O“ARTISTA” DABANCA
Deixou 500 clientes lesados em 450 milhões de euros e o tribunal condenou-o a pena suspensa. Diz que vive da ajuda de amigos – mas numa casa de 5 milhões
Omundo financeiro de João Rendeiro também começou a revelar-se em 2008, mas 10 anos depois a sua vida parece intacta. Contactado pela SÁBADO, Rendeiro foi lacónico: “O que tenho feito? Visitar museus, o que estou a fazer agora. Ligue mais tarde.” Passaram vários dias e telefonemas, e uma semana depois, voltou a atender do estrangeiro. “Os meus projectos? Não é um assunto, desculpe. Não tenho tempo, obrigado.” Após a demissão do BPP, João Rendeiro começou por encarar os reguladores (BdP e CMVM), que o acusaram de más práticas para transferir prejuízos do banco para os clientes. Daqui resultaram coimas de €1,5 e 1 milhão. Em 2013, foi acusado de burla qualificada, mas viria a ser absolvido. Em 2016 foi acusado noutro processo de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança e de branqueamento. Estavam em causa “rendimentos não declarados em sede de IRS” de €16,5 milhões entre 2003 e 2008 além de €29,5 milhões apropriados indevidamente ao BPP. Segundo o MP, os administradores atribuíram-se rendimentos que não apareceram nos recibos de vencimento, fazendo-os passar por offshores. Só em 2008, ano da queda, Rendeiro ganhou 2,8 milhões. O julgamento ainda não começou. Já em 2018, num terceiro processo, Rendeiro foi condenado a cinco anos de prisão por falsidade informática e falsificação de documento. No acórdão, que a SÁBADO consultou, lê-se que “actuou como se o BPP fosse sua propriedade, de modo a poder beneficiar financeiramente com o dinheiro que os clientes ali investiam”. Mais ainda, “não denotou ter interiorizado o desvalor da sua conduta”. No entanto, a pena ficou suspensa. Por três razões: não tinha antecedentes, vivia “social, profissional e familiarmente integrado” e o BPP era um banco “de pequenas dimensões”. Ficou apenas de pagar (em seis meses) 400 mil euros a uma IPSS, no caso à CRESCER, cujo presidente, Américo Nave, contactado pela SÁBADO a 6 de Dezembro, referiu não ter ainda recebido o montante. No início, havia cerca de 1.000 lesados do BPP, que reclamavam cerca de 1.800 milhões, diz à SÁBADO Jaime Antunes, que criou uma associação de clientes. Passados 10 anos, falta pagar 450 milhões (referentes a 500 clientes), que é sensivelmente o que está na massa insolvente do BPP. O problema é que o Estado reclama o dinheiro: em 2008, seis bancos emprestaram 450 milhões ao BPP, com garantia do Estado. Quando o banco colapsou, executaram-na. Os clientes dizem que a garantia é ilegal e a questão está nos tribunais. Se o Estado perder, anula-se a garantia e quem fica com o buraco dos 450 milhões são os seis bancos.
A herança
Numa entrevista em 2016 ao SAPO, Rendeiro disse que vivia “de empréstimos de amigos para os gastos diários por conta do que se salvar dos arrestos”. Mas dias antes era notícia no Expresso por patrocinar uma exposição em Nova Iorque. Terminou com mágoa: “No mundo anglo-saxónico um fracasso, uma falência, um problema qualquer é um certificado de experiência, de renovação. Em Portugal, é pior que ir para a cova. Nos EUA é o recomeço da próxima coisa que se vai fazer.”