SÁBADO

ROTAS VICENTINAS NO INVERNO

Diga adeus ao carro e ao trânsito. Troque os sapatos do dia a dia por ténis de caminhada. Aventure-se e descubra uma das zonas mais bonitas do País. Nesta região há de tudo: praia, percursos pedestres e de bicicleta, gastronomi­a e a possibilid­ade de relax

- Por Núria Mateus

“Aqui o tempo pára”, diz-se no Touril. Agora sem multidões, um passeio tranquilo pelo Sudoeste Alentejano

O SUDOESTE Alentejano é feito de silêncio. São 110 os quilómetro­s que compõem o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e a história da região é antiga e resulta das várias influência­s ali deixadas. Dos Celtas aos Mouros, todos tiveram a sua parte na configuraç­ão das povoações alentejana­s. Mas o Sudoeste Alentejano é também feito de mar. A atividade piscatória é fundamenta­l para os habitantes e ainda hoje é possível ver pescadores com as suas canas, baldes e fiéis amigos de quatro patas no alto das falésias testando a sorte e pedindo ao mar que lhes traga o rendimento. Por contraste, nas zonas mais interiores predomina a agricultur­a e a pecuária. O cultivo de cereais e as paisagens onde os animais vivem ao compasso da calma alentejana representa­m o típico cenário onde o tempo parece abrandar e os dias parecem ter mais de 24 horas. Entre o stress de Lisboa e as famosas praias do Algarve, a costa alentejana parece uma região tirada de outro país. A verdade é que podemos não sair de Portugal no sentido geográfico do termo mas ao chegar ao coração do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina sentimo-nos como se o tivéssemos feito.

TOURIL: ONDE O TEMPO PARA

À entrada, junto ao balcão da receção estão quatro relógios. Marcam as horas de quatro locais no globo: Nova Iorque, Sidney, Hong Kong e Herdade do Touril. Um deles está para-

A quatro quilómetro­s da Zambujeira fica um dos primeiros espaços de turismo rural do Sudoeste Alentejano – em 2019 tem novidades

do. Estará avariado? Luís Leote Falcão, proprietár­io da herdade, explica que não: “Nós dizemos sempre aos hóspedes que assim que entram no Touril o tempo para.”

A quatro quilómetro­s da Zambujeira do Mar, no concelho de Odemira, a Herdade do Touril tem 365 hectares e foi um dos primeiros espaços de turismo rural no Sudoeste Alentejano (abriu há 15 anos). Luís Leote Falcão explica que estava na altura de “voltar a inovar e a mostrar a marca Touril. Tentámos mudar, sem mudar muita coisa, pois os clientes que temos são fiéis. Para esta remodelaçã­o foi-se buscar muito da história do Touril e do Alentejo”. As novidades notam-se sobretudo ao nível dos 18 quartos com terraço, onde houve uma remodelaçã­o da decoração e também da renovação das suítes, dos T1 e dos T2. As fachadas inspiradas nas típicas casas brancas alentejana­s e as cores exteriores e interiores centram-se no respeito pela tradição alentejana – há amarelos, azuis e verdes, pela proximidad­e marítima. As inovações não ficam, contudo, por aqui. A piscina de água salgada passou a ser aquecida e foi construída uma área de contemplaç­ão exterior onde dois bancos em pedra rodeiam uma lareira. Esta nova zona é usada pelos hóspedes à noite para admirar as estrelas e apreciar a herdade.

Também a parte da restauraçã­o sofreu alterações. Fruto de uma parceria com o restaurant­e Tasca do Celso, a Herdade do Touril tem agora disponível para os hóspedes uma nova carta no bar da piscina, que inclui iguarias como camarão ao alhinho (€17,50), o pica-pau de porco preto (€11,50) e a salada de polvo (€12,50).

Luís Leote Falcão refere que o que os motiva é “a satisfação dos hóspedes. Mas nós também precisamos de acreditar naquilo que vendemos. Para mim essa é a diferença entre um negócio e uma paixão”. O proprietár­io salienta também que “o facto de ter aparecido a Rota Vicentina foi o melhor que aconteceu, pois foi uma forma de dinamizaçã­o da região e trouxe mais turistas”.

Em alternativ­a aos percursos da Rota Vicentina, a Herdade do Touril, em pleno Trilho dos Pescadores, oferece quatro propostas para realizar a pé ou de bicicleta (pode alugar vários tipos de bicicletas na herdade): o percurso entre a Praia do Almograve e o Touril, o percurso entre a aldeia do Cavaleiro e o

Sejampercu­rsos maislongos­ou maiscurtos,os trilhosdac­osta vicentinas­ão bonspassei­os– permitem conhecer a regiãoeest­ão sinalizado­spara nãoseperde­r

Touril, o percurso entre o Touril e a Praia de Odeceixe e o percurso entre o Touril e a Azenha do Mar.

OS TRILHOS PREMIADOS

São três os percursos disponívei­s. Ao todo, a Rota Vicentina permite caminhar ou pedalar ao longo de 450 quilómetro­s de terra e mar. Os trilhos têm diferentes graus de dificuldad­e, diferentes obstáculos, diferentes caminhos e paisagens. Uma história diferente a cada passo. A maioria dos aventureir­os são estrangeir­os: desejosos de conhecer verdadeira­mente uma parte do País tão tipicament­e portuguesa.

O trilho mais percorrido é o dos Caminhos Históricos, que foi premiado em 2016 pela European Ramblers Associatio­n como um dos melhores destinos de caminhada na Europa. Este percurso de 230 quilómetro­s passa por aldeias e vilas históricas como Porto Covo, Odemira, Odeceixe, Aljezur, entre outras, e termina no Cabo de São Vicente. Outra alternativ­a é o Trilho dos Pescadores com 125 km. Este percurso apenas pode ser percorrido a pé e envolve os caminhos que os pescadores usam diariament­e. É um desafio à resistênci­a, uma vez que é feito no alto de falésias com uma exposição constante ao vento. Permite observar a natureza no seu estado mais belo, pois é possível descobrir praias escondidas e admirar os ninhos que as cegonhas constroem ao longo de toda a costa. O Trilho dos Pescadores começa em Porto Covo, passa por Vila Nova de Mil Fontes, Almograve, Zambujeira do Mar e termina em Odeceixe. A terceira opção são os oito Percursos Circulares, feitos para realizar em apenas meio dia. Começam numa localidade e terminam nesse mesmo sítio. Englobam, por exemplo, passeios às Dunas do Almograve, à Praia de Odeceixe e aos Cerros da Carrapatei­ra. Seja para percursos mais longos ou para percursos curtos, todos os trilhos estão sinalizado­s para que seja sempre indicado o caminho a percorrer. Ao longo do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina estão disponívei­s vários alojamento­s, como a Herdade do Touril, que possibilit­am aos viajantes descansar e recuperar as forças antes da jornada seguinte.

TONEL, AMÁLIA E ALMOGRAVE

Frequentem­ente, há dois tipos de maneiras de encarar a praia: para uns é sinónimo de verão, de férias, de ir a banhos e de estar sentado na areia à espera de um bronze que dure pelo menos até ao regresso ao trabalho; para outros, a praia é sinónimo de aventura e diversão ou de trabalho. Mas há, pelo menos, mais uma maneira de encarar o extenso areal banhado pelo mar: como lugar de contemplaç­ão. Começando exatamente por essa caracterís­tica, a praia do Almograve é o sítio ideal para o fim de tarde perfeito. O Bar da Praia by Casas Brancas é o spot perfeito para tomar uma bebida e ver

A gastronomi­a alentejana é outro dos motivos para visitar a região em qualquer altura do ano – não deixe de conhecer A Barca Tranquitan­as e a Tasca do Celso

o pôr do sol no oceano. As fotos não precisarão de filtros ou retoques.

Num registo diferente, a praia do Tonel é perfeita para quem deseja um dia calmo longe do mundo. E este paraíso não é sossegado por ser desconheci­do dos veraneante­s. É apenas porque são poucos os corajosos que enfrentam a descida de uma ravina utilizando apenas uma corda como auxiliar. Com um grau de dificuldad­e ligeiramen­te mais acessível, encontramo­s ainda na costa alentejana a praia da Amália. Perto da casa da fadista Amália Rodrigues e sinalizada por uma flor amarela, esta praia é também um local muito apetecível para descansar devido à sua posição estratégic­a entre rochas que abrigam este oásis do vento.

A GASTRONOMI­A ALENTEJANA

Não é por acaso que quem visita Portugal fica fascinado com a gastronomi­a. Cada região do País tem os seus pratos típicos, as suas formas de confeção e os seus produtos regionais. No litoral do Alentejo são reis: o marisco, o peixe, o polvo e também a carne.

O restaurant­e A Barca Tranquitan­as, que fica junto à Entrada da Barca e a três quilómetro­s da Zambujeira do Mar, é paragem obrigatóri­a para quem visita a zona. Aqui, a especialid­ade da casa são os chocos à Barca, numa reinterpre­tação marítima do típico prato alentejano e os filetes de pampo.

Em Vila Nova de Mil Fontes, o destaque vai para a Tasca do Celso (não, o dono não se chama Celso): o proprietár­io, José Ramos Cardoso, quis prestar uma homenagem ao pai e também à sua juventude, quando jogava futebol e o apelidavam de “Celso”. O restaurant­e tem o típico ambiente alentejano. Uma das salas tem uma extensa garrafeira e todos os pratos têm três tipos de siglas para os descrever: CA, confeção alentejana, TA, tipicament­e alentejano e PA, produto alentejano. Resumindo, toda a carta demonstra o carinho do dono pela região. As propostas são muitas e boas, mas as recomendaç­ões das entradas vão para as amêijoas à Bulhão Pato (€19,50), para a salada de queijo fresco (€7,50), o pica-pau de porco-preto (€8,50) e as tostas com presunto (€10,50).

Como pratos principais, a carne é a estrela da ementa. À tradiciona­l carne de porco à alentejana (€16,50) juntam-se também os lagartinho­s de porco-preto (€16,50) e o cabrito com batatas assadas. Para terminar a refeição, há mousse de lima com manjericão, cheesecake de framboesa e o tradiciona­l pudim de ovos. Assim, o Sudoeste Alentejano também é feito de gastronomi­a. Numa altura do ano em que o tempo está frio, um bom restaurant­e e um bom hotel a que regressar farão esquecê-lo do verão.

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 ??  ?? A Pedra da Bica, na Zambujeira do Mar, tem um passadiço que o pode levar a ver o mar de perto (mas com cuidado)
A Pedra da Bica, na Zambujeira do Mar, tem um passadiço que o pode levar a ver o mar de perto (mas com cuidado)
 ??  ?? Porto Covo é um dos pontos do Trilho dos Pescadores, que passa por Vila Nova de Mil Fontes, Almograve, Zambujeira do Mar e termina em Odeceixe
Porto Covo é um dos pontos do Trilho dos Pescadores, que passa por Vila Nova de Mil Fontes, Almograve, Zambujeira do Mar e termina em Odeceixe
 ??  ?? A tranquilid­ade da região chega-nos pelos sons dos animais e das ondas, pelo cheiro a terra molhada e pela luz da Lua que parece brilhar mais quando estamos perdidos no campo
A tranquilid­ade da região chega-nos pelos sons dos animais e das ondas, pelo cheiro a terra molhada e pela luz da Lua que parece brilhar mais quando estamos perdidos no campo
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 ??  ?? A partir da Herdade pode visitar praias secretas, caminhar por percursos da Rota Vicentina e pôr à prova as habilidade­s de ciclista
A partir da Herdade pode visitar praias secretas, caminhar por percursos da Rota Vicentina e pôr à prova as habilidade­s de ciclista
 ??  ?? A Tasca do Celso é um dos restaurant­es mais conhecidos da costa alentejana – tem agora uma parceria com a Herdade do Touril
A Tasca do Celso é um dos restaurant­es mais conhecidos da costa alentejana – tem agora uma parceria com a Herdade do Touril
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 ??  ?? Em toda a costa, mas em especial na Zambujeira do Mar, encontrará passeios a cavalo (procure informação junto do turismo rural)
Em toda a costa, mas em especial na Zambujeira do Mar, encontrará passeios a cavalo (procure informação junto do turismo rural)
 ??  ?? No verão, a Herdade do Touril abre o bar da piscina para servir sumos e pequenas refeições – no inverno este é um canto ótimo para ler
No verão, a Herdade do Touril abre o bar da piscina para servir sumos e pequenas refeições – no inverno este é um canto ótimo para ler
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