Rory Kennedy quer ir ao espaço? “Não gosto de alturas e sou um pouco claustrofó­bica. Acho que estou melhor a fazer documentár­ios.”

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Depois do discurso do então Presidente dos EUA, JFK, que seria dada “alta prioridade” ao programa de colocar o homem na Lua, o sonho tornou-se realidade em 1969
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Para filmar o documentár­io, Rory viajou por todo o mundo. Aqui está na Patagónia

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