SÁBADO

Goleadores

Bas Dost está entre a actual elite, com a incrível média de 66 golos em 66 jogos no campeonato. Melhor do que Messi, Neymar e Ronaldo – este só na Juventus.

- Por Rui Miguel Tovar

Bas Dost tem 66 golos em 66 jogos e está entre a elite europeia

Peter Houtman, Pierre van Hooijdonk e Bas Dost. Olha que três. O elo está profundame­nte enraizado, por três motivos: todos holandeses, todos melhores marcadores da 1ª divisão holandesa e todos com um passado no futebol português. Todos, não: Bas Dost ainda está presente. E bem presente. Os seus números parecemse com ele: grandes, enormes. No campeonato nacional, a média é perfeita: 66 golos em 66 jogos. Há-os de todas as maneiras e feitios entre pé esquerdo, pé direito e cabeça. De bola corrida ou parada. Dentro da área ou fora. O festejo, esse, é sempre o mesmo: boca bem aberta, corrida desenfread­a pelo campo fora, adrenalina total. Seja o 1-0 nos descontos ou o 5-0. Bas Dost é sinónimo de garra e espírito, exemplo adequado de never-say-die. Se uma equipa jogasse com 11 Bas Dosts, nunca sairia vaiada do estádio. Sessenta e seis golos é dose. Em sessenta e seis jogos, então, é um feito assinaláve­l. De todos esses golos, o mais bas dostiano de todos é um ao Moreirense, curiosamen­te o primeiro de todos, na estreia, a 10 de Setembro de 2016. O lance é conduzido por Gelson no meio e há uma lateraliza­ção para a direita, em que aparece Schelotto a cruzar para a entrada da pequena área. Bas Dost atira-se para a frente e falha o encosto. A bola ressalta em Diego Galo e fica ali a marinar.

NA ÉPOCA DE ESTREIA, BAS DOST FEZ UMA GRANDE SEGUNDA VOLTA (21 GOLOS EM 17 JOGOS) E FOI O REI DOS ARTILHEIRO­S

Bate fortuitame­nte na cabeça do holandês, que depois ajeita-a com o pé esquerdo e atira com o direito, tudo feito no chão. É um golo de esforço, dedicação, devoção e glória. Segue-se a exuberânci­a no festejo, à leão (só lhe falta a juba). Na jornada seguinte, mais uma batata de Bas Dost, no surpreende­nte 3-1 em Vila do Conde. Na outra, bis ao Estoril (4-2). O homem só pára ao quarto jogo, em Guimarães (outro resultado fora das previsões: 3-3, com 0-3 até aos 75 minutos).

Vice-artilheiro da Europa

A segunda volta do campeonato 2016-17 é um mimo, com 21 golos em 17 jogos entre três hat tricks (Boavista, Sp. Braga, Desportivo de Chaves), dois bis (Paços de Ferreira, Nacional da Madeira) e um póquer (Tondela). É claramente o melhor marcador da 1ª divisão, com 34 golos (o vice é Soares, 19). E o segundo melhor da Europa, só atrás dos 37 de Messi.

Na época seguinte, a sua eficácia continua exemplar. Que o diga o Desportivo de Chaves, de novo: hat trick em Alvalade, bis em Trásos-Montes. Na final da Taça da Liga, é seu o golo do empate aos 80’ em resposta ao madrugador 1-0 do Vitória de Setúbal, cortesia de Gonçalo Paciência. No desempate por penáltis, Bas Dost marca o seu e festeja o título. Nesse mês de Janeiro, o seu nome faz a manchete dos jornais com a naturalida­de dos grandes. Numa semana, dois hat tricks em Alvalade: 5-0 ao Marítimo no dia 7 e 3-0 ao Desp. Aves no dia 14. A Bola de Prata é um objectivo alcançável, só que o Sporting vive momentos conturbado­s a partir de Março e a fábrica do golo deixa de funcionar às mil maravilhas. Disso se aproveita o benfiquist­a Jonas para arrebatar o título de goleador. Começa a época 2018-19 e Bas Dost acumula 61 golos em 61 jogos. Bastam-lhe 90 minutos em Moreira de Cónegos para dar um salto nas contas: 63-62. Segue-se o zero com Vitória de Setúbal, 63 em 63. Mais um zero com Boavista, 63 em 64. A viagem aos Açores é produtiva, 64 em 65. E o bis ao Chaves (sempre o Chaves, que paranóia): 66 em 66. Está feito. Venha de lá o Rio Ave, na próxima segunda-feira, dia 3, para mais um capítulo neste braço-de-ferro entre Bas Dost e Bas Dost. Que vença o melhor, Bas Dost rules.

Jardel, Yazalde e outras figuras

Como Bas Dost, há muitos, imensos até. O caso mais flagrante (e recente) é Jardel. Em quatro anos de FC Porto, supera a média de um golo por jogo à conta de 130 festejos em 125 jogos. Se incluirmos as duas épocas de Sporting, a média sobe. Acredite: 183 golos em 174. Só a passagem pelo Beira-Mar lhe retira brilhantis­mo nos números e acaba com 185 em 186. Daí para trás, há sempre um génio do golo em todas as décadas. Às vezes, dois. Como nos anos 70: Yazalde empata 104-104 e Eusébio alcança os 320 golos em 313 jogos entre Benfica e Beira-Mar. Na década de 60, a figura de José Águas (Benfica) é imensa: 291 golos em 281 jogos. Na de 50, Julinho (Benfica) com 169 em 166. E, claro, a de 40 é só Peyroteo, Peyroteo e mais Peyroteo. É ele o recordista mundial de todo o sempre, em matéria de média, graças à quantidade absurda de golos (331) em comparação

PEYROTEO TEM UMA MÉDIA ABSURDA: 331 GOLOS EM 197 JOGOS. E EUSÉBIO? 320 GOLOS EM 313 JOGOS

com o número de jogos (197). Como se isso fosse pouco, o sportingui­sta dá asas à sua capacidade e também se consagra como melhor marcador de sempre dos clássicos (contra Benfica e FC Porto), com 71 golos em 69 jogos. Sim, não nos enganámos: também soma mais golos que jogos neste capítulo.

O extraterre­stre Ronaldo

Lá fora, há referência­s do presente cheias de vontade em dar água pela barba à concorrênc­ia. O exemplo mais inacabado é Cristiano Ronaldo. A epopeia na Liga espanhola pelo Real Madrid é qualquer coisa de extraordin­ário, de indiscutív­el classe: 311 golos em 292 jogos. Nem Di Stéfano (282 jogos, 216 golos), nem Zarra (278-251), nem Messi (429-392). Que delícia. Atenção, o Real Madrid não é a equipa dominante na Liga. Mesmo assim, Cristiano Ronaldo chama a si o protagonis­mo e faz a festa – e nem sempre joga como nove. A própria história de Ronaldo no Real Madrid é um conto de fadas sem igual, com mais golos que jogos se incluirmos todas as competiçõe­s nacionais e internacio­nais: 450 golos em 438 partidas. Sem esquecer os 15 títulos colectivos e os 27 individuai­s. É obra. Feita. E inigualáve­l. Assim tão grande como Cristiano Ronaldo só mesmo Puskas no Kispest Honved, da Hungria (358 golos em 350 jogos). Aliás, a pontaria de Puskas na selecção é um assunto sério: 85 jogos, 84 golos. Está quase ela por ela, o que é admirável pela então presença assídua dos húngaros em Jogos Olímpicos e Mundiais. Ou seja, nos grandes palcos e com os adversário­s mais temíveis. Outro homem capaz de superar obstáculos é o escocês Jimmy McGrory, herói do Celtic nos anos 20/30 com a notável marca de 395 golos em 378 jogos. Tudo o resto são fogachos. No passado, habemus o italiano Giorgio Chinaglia (231 golos em 234 jogos no NY Cosmos) e o sueco Zlatan Ibrahimovi­c (122 jogos e 113 golos no PSG). No presente, Neymar (31 jogos e 29 golos no PSG). Nada de especial, está bom de ver. Só pequenas relíquias, ligeiros repentes da febre do golo. Nada comparável a Bas Dost, o iluminado.

358 golos (em 350 jogos) tem Puskas, que está ao nível de Ronaldo. Jimmy McGrory (no Celtic) tem 395 golos em 378 jogos

631 golos (em 779 jogos) tem Messi na carreira (Barcelona e selecção). A melhor época? Em 2011/12 marcou 73 vezes pelos catalães

RONALDO TEM 311 GOLOS EM 292 JOGOS PELO REAL NA LIGA ESPANHOLA. MELHOR MÉDIA DO QUE MESSI OU DI STÉFANO

 ??  ?? Bas Dost SPORTING 29 anos O holandês tem 66 golos em 66 jogos no campeonato. Em toda a carreira, são 200 golos em 366 jogos
Bas Dost SPORTING 29 anos O holandês tem 66 golos em 66 jogos no campeonato. Em toda a carreira, são 200 golos em 366 jogos
 ??  ?? Ronaldo JUVENTUS 33 anos Leva nove golos em 13 jogos na actual Liga italiana. Tem 668 golos na carreira
Ronaldo JUVENTUS 33 anos Leva nove golos em 13 jogos na actual Liga italiana. Tem 668 golos na carreira
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 ??  ?? Messi BARCELONA 31 anosTem 392 golos em 429 jogos pelo Barcelona na Liga espanhola
Messi BARCELONA 31 anosTem 392 golos em 429 jogos pelo Barcelona na Liga espanhola
 ??  ?? Neymar PARIS SAINT-GERMAIN 26 anos O brasileiro tem 29 golos em 31 jogos pelo PSG (Liga francesa). No Barça foi pior: 68 em 123 jogos
Neymar PARIS SAINT-GERMAIN 26 anos O brasileiro tem 29 golos em 31 jogos pelo PSG (Liga francesa). No Barça foi pior: 68 em 123 jogos

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