SÁBADO

Albano Jerónimo faz de Sócrates em díptico de peças de Mickaël de Oliveira

Mickaël de Oliveira escreveu e encena Sócrates Tem de Morrer, um díptico de duas peças em que Albano Jerónimo é o filósofo condenado à morte e depois, num mundo novo, reencarna num grunho americano. A estreia é quinta, dia 6, no São Luiz.

- Por Rita Bertrand

A teoria socrática de que só a morte permite o conhecimen­to puro é levada ao limite – “e o limite é o terrorismo”, diz o autor

ESTE SÓCRATES não é o ex-primeiro-ministro português, mas o filósofo grego cujo pensamento resistiu ao tempo graças ao discípulo Platão, que o verteu em diálogos escritos, em obras como Críton ou Fédon. Para criar o seu novo espectácul­o – Sócrates Tem de Morrer, um díptico de duas peças, em estreia na quinta-feira, 6, no São Luiz –, Mickaël de Oliveira partiu precisamen­te desta última, que narra os últimos dias do filósofo no cárcere, à espera da execução (que deseja) e em que enuncia o seu discurso sobre a imortalida­de da alma (que torna a morte desejável). No 1º episódio do díptico – A Morte de Sócrates, um “inédito, muito livre, segundo o autor –, Albano Jerónimo interpreta o filósofo, rodeado de amigos (os actores Paulo Pinto, Pedro Lacerda, Maria Leite e Ana Bustorff) que tentam convencê-lo a permanecer vivo. Contudo, ele mantém-se convicto de que a morte é preferível, sendo o corpo um impediment­o ao conhecimen­to puro, e eles acabam por concordar. Elaboram então um plano para atingir esse mundo utópico, sábio, fundando um grupo terrorista (não é a vida depois da morte que os justifica a todos?) e uma academia que o perpetue. “Aumentei a teoria até ao limite, e o limite é, obviamente, o terrorismo”, justifica o autor, que no 2º episódio do díptico, A Vida de John Smith, desenha “um mundo purificado, num futuro de ficção científica, depois da implosão da Terra.” Aí, a academia (e sua assembleia, que é um coro que, em palco, canta) zela pela utopia, “ideologia única que implica matar os inimigos”. Só que onde há humanos há conflitos, e “neste planeta em que os mortos-vivos, que simbolizam o outro, a alteridade, são a grande ameaça, alguns equacionam deixar de matar e abortar a utopia”. Neste episódio, em que tudo remete para a década de 1990, “como um museu do antigo mundo”, Albano Jerónimo torna-se John Smith, o anti-herói, grunho norte-americano. Sendo ele um idiota, poderá ser a reencarnaç­ão de Sócrates ou estará ali por engano? Respostas no díptico que Mickaël define como “uma tragédia complexa, como a vida é, com momentos cómicos, até hilariante­s, para rir, um lado político e algum melodrama”.

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O segundo episódio traz ao palco a utopia do primeiro, tornada realidade. O problema são os mortos-vivos que é preciso matar...
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No primeiro episódio, Albano Jerónimo é Sócrates; no segundo, renasce como John Smith, um grunho; terão a mesma alma?

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