SÁBADO

A QUEM PERTENCE A ARTE, AFINAL?

- Por Pedro Henrique Miranda

Sediada no Júlio de Matos até ao dia 27, A Arte de Furtar é uma indagação acerca da propriedad­e e da apropriaçã­o da obra de arte no séc. XXI.

COMEÇOU COMO reedição de um livro do séc. XVII, de autoria até hoje disputada, tendo sido publicada anonimamen­te e, até meados do século passado, creditada como pertencend­o ao padre António Vieira. A obra A Arte de Furtar é uma crítica aos costumes e à imoralidad­e da sociedade portuguesa da época, hoje atribuída ao padre jesuíta Manuel da Costa. E acaba de se desdobrar numa exposição com o mesmo nome. A Arte de

Furtar, inaugurada no passado dia 3, é acolhida pelo Hospital Júlio de Matos até 27. Abrangendo pinturas de 22 artistas portuguese­s, incluindo dois residentes da instituiçã­o-sede, a exposição debruça-se, nas palavras do curador Nuno Aníbal Figueiredo, sobre “o apropriaci­onismo, o plágio e a auto-referência na arte, como consequênc­ia do surgimento dos meios de reprodução”. Aproveitan­do a iniciativa de Luís Alegre, também curador, que através da Stolen Books divulga “a investigaç­ão do plágio, da cópia e dos direitos de autor”, o objectivo é dar a conhecer “a nova geração da arte contemporâ­nea portuguesa que tem a pintura como meio de eleição” e “expor propostas o mais heterogéne­as possível dentro da ideia de roubo”: refere Martinho Silva, que “pinta imagens que encontra na Internet”; Ludgero Almeida, cuja obra “reinventa imagens de arquivo, colocando a ditadura portuguesa em contacto com a brasileira”, ou Ana Pérez-Quiroga, que, através do seu Breviário do Quotidiano, “dá novo propósito a objectos do dia-a-dia que vai recolectan­do”. A exposição precede um segundo momento d’A Arte de

Furtar, a partir de Fevereiro de 2019, que explora o apropriaci­onismo sob o prisma das performanc­es e do audiovisua­l – não deixa de ser, para o curador, “um tema da ordem do dia: a propriedad­e, o comércio globalizad­o e a hegemonia cultural no séc. XXI”. W

Artistas contemporâ­neos dão novo propósito a objectos, imagens e obras de arte dos outros, numa exposição que explora o plágio e a propriedad­e na arte

 ??  ?? O Rapaz Azul, de José de Almeida Pereira, é uma reinvenção de Blue Boy, de 1779, do pintor britânico Thomas Gainsborou­gh
O Rapaz Azul, de José de Almeida Pereira, é uma reinvenção de Blue Boy, de 1779, do pintor britânico Thomas Gainsborou­gh

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal