E A VIDA COMEÇOU A ANDAR PARA TRÁS
Depois de um exame inspirado no Face Oculta, um professor de Coimbra diz que a “aparelhagem socialista” o infernizou.
Oenredo do exame de Noções de Direito e Processo Penal do curso de Solicitadoria e Administração encaixou quase na perfeição com a actualidade. Havia um José Platão a liderar o governo. Certo dia, o primeiro-ministro foi escutado
“por mero acaso” ao telefone e um juiz da comarca de “Taveiro de Baixo” ficou convicto de que estava perante “indícios sérios e objectivos de se encontrar em curso um desvirtuamento das regras democráticas da transparência e concorrência em sede de meios de comunicação”. Qualquer semelhança com o exame do professor Benjamim Silva e os factos apurados no processo Face Oculta não foram, obviamente, coincidência. O País discutia o eventual crime de Atentado contra o Estado de Direito que o Ministério Público e o juiz de instrução de Aveiro imputavam a José Sócrates, mas o processo morreria nas mãos de Pinto Monteiro, então procurador-geral da República, e Noronha do Nascimento, na altura presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ou como foi mencionado no exame do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC), “Bolota do Nascimento”. Os problemas, segundo alega Benjamim Silva, começaram após o jornal Campeão das Províncias ter levado o seu exame a “manchete”. Após tal publicação, “foi man- dado instaurar pela ministra da Educação da época – Maria de Lurdes Rodrigues – um processo disciplinar; a Caixa Geral de Depósitos de Coimbra, que lhe teria garantido um financiamento para uma empresa partilhada com o irmão acabou por dar “o dito pelo não dito”; durante um ano, ficou sem a carta de condução; um crédito supostamente aprovado pelo BES também teve o mesmo destino do da CGD: foi cortado. Ao mesmo tempo, Benjamim Silva alega que, até à data, as suas declarações de IRS vinham sempre com reembolso. Situação que se alterou, porque a Autoridade Tributária passou a “fazer nascer estranhas dívidas fiscais”. Tendo em conta todas estas situações, Benjamim Silva e o irmão, Manuel Silva, decidiram pedir a constituição como assistentes no processo Operação Marquês. E já avançaram com um pedido de indemnização cível contra José Sócrates, Armando Vara e Ricardo Salgado, todos constituídos arguidos nos autos, pelos supostos danos causados, reclamando 15 mil euros de indemnização. Os autores dizem-se vítimas da “aparelhagem socialista de controlo social”, por isso o tribunal deve contabilizar as “amarguras, tristezas, nervosismo e sentimento de injustiça” vivido por ambos com a “perseguição política, económico-tributária, pessoal e policial” que lhes foi movida “por parte do Partido Socialista”, então liderado por Sócrates.
O Campeão Foi o jornal de Coimbra que publicou a história do exame realizado no Instituto de Contabilidade e Administração JOSÉ SÓCRATES É UM DOS 28 ARGUIDOS DA OPERAÇÃO MARQUÊS E ESTÁ ACUSADO DE 31 CRIMES