SÁBADO

AS FAMÍLIAS DO CRIME

- Por AndréRito

O crime é visto como uma empresa familiar. Conheça as burlas dos irmãos Ferreira, dos Dias Garcia e dos Corrécios

Os irmãos Ferreira trocaram os móveis pelos assaltos. Os Dias Garcia burlaram dezenas de pessoas em mais de 2 milhões de euros. Os Corrécios de Braga ainda são o apelido mais temido na cidade e os irmãos Pinto passaram a vida a fugir à polícia. Conheça algumas das famílias portuguesa­s fora-da-lei.

As burlas milionária­s dos Dias Garcia

Já passava da meia-noite quando o BMW Série 5 estacionou junto ao estádio do SC Braga. Com a mulher grávida de oito meses, Nelson tinha marcado um encontro com um potencial comprador do seu carro. Recebera dias antes um telefonema do “Sr. Silva”, a oferecer-lhe os 13 mil euros que pedia pelo negócio. Apesar dos contornos suspeitos da proposta, o casal aceitou encontrar-se a horas tardias, não com o “Sr. Silva”, que tivera um imprevisto de última hora, mas com a filha deste e com o namorado. Minutos depois o proprietár­io estava a entregar-lhes a chave do carro e a meter ao bolso um cheque roubado.

A “filha do Sr. Silva” e o companheir­o eram na verdade dois elementos de um grupo de 47 pessoas, quase todas da mesma família, responsáve­is por dezenas de burlas em todo o País. Durante cerca de dois anos, entre meados de 2013 e outubro de 2015, os Dias Garcia viveram do crime como se fosse uma empresa familiar. O esquema envolvia o clã inteiro: pai, mãe, filhos, noras, genros e até alguns amigos. As vítimas eram proprietár­ios de carros de gama alta, colocados à venda em lojas online e sites de leilões. Por vezes eram as mulheres que davam a cara nos encontros, enquanto os homens faziam o trabalho sujo. “Havia quem roubasse cheques, outros tratavam de comprar documentos pessoais a toxicodepe­ndentes para serem falsificad­os e usados nos depósitos bancários”, conta à SÁBADO fonte ligada ao processo judicial.

Naquela noite de Julho de 2014, Rita L., mulher de um dos filhos dos Dias Garcia, foi quem entregou o cheque roubado ao dono do BMW. Assinou ainda uma declaração de compra e forneceu fotocópias da identifica­ção do “pai”. Nelson nunca chegou a conhecer a identidade do “Sr. Silva” – a história acaba no dia seguinte quando foi ao banco e percebeu que tinha sido enganado –, mas tudo indica que o primeiro telefonema terá sido feito por um homem conhecido na família criminosa como Tio João.

O Tio João tem 64 anos, chama-se Rafael Gama, e é um velho conhecido das autoridade­s. Foi ele que identifico­u o negócio do BMW Série 5 no OLX – juntamente com um dos filhos, conhecido por Quicas – e era ele quem liderava o grupo cujos elementos tinham como alcunhas Scooby, Pote, Camp, Torto, Bocas, Ouriço entre muitas outras. Havia um núcleo duro de sete elementos, de que faziam parte o patriarca, dois dos seus filhos, o ex-companheir­o de uma filha, mas o caso chegou a tribunal com 43 arguidos, unidos por laços familiares.

Usavam telefones com cartões pré-pagos e eram cuidadosos quando falavam entre si: usavam expressões como “verdon” para

O GANGUE DOS DIAS GARCIA TINHA 47 PESSOAS, QUASE TODAS DA MESMA FAMÍLIA, E FIZERAM DEZENAS DE BURLAS

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