AS FAMÍLIAS DO CRIME
O crime é visto como uma empresa familiar. Conheça as burlas dos irmãos Ferreira, dos Dias Garcia e dos Corrécios
Os irmãos Ferreira trocaram os móveis pelos assaltos. Os Dias Garcia burlaram dezenas de pessoas em mais de 2 milhões de euros. Os Corrécios de Braga ainda são o apelido mais temido na cidade e os irmãos Pinto passaram a vida a fugir à polícia. Conheça algumas das famílias portuguesas fora-da-lei.
As burlas milionárias dos Dias Garcia
Já passava da meia-noite quando o BMW Série 5 estacionou junto ao estádio do SC Braga. Com a mulher grávida de oito meses, Nelson tinha marcado um encontro com um potencial comprador do seu carro. Recebera dias antes um telefonema do “Sr. Silva”, a oferecer-lhe os 13 mil euros que pedia pelo negócio. Apesar dos contornos suspeitos da proposta, o casal aceitou encontrar-se a horas tardias, não com o “Sr. Silva”, que tivera um imprevisto de última hora, mas com a filha deste e com o namorado. Minutos depois o proprietário estava a entregar-lhes a chave do carro e a meter ao bolso um cheque roubado.
A “filha do Sr. Silva” e o companheiro eram na verdade dois elementos de um grupo de 47 pessoas, quase todas da mesma família, responsáveis por dezenas de burlas em todo o País. Durante cerca de dois anos, entre meados de 2013 e outubro de 2015, os Dias Garcia viveram do crime como se fosse uma empresa familiar. O esquema envolvia o clã inteiro: pai, mãe, filhos, noras, genros e até alguns amigos. As vítimas eram proprietários de carros de gama alta, colocados à venda em lojas online e sites de leilões. Por vezes eram as mulheres que davam a cara nos encontros, enquanto os homens faziam o trabalho sujo. “Havia quem roubasse cheques, outros tratavam de comprar documentos pessoais a toxicodependentes para serem falsificados e usados nos depósitos bancários”, conta à SÁBADO fonte ligada ao processo judicial.
Naquela noite de Julho de 2014, Rita L., mulher de um dos filhos dos Dias Garcia, foi quem entregou o cheque roubado ao dono do BMW. Assinou ainda uma declaração de compra e forneceu fotocópias da identificação do “pai”. Nelson nunca chegou a conhecer a identidade do “Sr. Silva” – a história acaba no dia seguinte quando foi ao banco e percebeu que tinha sido enganado –, mas tudo indica que o primeiro telefonema terá sido feito por um homem conhecido na família criminosa como Tio João.
O Tio João tem 64 anos, chama-se Rafael Gama, e é um velho conhecido das autoridades. Foi ele que identificou o negócio do BMW Série 5 no OLX – juntamente com um dos filhos, conhecido por Quicas – e era ele quem liderava o grupo cujos elementos tinham como alcunhas Scooby, Pote, Camp, Torto, Bocas, Ouriço entre muitas outras. Havia um núcleo duro de sete elementos, de que faziam parte o patriarca, dois dos seus filhos, o ex-companheiro de uma filha, mas o caso chegou a tribunal com 43 arguidos, unidos por laços familiares.
Usavam telefones com cartões pré-pagos e eram cuidadosos quando falavam entre si: usavam expressões como “verdon” para
O GANGUE DOS DIAS GARCIA TINHA 47 PESSOAS, QUASE TODAS DA MESMA FAMÍLIA, E FIZERAM DEZENAS DE BURLAS