As polémicas no currículo e a avença de Maria Begonha ensombram o congresso
Polémicas ensombram futura líder da Jota. António Costa não deverá participar nasessão de encerramento.
Não vai ser fácil ignorar o elefante no meio da sala no Congresso da Juventude Socialista da próxima semana. As polémicas em torno do currículo e do percurso daquela que é a única candidata a secretária-geral da Jota teimam em ensombrar o que, de outra forma, poderia ser o grande momento da chegada ao poder de Maria Begonha. A prova disso é que, a menos de 15 dias do conclave, apareceu no Largo do Rato um cartaz provocatório a lembrar o caso da avença que manteve entre 2016 e 30 de Setembro deste ano como assessora do vice-presidente da Câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro. “Quantos jovens sem mestrado em Lisboa ganham quase 4 mil euros por mês?”, questiona o poster anónimo, numa alusão ao facto de que quer o LinkedIn quer a biografia da candidatura de Begonha terem sido corrigidos, depois de uma notícia do
Público sobre um mestrado em Ciência Política que está por concluir mas já aparecia no currículo. “É um cartaz difamatório e persecutório”, reage a candidata a líder da JS, de 29 anos (fará 30 cerca de um mês depois de ser eleita), que garante que recebia apenas “à volta de 2 mil euros líquidos a recibos verdes” e que o valor era o da tabela para assessores na Câmara de Lisboa. “Vou procurar saber quem ilegalmente colocou esse cartaz para elaborar uma queixa”, promete. Maria Begonha, que se assume como “muito à esquerda”, lamenta que a polémica tenha gerado mais interesse nos media do que as suas propostas políticas. Mas garante não ter medo de ser continuamente perseguida pelas notícias quando estiver a falar sobre temas que lhe são caros como o desemprego jovem, a precariedade e os baixos salários. “Não temo. Escolhi um percurso que é bem conhecido. Aceitei um convite para trabalhar no projecto autárquico na minha cidade”, diz à SÁBADO.
Próxima de Pedro Nuno Santos
As tentativas de Maria Begonha de esclarecer o que assegura terem sido “gralhas e erros” no seu currículo não foram, contudo, ainda suficientes para apagar o mal-estar que se vive na estrutura. Na JS, não falta quem ache que Maria parte para a liderança diminuída. “Não há reunião a que eu vá em que o tema não seja assunto. De cada vez que as pessoas sabem que eu sou da JS falam disso”, conta um dirigente da Juventude Socialista. Quando a polémica estalou, os prazos para apresentação de candidaturas estavam quase a acabar. Mas não foi sequer por isso que não apareceu alternativa: Maria Begonha é muito próxima quer de Duarte Cordeiro (líder da Federação de Lisboa), quer daquele que é cada vez mais visto como putativo futuro líder do PS, Pedro Nuno Santos. “Como eles nunca se demarcaram dela, ficou sempre no partido a ideia de que estão com ela. E isso pesa”, comenta uma fonte socialista, explicando a falta de comparência de uma alternativa com o peso político das figuras que a acompanham. Pedro Nuno Santos nunca se demarcou de Maria Begonha nem o fará. A SÁBADO sabe que, no núcleo duro de Pedro Nuno e Duarte Cordeiro, a convicção é que Maria “não fez nada de errado”, ainda
que as notícias sobre ela sejam pouco abonatórias.
Para já, as concelhias da JS de Mogadouro, Odemira, Moita, Alcochete, Grândola, Trofa, Lousada, Vendas Novas e Proença-a-Nova demarcaram-se de Begonha. Algumas delas em comunicados duros sobre a “postura eticamente reprovável” da candidata única e sublinhando que “estão em causa as qualidades necessárias para assumir o cargo”. Maria Begonha desvaloriza. “São só nove concelhias em 215 estruturas com órgãos eleitos”, responde, frisando que “candidatura única e união não é a mesma coisa do que unanimismo” e garantindo que a discussão que quer levar para o Congresso de Almada (de 14 a 16 de Dezembro) é política.
Costa está sem agenda...
Quem não deverá estar no conclave para acompanhar esse debate é António Costa, que já fez saber à organização do Congresso que não deve comparecer “por motivos de agenda”. Na JS houve quem visse nisto uma forma de se afastar da polémica candidata. Maria Begonha, que diz ainda não ter “essa informação por via oficial”, assegura que “não é frequente, mas também não é inédito o secretário-geral não estar presente no encerramento dos trabalhos” e não tira daí qualquer ilação. Com uma moção intitulada Razões de Esquerda, Maria Begonha dá prioridade a temas como “a habitação, o trabalho, o ensino democrático e gratuito e uma agenda ambiental”. O objectivo é que a JS deixe de se concentrar tanto nos temas fracturantes e apresente “uma nova agenda em volta dos desafios geracionais”. Resta saber se consegue fazê-lo apesar do ruído.