CONTAS FEITAS AO ALIANÇA
Partido de Santana Lopes vai alterar as contas das legislativas. E até pode ter um resultado surpreendente: ajudar Costa a chegar à maioria. Para já, os estragos são no PSD.
O PS pode ficar perto da maioria se o Aliança de Santana Lopes fizer o PSD descer? Saiba como e que partidos estão preocupados
Os mais de 10 meses que faltam para as legislativas são, em tempo político, uma eternidade e tornam difícil ter certezas sobre o que vai acontecer. Mas em todos os partidos há quem já faça cenários e conte com o impacto da novidade que vai aparecer nos boletins de voto a 6 de Outubro: o Aliança. O partido de Pedro Santana Lopes vai agitar as águas eleitorais e a antecipação do efeito que poderá ter está a provocar sorrisos no PS.
As contas que António Costa está a fazer baseiam-se no facto de o método de Hondt premiar sempre o partido mais votado na distribuição de mandatos parlamentares. Em círculos com até cinco deputados, isso significa que os votos noutros partidos que não tenham votação suficiente para eleger mandatos são atribuídos ao partido que ficar à frente na votação. Por outras palavras, tudo o que o Aliança – mas também o CDS ou até o PAN e o Chega – for “roubar” ao PSD faz com que o PS fique mais próximo da maioria absoluta de mandatos no parlamento.
Costa sonha com maioria
A MAIORIA ABSOLUTA FOI AFASTADA DO DISCURSO PÚBLICO DO PS. MAS NO GOVERNO ACREDITA-SE QUE É POSSÍVEL
“Se o Aliança for buscar muitos votos ao PSD, a maioria fica mais próxima”, admite-se no Governo, que aboliu do discurso público a “maioria absoluta”, mas em privado não esconde a expectativa de chegar a esse objectivo inconfessável, mas aparentemente não inatingível. Os peritos em sondagens explicam porquê. “Com um PSD acima dos 30%, o PS só tem maioria a partir de 44/45%. Com um PSD abaixo dos 25%, o PS pode ter a maioria aos 42,5%. Não há um número para a maioria, é a diferença para o segundo partido. É este o ponto”, afirma Rui Oliveira e Costa, da Eurosondagem. “O método de Hondt faz com que quando há uma dispersão de votos muito grande e a diferença entre o primeiro e o segundo partido é mais acentuada, isso beneficia o mais votado”, nota Jorge de Sá, da Aximage.
O efeito Aliança ainda é difícil de antever, mas o terreno eleitoral do partido que tem “roubado” vários militantes sociais-democratas é o do PSD, pelo que, ainda que convença abstencionistas
a ir votar, serão sempre pessoas que poderiam, em tese, votar no PSD. E isso pode mudar tudo. “O Aliança, se fizer com que o PSD em vez de 28% tenha 25%, facilita muito a maioria do PS. Não basta o Aliança ter 3%, é tirá-los ao PSD. Se vierem do CDS ou da abstenção não contam para estes cálculos”, diz Oliveira e Costa.
Saber até que ponto os votos no Aliança vão ajudar a eleger deputados socialistas depende da distribuição da votação pelos distritos. Círculos como Castelo Branco, Vila Real, Portalegre e Beja são, pela sua dimensão, particularmente sensíveis. Contactado pela SÁBADO, Pedro Santana Lopes não comenta. Mas uma fonte do Aliança admite que o sistema eleitoral permite as contas que os socialistas estão a fazer nos bastidores. “Há 700 mil votos que não contam, por causa do método de Hondt. Quem estuda o sistema sabe isso. Mas tudo depende do número de partidos que concorrerem e da distância entre o primeiro e o segundo mais votados”, refere a mesma fonte, que acha que fazer previsões a esta distância “é como acertar no Euromilhões”.
Pode ser. Mas isso não impede que também no PSD haja quem faça contas, apesar de as fontes
sociais-democratas ouvidas pela
SÁBADO garantirem que o Aliança ainda não está no topo das preocupações dos dirigentes do partido. “Existe uma expectativa relativamente ao impacto do Aliança”, admite o líder de uma distrital laranja, que acha que o partido de Santana “pode capitalizar o voto de protesto” e que a nova formação partidária pode mesmo ser “uma espécie de PAN para a direita”, roubando votos até ao CDS.
A ideia de que Rui Rio pode não estar a captar os descontentes faz, aliás, com que no PSD se tema perder votos não só para o Aliança, mas também para o PAN e até para o partido de André Ventura, o Chega. De resto, a onda de extrema-direita que tem alastrado na Europa e no mundo já fez soar campainhas na direcção de Rui Rio. “Há preocupação com a possibilidade de o Chega poder eleger um deputado”, reconhece uma fonte do partido. “Há um espaço para os radicais. Até agora, nunca houve ninguém com carisma para aproveitar isso. Mas André Ventura tem notoriedade e é um professor universitário. Pode ganhar espaço”, admite outra fonte social-democrata.
A “direita populista”, de que falava esta semana o riista Paulo Mota Pinto em entrevista ao Diário de
Notícias, não é, contudo, aquela que mais baixas está a fazer nas hostes do PSD. É para o Aliança que têm saído muitos militantes sociais-democratas mais ou menos conhecidos, apesar de até agora não haver nomes particularmente sonantes entre os que trocaram de partido e de até haver – quer no PSD, quer no CDS – quem note que muitos eram antigos apoiantes de Luís Filipe Menezes, que nos últimos tempos perderam espaço dentro do PSD.
Centristas aliviados
No CDS também não se ignora o impacto que o partido de Santana Lopes pode ter, mas o anúncio da candidatura de Paulo Sande como cabeça-de-lista às europeias fez soltar alguns suspiros de alívio no Largo do Caldas. “Para nós, há uma vantagem evidente: Paulo Sande é um federalista e vai ser fácil desmontá-lo em campanha, confrontando-o com posições dele que chocam o eleitorado que vota à direita nas eleições para o Parlamento Europeu”, reage à SÁBADO um dirigente centrista.
Apesar de Nuno Melo já saber que armas poderá usar contra o candidato do Aliança, no CDS evita-se a ideia de fazer do novo partido um adversário. “Isso seria dar-lhes importância. Temos de nos concentrar em fazer o nosso caminho sem olhar para o lado”, diz a mesma fonte, em linha com as declarações públicas de Assunção Cristas, que prefere realçar “como positivo” o contributo para acabar com a actual maioria parlamentar da esquerda e que gostaria de ver os partidos da direita a somar votos para uma alternativa à “geringonça”. “A estratégia do CDS é sempre a mesma: queremos ser uma alternativa às esquerdas. Para isso, precisamos de 116 deputados. Não conseguimos chegar lá sozinhos. Todos aqueles que, neste espaço, puderem somar deputados, sejam do PSD, sejam de outros partidos novos, isso pode ser positivo”, afirmou já a líder do CDS.
A lógica de Cristas joga com as declarações públicas de Santana Lopes, que já descartou qualquer acordo com o PS. “O que quero é trabalhar para construir uma alternativa. Eu não virei anti-PSD. O partido de que estou mais próximo é o Aliança, mas a seguir será o PSD. Continuo a considerar-me um social-democrata de inspiração liberal”, disse em Agosto à SIC. Na altura, Santana dizia que não vinha para conquistar “um dígito”, mas para “disputar”. Agora, no Aliança admite-se que “10% seria um bom resultado, 5% seria razoável”. O próximo passo para o novo partido será apresentar as suas linhas programáticas, coisa que deverá acontecer em meados de Janeiro. Só depois será desenhado o Programa de Governo. Até lá o desafio será o de tornar conhecido o candidato Paulo Sande, que é assessor de Marcelo Rebelo de Sousa para os Assuntos Europeus e um especialista na matéria, mas um desconhecido para a maioria dos portugueses. Enquanto a campanha para as eleições europeias de Maio não arranca, Santana Lopes vai tentando cavalgar a onda das saídas de militantes sociais-democratas. “Há muitos a admitir vir para o Aliança. É a toda a hora”, garante-se no partido que ficou satisfeito por ter “sala cheia” na apresentação de Paulo Sande. “Estavam quase 300 pessoas. Parecia uma coisa do PSD”, comenta uma fonte do partido.
O ALIANÇA TEM CONQUISTADO MILITANTES AO PSD. SE FOR BUSCAR VOTOS AÍ, PODE FACILITAR A MAIORIA DO PS