UM REGRESSO ÀS RAÍZES
THE PROPHET SPEAKS
Quando se ouve Van Morrison pela primeira vez é difícil acreditar que se trata de um homem branco, de origem protestante, com raízes escocesas e oriundo da Irlanda do Norte. Depois de se associar um rosto à voz, o estranho torna-se normal, ainda que, como disse o crítico Greil Marcus, não haja nenhum homem branco que cante como Van Morrison. E se atentarmos à miríade de cantores que reconhecem a influência e o impacto que o cantor teve na sua carreira (de Jim Morrison a Bruce Springsteen), é fácil perceber que Van Morrison é um dos mais importantes nomes da música da segunda metade do século XX.
The Prophet Speaks ,o40º álbum da sua carreira, é um regresso às raízes, um tributo aos mestres do R&B, além de
ser um exercício de liberdade. Aos 73 anos, Morrison já nada tem a provar e isso nota-se neste disco que integra oito versões (de John Lee Hooker, Sam Cooke, Solomon Burke ou Willie Dixon) e seis originais, sem que, no entanto, se consiga traçar uma verdadeira fronteira entre as canções da autoria de Morrison e os respetivos tributos. Nesse sentido, é também um disco de blues simples e homogéneo.
The Prophet Speaks não tem a pretensão de incluir ou revelar canções como Gloria. Pelo contrário, é um exercício de maturidade e diversão por parte de Van Morrison. É o seu regresso às raízes, de forma descontraída e desafetada, mantendo a sua interpretação vocal distintiva. Ao contrário de Bob Dylan, por exemplo, Van Morrison, depois dos 70 anos, não tem procurado adaptar-se a estilos que lhe sejam estranhos – ou até bizarros – mas, tão-só, tocar música ao seu melhor estilo e divertir-se no processo.