A nova obra de Murakami –e a lembrança da corrida ao Nobel
Música, sexo e um artista que tem de pintar o retrato de um ser sem cara – Haruki Murakami editou novo livro, para lembrar que continua na corrida ao Nobel.
HARUKI MURAKAMI percebe, como poucos autores, o conceito de ritmo. Mais do que escrever histórias elaboradas e surpreendentes, o escritor japonês dá primazia a um tipo de escrita em que a velocidade não se altera. A Morte do
Comendador, o seu novo livro, não é excepção.
Na nova obra do eterno candidato ao Nobel da Literatura – convenientemente editada perto do Natal e com um segundo volume já anunciado –, o escritor japonês conta a história de um homem nos seus 30 que decide isolar-se numa casa na floresta, depois de se separar da mulher, como um samurai a retirar-se depois da batalha. Nessa casa, o narrador cujo nome nunca é referido encontra um quadro altamente violento, inspirado na ópera Don Giovani, de Mozart, intitulado A Morte do Comendador. A obra tem todos os elementos aos quais Murakami habituou os seus leitores: a presença constante de música clássica ou jazz, folclore nipónico, uma fixação por seios femininos, uma longa lista de práticas sexuais, um homem inspirado em
O Grande Gatsby, uma personagem de meia-idade, com uma crise identitária, e um mistério extraterrreno. Neste A
Morte do Comendador ,éosino que toca a meio da noite e o homem sem rosto que quer um retrato que dão o detalhe sobrenatural à obra. Contudo, se Murakami tem um estilo tão linear, o que o leva a ser um dos mais conceituados autores da actualidade? É a naturalidade com que cada personagem encara o sobrenatural. Não há sobressaltos, nem mudanças de velocidade. A aparição de um ser sem cara tem o mesmo ritmo que o acto de estrelar um ovo.
Foi este ritmo – e esta receita, no fundo – que ao longo dos anos o tem colocado nas listas de apostas para o Prémio Nobel da Literatura. Em 2019 não será diferente.