SÁBADO

FAMA, VERSÃO 2.1

- PEDRO MARTA SANTOS CRÍTICO

k Brady Corbet, ator, 30 anos, dirigiu um dos melhores filmes de estreia da década, A

Infância de Um Líder, hipótese luxuriante sobre as origens do fascismo. Vox Lux busca o mesmo percurso rumo à alienação, a génese de um monstro em crise civilizaci­onal – antes, sobre as ruínas da Primeira Grande Guerra, agora na cultura faustiana da fama –, mas o olhar transferiu-se para a sátira.

Celeste (Raffey Cassidy), de 14 anos, é a única sobreviven­te de um massacre liceal em 1999, ao estilo de Columbine; na cerimónia fúnebre, interpreta um tema original que a lança para o estrelato, em luto e perda de pureza que se intensific­ará no 11 de setembro. Em 2017, Celeste (uma vulcânica Natalie Portman) está transforma­da em diva pop e, ao estilo de Britney Spears, precisa de reinventar a carreira após flirts excessivos com o escândalo. Da inocência para o risco de obsolescên­cia – a fama suga tudo –, um novo ato terrorista precipitar­á o pacto diabólico, com

tournée de epicentro na cidade natal da estrela. A facilidade das hipóteses psicanalít­icas ameaçava A

Infância de Um Líder, mas Corbet conseguia esquivarse dela com inteligênc­ia e um controlo imperial, kubrickian­o, do estilo. Desta vez, a sátira da celebridad­e fica encostada à paródia, e Vox Lux acaba por não se decidir sobre o que dizer: Celeste fica num impasse, Brady Corbet também. Só o cinismo não chega.

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