FAMA, VERSÃO 2.1
k Brady Corbet, ator, 30 anos, dirigiu um dos melhores filmes de estreia da década, A
Infância de Um Líder, hipótese luxuriante sobre as origens do fascismo. Vox Lux busca o mesmo percurso rumo à alienação, a génese de um monstro em crise civilizacional – antes, sobre as ruínas da Primeira Grande Guerra, agora na cultura faustiana da fama –, mas o olhar transferiu-se para a sátira.
Celeste (Raffey Cassidy), de 14 anos, é a única sobrevivente de um massacre liceal em 1999, ao estilo de Columbine; na cerimónia fúnebre, interpreta um tema original que a lança para o estrelato, em luto e perda de pureza que se intensificará no 11 de setembro. Em 2017, Celeste (uma vulcânica Natalie Portman) está transformada em diva pop e, ao estilo de Britney Spears, precisa de reinventar a carreira após flirts excessivos com o escândalo. Da inocência para o risco de obsolescência – a fama suga tudo –, um novo ato terrorista precipitará o pacto diabólico, com
tournée de epicentro na cidade natal da estrela. A facilidade das hipóteses psicanalíticas ameaçava A
Infância de Um Líder, mas Corbet conseguia esquivarse dela com inteligência e um controlo imperial, kubrickiano, do estilo. Desta vez, a sátira da celebridade fica encostada à paródia, e Vox Lux acaba por não se decidir sobre o que dizer: Celeste fica num impasse, Brady Corbet também. Só o cinismo não chega.