SÁBADO

CABARÉ NO BUNKER E A GUERRA LÁ FORA

De uma assentada, Sara Carinhas quis encontrar a sua linguagem artística e falar seriamente da questão dos refugiados. Juntou gente de áreas díspares e criou Limbo, que estreia dia 15 em Lisboa.

- Por Rita Bertrand

O título – Limbo – “abriu muitas portas, para lá das migrações, levando-nos para outros limbos, como o sonho, a mentira ou a música”

A GÉNESE do espetáculo está no interior de Sara Carinhas, a sua criadora. “Em 2015 fui à Grécia para conhecer melhor a vida dos refugiados e a experiênci­a marcou-me imenso, mudou-me por dentro, e senti necessidad­e de levar o assunto à cena e tratá-lo seriamente, como um alerta que chama a atenção e impede de fingir que nada daquilo está a acontecer”, conta à SÁBADO. De 2015 até hoje, ainda sem saber bem para onde Limbo ia mas já com título – “que abriu muitas portas, para lá das migrações, levando-nos para outros limbos, como o sonho, a mentira ou a música” –, Sara chamou ao projeto artistas de uma geração contígua à sua, para ter “um olhar idêntico para esta realidade e o futuro”, mas de diferentes áreas e proveniênc­ias, “porque senão seriam só brancos de 20 e tal anos e escolas artísticas semelhante­s, o que seria menos interessan­te”. Assim, em vez de fazer como na sua anterior (e única) encenação, As Ondas, onde reuniu atores de que gostava, sem ligar a idades ou estilos, em Limbo juntou portuguese­s e estrangeir­os dos 19 aos 36 anos com quem nunca tinha trabalhado, apesar de ter empatizado com eles há muito: António Bollaño, Carolina Amaral, Filomena Cautela, Marco Nanetti, Nádia Yracema e Pierre Ensergueix, que trazem pequenas histórias pessoais à Voz do Operário (na R. Voz do Operário, em Lisboa), espaço não convencion­al onde se apresenta de 15 a 22 de janeiro, diariament­e às 21h (bilhetes a €12). Limbo é, pois, um espetáculo “fragmentad­o e aberto”, auto-referencia­l porque feito de memórias dos seus criadores e em que à noção “dos problemas dos refugiados, a viver num limbo, para lá de leis, papéis e passaporte­s, que não se vê no telejornal, se une um desfile de variedades, com danças, canções e citações de filmes (de documentár­ios de guerra, crus, a As Asas do Desejo, All That Jazz ou A Escolha de Sofia), numa recriação de um cabaré dos anos 30, num bunker, enquanto o perigo continua lá fora, latente. W

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Em cena estão Marco Nanetti, Nádia Yracema, António Bollaño, Filomena Cautela, Pierre Ensergueix e Carolina Amaral

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