SÁBADO

JOSÉ PACHECO PEREIRA

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Se há coisa que me enfurece, e poucas coisas cabem nessa categoria, é a praxe. É ver dezenas e centenas de estudantes capitanead­os por uns grupos vestidos entre o padre e o pinguim, armados de colheres de pau, a pastorear um rebanho de caloiros felizes da vida a serem humilhados na praça pública. Se querem melhor exemplo de que não há teorias teleológic­as da história, em que existe uma seta do tempo que vai de trás para a frente, do passado atrasado para o futuro progressis­ta, a praxe é um deles. Ainda há pouco tempo, as universida­des de Lisboa e do Porto tinham os seus estudantes limpos da farda de pinguim, que era uma coisa que havia em Coimbra e não abonava muito à ideia de que a sua universida­de era moderna, em vez de provincian­a e retrógrada. Agora como uma praga de gafanhotos, ou melhor pinguins, estende-se por todo o lado. Sim, de facto, a história não anda para a frente.

Eu sei que há gente que gosta de lamber o chão e praticar umas coisas entre o escatológi­co e o puramente imbecil, mas já há uns anos sugeri que o fizessem no recato de um campo fechado, fora dos olhares das pessoas que gostam de ter o olhar limpo da fauna dos pinguins, mesmo reconhecen­do que esta classifica­ção é injusta para os pinguins lá no seu lugar gelado.

A praxe, já o sabemos, é perigosa. Já morreu gente. E deveria ser ainda mais perigosa para as carreiras futuras de quem se presta a estas iniquidade­s. Se tivesse uma empresa que recrutasse jovens universitá­rios, nem que fosse para servir à mesa, ou responder a telefonema­s, perguntava sempre:

“Foi praxado/a?

Fui, fui e gostei muito.

Então vá procurar emprego noutro sítio que aqui empregam-se pessoas que tem respeito por si próprias.”

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