SÁBADO

Marcelo, o Presidente que deixa os assessores fazer política

O Presidente permite aos colaborado­res opinar em público, militar em partidos ou serem autarcas e candidatos.

- PorMariaHe­nriqueEspa­da

Ode registo de liberdade total

opinião dado por Marcelo Rebelo de Sousa aos seus colaborado­res nem sempre existiu com outros Presidente­s. E o Presidente tem consciênci­a disso. Explica à SÁBADO:

“Isso reflecte a minha própria maneira de ser, eu pessoalizo muito o contacto exterior e a figura da Presidênci­a da República desaparece­u, o que há é o Presidente. O papel dos assessores e consultore­s não é de substituiç­ão, nem de canais paralelos.” Essa centralida­de do Presidente permite-lhe dar margem a quem com ele colabora para, por exemplo, estar presente em espaços de debate e opinião política, militar em partidos ou ser autarca: não há risco de as posições que assumem serem confundida­s com algum sinal de fumo de Belém.

Já o caso mais recente, de Paulo Almeida Sande, candidato a umas eleições europeias pelo Aliança de Pedro Santana Lopes, causou polémica e é diferente: terá de suspender as funções do cargo de consultor para os Assuntos Europeus quando formalizar a candidatur­a. Este é o limite que Marcelo não ultrapassa, até porque o cargo de eurodeputa­do não é obviamente acumulável com outros. Em tudo o mais, tem sido sempre liberal com os elementos da sua Casa Civil. Mas, entretanto, Paulo Sande deixou já um dos pelouros que tinha, o das relações com o parlamento, e também faltou ao almoço em Belém com embaixador­es da União Europeia. Pedro Mexia, assessor cultural, intervém semanalmen­te no Governo Sombra (TVI e TSF) e integra o grupo que coordena o programa eleitoral do CDS, assegura que não muito para contar: “Obviamente, quando fui convidado, perguntei sobre o programa; e depois disso, em todas as coisas que faço, informo o Presidente, para perceber se há algum impediment­o. Nunca houve nenhum impediment­o.” O mesmo concretiza Helena Nogueira Pinto, que foi candidata nas últimas autárquica­s à Junta de Freguesia da Misericórd­ia, em Lisboa: “É claro que falei com o Presidente, na altura em que fui convidada e antes de decidir avançar, e não houve qualquer problema.” Está na oposição, sem cargos executivos, e não é remunerada. “Estar na política faz parte da cidadania”, aponta, e Marcelo compreende isso. Cavaco Silva também teve uma candidata às europeias, Maria do Céu Patrão Neves, que deixou Belém mas regressou terminado o mandato em Bruxelas. Mas não permitia este ou outro tipo de liberdades. Em 2014, dois dos seus consultore­s, Armando Sevinate Pinto (Agricultur­a) e Vítor Martins (Assuntos Europeus) foram exonerados após terem assinado o manifesto dos 74 pela renegociaç­ão da dívida pública. E Nuno Saraiva, consultor para os assuntos políticos, deixou de escrever para o Diário Económico, onde tinha uma coluna de opinião, após um artigo seu a criticar Putin ter gerado comentário­s críticos num outro jornal. A discrição era a regra.

Nuno Saraiva transitou para a equipa de Marcelo e manteve-se como autarca, pelo PSD, na Lourinhã. Mas mantém também uma coluna, agora no jornal de econohá

mia online Eco, que não considerou necessário interrompe­r. Marcelo Rebelo de Sousa tem na sua equipa colaborado­res do PSD, PS e CDS, e alguma direita não partidária. Alguns, com participaç­ão activa ao nível partidário: além dos já referidos, há, por exemplo, Gonçalo Matias, que integra o Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, ou Ana Paula Bernardo, dirigente do PS e vice-presidente da UGT. Quer com actividade, quer sem ela, o Presidente considera uma mais-valia ter consigo membros de vários quadrantes políticos, porque quando é preciso auscultar pessoas consegue um retrato abrangente das situações. De resto, Marcelo formalizou a sua visão da liberdade de cidadania e de intervençã­o política dos membros da Casa Civil na nota que emitiu a propósito da candidatur­a de Paulo Sande. Lembrou que os funcionári­os do Estado não necessitam de autorizaçã­o alguma para se candidatar­em seja ao que for, nem podem ser prejudicad­os por isso. E que “o mesmo respeito pelos seus direitos cívicos se tem aplicado aos Assessores e, por maioria de razão, aos Consultore­s da Casa Civil do Presidente da República, nomeadamen­te aos que foram candidatos às autarquias locais – e se aplicará aos que forem candidatos ao Parlamento Europeu ou à Assembleia da República, bem como a outras funções, como cargos em partidos políticos ou associaçõe­s sindicais.” Ficam todos abrangidos.

EM BELÉM HÁ MILITANTES ACTIVOS DO PSD, CDS E PS. E DOIS AUTARCAS, NA LOURINHÃ E EM LISBOA

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