SÁBADO

Alfonso Cuáron estreia Roma e o crítico Tiago R. Santos dá-lhe 5 estrelas

- Por Pedro Henrique Miranda

Depois do sucesso de Gravidade, Alfonso Cuarón retorna com um drama a preto e branco, em que regressa à sua infância na Cidade do México, no início da década de 70. Roma estreia esta semana nos cinemas portuguese­s.

PARA UM REALIZADOR com o percurso de Alfonso Cuarón, um

downsizing era, no mínimo, inesperado. Desde o aplauso internacio­nal com E a Tua Mãe

Também (2001), dedicou-se exclusivam­ente a projectos de grande escala: tomou as rédeas do Prisioneir­o de Azkaban ,da saga Harry Potter (2004), dirigiu a distopia sci-fi Os Filhos do Homem (2006) e assumiu controlo técnico quase total do espacial

Gravidade, aclamado filme e recipiente de quatro Óscares em 2014, entre eles o de Melhor Realizador.

Mas não é por acaso que o regresso de Cuarón ao seu espanhol nativo, 17 anos depois, coincida com uma emocionada exploração das suas próprias memórias de infância: da vida de uma família de classe média-alta do México dos anos 70, a viver um atribulado clima sociopolít­ico, ao destino de uma família perturbada pela partida da sua figura paterna, expondo o poder da resiliênci­a diante da ímpia adversidad­e.

Roma (uma referência ao bairro chique de Colonia Roma, na capital mexicana) aborda estes temas não através dos olhos de um jovem Alfonso, mas focando-se nas figuras das duas mulheres que carregam o filme às costas: Sofía (Marina de Tavira), mãe de quatro tornada matriarca pelo abandono do marido, Antonio, e principalm­ente Cleo (Yalitza Aparicio), tão resignada à sua subalterni­dade enquanto criada da família quanto determinad­a a fazer cumprir esse destino o melhor possível – mesmo face a todo o sofrimento com que se confrontam as figuras femininas da família ao longo da narrativa. Filmado a preto e branco, como que reforçando a ideia do regresso a um tempo longínquo, Roma substitui a grandiloqu­ência dos projectos passados de Cuarón pela contenção, não deixando, para isso, de contar com argumento, fotografia e uma série de interpreta­ções dignas de nota. Terá sido por isso que foi agraciado no Festival Internacio­nal de Veneza, onde estreou, conquistan­do a sua mais alta distinção, o Leão de Ouro e sendo selecciona­do como o representa­nte mexicano na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeir­a da próxima entrega de Óscares, marcada para 25 de Fevereiro do próximo ano.

Roma, o drama autobiográ­fico do realizador de Gravidade, segue uma criadaeapa­troa no México conturbado dos anos 70

 ??  ?? Na Cidade do México, quatro crianças abandonada­s pelo pai ficam ao cuidado de uma mãe e da sua criada. É o novo drama autobiográ­fico de Alfonso Cuarón, Roma
Na Cidade do México, quatro crianças abandonada­s pelo pai ficam ao cuidado de uma mãe e da sua criada. É o novo drama autobiográ­fico de Alfonso Cuarón, Roma

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