Bráulio Amado volta a Lisboa com novos materiais, em 2800 — 10009
Bráulio Amado trocou Almada por Nova Iorque e tornou-se um prodígio do design. Este sábado, 8, vem a Lisboa inaugurar 2800 — 10009, uma exposição com os códigos postais das duas cidades onde explora novos materiais e até raspadinhas.
SE ACHA que tem uma vida agitada, olhe para Bráulio Amado, 31 anos, a viver em Nova Iorque há 9. O português acaba de abrir uma loja/estúdio de
design em East Village, Manhattan, trabalha para o New
York Times, para a Nike e para a Apple, desenha posters para concertos, faz capas de discos para músicos como Frank Ocean, Beck, Róisín Murphy ou Moullinex, e pelo meio ainda conseguiu arranjar tempo para uma exposição em Lisboa, na Underdogs Art Store (galeria/loja do artista Vhils), que é inaugurada no sábado, 8. O título, 2800 – 10009, códigos postais de Almada, onde cresceu, e de Nova Iorque, de onde já não quer sair, “foi um pouco falta de inspiração”, ri-se por telefone do outro lado do oceano. “Também tem um segundo sentido. Estou a produzir isto à distância e é uma experimentação. Mando [as peças] para eles produzirem e depois enviam-me fotografias pelo WhatsApp. Quando vir a exposição vai ser quando as pessoas vão ver, por isso também vai ser uma surpresa.”
Com serigrafias, impressões digitais e caixas de luz, a exposição no Cais do Sodré, de entrada gratuita, é uma maneira de experimentar suportes novos e até há obras que são “raspadinhas”, conta. “Em Nova Iorque seria muito caro fazer peças assim tão grandes. O meu apartamento e a maior parte dos estúdios são tão pequenos que mesmo se tivesse dinheiro para experimentar estas coisas não teria sítio para as meter.” Há nove anos, no último ano do curso de Design Gráfico na Ar.Co, ganhou uma bolsa para estudar um semestre em Nova Iorque. Fez um estágio no estúdio Pentagram e acabou por trabalhar para a revista de economia Bloomberg Businessweek, conhecida pelo design arrojado e onde explorou “coisas que nunca tinha feito antes”.
Foi nessa altura, e apesar de dizer que este foi o seu “melhor trabalho”, que decidiu criar o seu próprio estúdio, hoje com clientes fixos como a Nike ou a Apple, que o obrigam a ter rotinas –“Começo a trabalhar às 10h”, conta. O nome, BAD, é uma sigla de Bráulio Amado Design, até porque está provado que o seu nome é difícil de pronunciar por aquelas bandas. Por falar em bandas, antes de imaginar que estaria a fazer capas para o New York Times e ilustrações para a FADER ou para a New Yorker foi para bandas de amigos que começou a trabalhar por brincadeira. “Comecei a fazer posters
quando ainda estava no secundário e nem sabia o que era o design”, recorda. “Estava envolvido na cena punk e hardcore e passava demasiado tempo no computador, a divertir-me com o Photoshop e com softwares de design.”
Teve uma banda, os Adorno, e ainda toca com os Papaya, também com membros da primeira banda. “Na verdade sou um músico terrível e não tenho qualquer ambição de ter uma banda e fazer uma coisa séria”, confessa. Nem precisa. No mundo da música quase toda a gente conhece o seu trabalho e, à distância, nunca deixou de trabalhar para artistas nacionais.
“Tenho uma série de amigos com bandas e festas e é uma maneira de continuar ligado a Portugal”, explica. No currículo mais recente tem capas de discos de Moullinex, Xinobi, D’Alva e posters de bares como o Lounge, o Rive-Rouge e o Musicbox, em Lisboa. “Comecei dentro do punk e depois aos poucos fui começando a traba-
“Produzi isto à distância. Mandei as peçasparaeles produzirem e sóasvouver quando as pessoasas virem”
lhar para outro tipo de música”, afirma. “Agora acabei de fazer um poster para a [cantora e produtora sueca] Robyn e trabalhar para ela foi uma experiência engraçada.” Artistas como Frank Ocean, Django Django, Beck ou Róisín Murphy contactaram-no através do email. As quatro capas que fez este ano para Murphy, ex-vocalista dos Moloko, são dos trabalhos de que mais se orgulha em 2018. Tal como uma instalação para Adidas, onde viu o seu trabalho “ampliado para uma escala gigante”.
No meio de tantos compromissos, por diversão ainda organiza uma festa queer mensal, a OWL, num dos mais antigos bares gay de Nova Iorque. “É uma alternativa às festas normais”, conta. “Além de música temos um amigo psicólogo a dar consultas no bar, outro amigo drag queen que finge ser um palm reader e eu faço uma coisa chamada drunk caricatures”, continua. “Fico bastante bêbado e tento desenhar as pessoas. Sou bastante mau a desenhar retratos.”
Nos próximos tempos será a loja que abriu no fim de Outubro com o namorado, a Sixth Street Haunted House, a ocupá-lo. Além de ter ali o seu estúdio, o espaço vende trabalhos de artistas locais, tem
merchandising criado por ele – “para pagar a renda”, acrescenta –, funciona como livraria e ao fim da tarde recebe
workshops de design.