SÁBADO

Há uma nova profissão: coordenado­r de cenas íntimas

Depois dos abusos sexuais de Harvey Weinstein, as produtoras americanas criaram uma nova profissão: fiscalizar cenas de sexo.

- Por Vanda Marques

Oargumento é simples: se existe um coordenado­r de lutas, para preparar os actores para fazerem as cenas violentas sem se magoarem, deve existir um para dirigir as cenas de sexo, de forma a evitar abusos ou situações desconfort­áveis. Nos Estados Unidos já existe uma nova profissão para tratar disto: coordenado­r de intimidade. A produtora HBO – conhecida por séries como Guerra dos Tronos ou Os Sopranos – diz que nunca será filmada nenhuma cena íntima sem um destes técnicos presentes. O coordenado­r vai discutir com actores e realizador­es a melhor forma de gravarem a cena. E tudo começou com a série The Deuce. Passada nos anos 70, no Bronx, acompanha a vida de prostituta­s. A actriz Emily Meade, que interpreta Lori (uma actriz porno), sentiu-se desconfort­ável com tanto sexo e foi falar com os executivos da HBO para terem no plateau uma pessoa atenta a estas situações. Agora, enquanto Emily grava uma cena de sexo oral com um vibrador, está lá a coordenado­ra, Alicia Rodis. É ela que lhe dá uma almofada para os joelhos, que lhe leva spray para a boca e até um lubrifican­te com sabor. “Criar arte é desconfort­ável, e estou lá para garantir que é seguro”, disse ao The Guardian.

Depois do escândalo de Harvey Weinstein – o produtor de Hollywood acusado de assediar e violar actrizes – e do cresciment­o do movimento MeToo, os estúdios estão preocupado­s com as acusações de assédio. Para evitar abusos, os coordenado­res de intimidade estão lá para vigiar e para fazerem ensaios antes da gravação. A coordenado­ra Amanda Blumenthal, que trabalha na série Euphoria, da HBO, explica à

SÁBADO que a sua presença “permite que os actores tenham fronteiras, porque existe uma relação de poder entre actores e realizador­es, já que eles podem despedi-los”. E vai mais longe: “Por vezes, os actores sentem-se pressionad­os a fazer algo que não querem, só para manterem o seu emprego. Eu estou lá para interrompe­r essa dinâmica de poder.”

“São todos uns puritanos”

Em Portugal isto não acontece e segundo a actriz São José Correia e o realizador Vicente do Ó nem é necessário. “Essa profissão já existe e chama-se director de actores. Tudo o que é filmado, é decidido com os actores. Até está em contrato se mostram o corpo ou não, por isso acho essa profissão um disparate”, diz à SÁBADO o realizador de Os Imortais e Florbela. Vicente do Ó dá o exemplo de que quando se gravam cenas com nudez há o cuidado de estarem menos pessoas no plateau. E São José Correia reforça essa ideia. “Nunca estive numa situação em que precisasse de uma coordenado­ra. Tudo é falado com o realizador e com os colegas, com quem vamos filmar.” A actriz desabafa: “Os americanos são uns puritanos.”

Já o realizador acredita que essa profissão só vai causar confusão. “Vai ser um estorvo na rodagem, porque para justificar a sua presença vai criar problemas para ser ela a resolvê-los.” E acrescenta: “Isso não vai chegar à Europa e os franceses até se vão rir disso.”

“POR VEZES, OS ACTORES SENTEM-SE PRESSIONAD­OS A FAZER ALGO QUE NÃO QUEREM”

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Os coordenado­res de intimidade treinam com os actores as cenas de sexo e tentam perceber até onde se sentem confortáve­is
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