SÁBADO

DECADÊNCIA DOURADA

SILVIO E OS OUTROS

- TIAGO R. SANTOS CRÍTICO

Só fomos convidados para metade da festa: o original Silvio e os Outros estreou em Itália dividido em duas partes com a duração total de 204 minutos. Consideran­do que esta versão condensada e criativame­nte interpreta­da de um pedaço da vida de Berlusconi tem 145 minutos, chegamos à conclusão de que perdemos quase uma hora de magníficos fotogramas de mulheres deslumbran­tes a dançar ao crepúsculo na beira de uma piscina. Sorrentino adora corpos, quase tanto como de personagen­s que já ultrapassa­ram a meia-idade e mergulhara­m na nostalgia de todas as coisas que perderam. Este Berlusconi pertence ao mesmo clube de Gambardell­a – ambos são interpreta­dos pelo sempre óptimo Toni Servillo – ou Ballinger, os protagonis­tas de A Grande

Beleza e Juventude, títulos superiores e irmãos espirituai­s. Talvez devido aos cortes já referidos, há uma estranha disjunção que atravessa o filme, pedaços que faltam que poderiam ser

blackouts de Sergio Morra, o jovem que deseja conquistar as graças de Berlusconi com a promessa da festa eterna. Enquanto espera pelo seu convidado, Silvio

e os Outros é um À Espera de Godot decadente e dourado, em que todos são obrigados a dançar, mesmo quando a música já terminou.

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