O Centro Cultural de Belém recebe A Fera na Selva, de Marguerite Duras
Miguel Loureiro encena e Filipe Duarte e Margarida Marinho interpretam A Fera na Selva, texto escrito por Marguerite Duras a partir de um conto de Henry James. Para ver no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
ESTA HISTÓRIA começa em 1903, a seguir ao Verão. Aliás, mesmo no início do Outono. Estamos num palácio inglês, o palácio de Weatherend, que tem móveis escuros, lareiras, lustres e retratos de família por todo o lado. Há pessoas a falar e uma festa a decorrer. Margarida Marinho é Catherine Bertram e Filipe Duarte é John Marcher. A Fera na Selva, com texto de Marguerite Duras a partir de um conto de Henry James, sobe ao Pequeno Auditório do CCB na quinta, 4 de Outubro, e por lá ficará até sábado, 6.
A peça tem encenação do actor, dramaturgo e decorador de cena Miguel Loureiro, que se iniciou no teatro em 1995 e cuja carreira demonstra um interesse em releituras dos clássicos mas também uma paixão pela performance (os espectáculos Juanita Castro, Minajesque ou Experimentalismo Social, de resto, provam-no) – pelo que não é de estranhar que em A Fera
na Selva trabalhe com actores como Margarida Marinho e Filipe Duarte. “A Fera na Selva será um trabalho de texto, prende-se não só com o prazer de reconhecer os rostos de John Marcher e Catherine Bertram em dois actores singulares, Margarida Marinho e Filipe Duarte, mas sobretudo em praticar em cenas as paisagens emocionais, os vocábulos superlativos de James, filtrados na lendária música durasiana que nos deu India
Song ou Savanah Bay”, escreve o encenador na folha de sala do espectáculo. Em palco, o encontro de John e Catherine começa invisível aos olhos do espectador, com a observação de um quadro – o retrato do quarto marquês de Weatherend – e uma dúvida: os dois já se conheciam? Catherine sabe que sim, John desconfia de onde. John engana-se, no entanto. Os dois já se conheciam mas de Nápoles e não de Roma. Pergunta puxa resposta e o encontro dos dois parece, mesmo com a inconsistência das memórias, ter deixado marcas em ambos. Palavra puxa palavra e o diálogo entre os dois segue escorreito, direito às ideias de destino e sorte, encaminhando-os para uma sensação de medo. Quem é a fera e quem terá de fugir dela – essa é a questão que Margarida Marinho e Filipe Duarte levam a palco mas nunca desvendam. A Fera na Selva é a história de uma catástrofe anunciada mas nunca denunciada. Para ver e sobretudo intuir no Centro Cultural de Belém.
Em palco dá-se o encontro de Catherine Bertram e John Marcher, que já se haviam conhecido antes. Agora, vão perceber que fera é esta que pressentem em redor