SÁBADO

UMA IMPRESSÃO DA MANHATTAN QUE JÁ NÃO EXISTE

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Depois de e a Tinta da China volta a incluirJan­Morrisnaco­lecçãodevi­agens: éum passeio ao passado perdido de Nova Iorque. Por Catarina Moura a haver um vencedor entre os Aliados, com a URSS comunista e o Reino Unido dilacerado, esse vitorioso seriam os Estados Unidos, que beneficiar­am da História o suficiente para ainda ganharem dinheiro com a guerra. Jan Morris não assistiu a nada disto. A escritora britânica só pôs os pés na Big Apple em 1953, mas isso é um pormenor, porque o toque de Morris transforma a trivialida­de em literatura. À semelhança de obras como Veneza ou Espanha, Manhattan’ 45 cruza o momento histórico com as minudência­s daquele microcosmo­s (Porque tem cada estação de metro o seu desenho próprio em azulejos coloridos? Como se entrava para o Almanaque Social, que compilava os nomes da aristocrac­ia da ilha? Que bebida foi servida à chegada dos militares da guerra em jeito de boas-vindas?), desenvolve­ndo uma espécie de reportagem a partir de números oficiais, imprensa da época e conversas com quem viveu esse espaço nesse tempo específico. Por específico não se entenda rígido. Talvez este 1945 acabe pouco depois de Dezembro desse ano, ou até antes, avisa Jan Morris, logo no início: 1945 é aqui sobretudo a ideia de uma ilha frenética, sofisticad­a, esperanços­a e que se enriquece com gente de todo o mundo.

Esta Manhattan já não existe. Com a Guerra Fria e a invasão de um sentimento de perigo e vulnerabil­idade, pouco depois de 1945 essa Manhattan só existia como memória. O que interessa, porém, que já não exista o El – um metro de superfície que corria nuns caminhos-de-ferro elevados num viaduto? Ou que não se estendam passadeira­s vermelhas aos passageiro­s de qualquer comboio ao partir da Grand Central? Não vale a pena procurar catedrais medievais onde não as há: a pátina de Nova Iorque está algures entre as festas na casa de uma família no Harlem pré-Black Power e a sofisticaç­ão de se ter portas automática­s em qualquer elevador, enquanto a Europa ainda andava a puxar portas de grade para subir ao quarto andar.

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