SÁBADO

MAIS DO QUE DUAS LÉSBICAS

Duas mulheres falam de si e sobre isto de estar no epicentro das artes do século XX: é Paris, há 100 anos, e é Gertrude Stein e Alice Toklas na sua sala de estar.

- Por André Santos

QUANDO as vidas de Gertrude Stein e de Alice B. Toklas se cruzaram em Paris em 1907 o mundo era um local bem diferente – e Paris uma capital do mundo, um ponto de encontro entre artistas que iriam influencia­r

gerações. A peça de Win Wells, Gertrude Stein e

Acompanhan­te, com encenação, dramaturgi­a e versão cénica de Fernanda Lapa cria um ponto de encontro entre a vida de ambas, enquanto casal, mas também de como duas americanas, que se conheceram naquela Paris, viveram a cidade numa existência em constante diálogo com os seus artistas e com aqueles que por lá passavam.

A peça move-se ao ritmo de uma conversa entre as duas, improvável, inexistent­e, que vê a sua relação numa Paris e num mundo artístico que sobreviver­am a duas grandes guerras.

Tanto uma como a outra deixaram – boas – memórias desses tempos. Gertrude Stein com as memórias, contadas pelas voz de Toklas, The Autobiogra­phy of Alice B. Toklas (1933) ou o brilhante Cookbook (1954) de Toklas, onde os seus dotes culinários são um pretexto para falar dos encontros sociais que as duas viviam.

Gertrude Stein e Acompanhan­te cria um espetáculo em que as duas existem não apenas como elas próprias, mas também como outras figuras com quem conviveram, como Picasso, Mabel Dodge ou Leo Stein, o irmão de Gertrude, um importante crítico e colecionad­or de arte. Apesar do selo gay colado à peça (Stein e Toklas foram um casal ao longo de 30 anos – Stein morreu em 1946, Toklas faleceria duas décadas depois), Gertrude Stein e Acompanhan­te resulta como um diálogo sobre o século XX, cimentado sobretudo nas artes – plásticas e literatura – e na influência do salão em

A peça, sobre a vidade Gertrude Stein e Alice Toklas, é um diálogo sobre o século XX, nas artes

Paris que Stein geria, frequentad­o por Picasso, Matisse, Ezra Pound, Hemingway ou Fitzgerald. Apesar da carreira de Gertrude enquanto artista ser literária, esta desempenho­u também um papel enquanto colecionad­ora de arte, influencia­da pelo seu irmão, um mestre a criar ligações e relações – artísticas, de negócio e não só – nas artes plásticas. Gertrude estava no momento certo, na época certa, para ser aquilo a que hoje chamamos influencer. Com um talento admirável na escrita,

enquanto romancista, poetisa e dramaturga, tinha também um gosto irrepreens­ível na escolha e compra de arte. Gertrude Stein e Acompanhan­te estará em cena no Teatro Municipal São Luiz e terá Nuno Vieira de Almeida em palco, ao piano, a tocar peças musicais do período modernista de compositor­es que conviveram com o casal.

 ??  ?? Gertrude Stein (à dir.ª) e Alice B. Toklas em 1940
Gertrude Stein (à dir.ª) e Alice B. Toklas em 1940
 ??  ?? Fernanda Lapa encena e assina a dramaturgi­a e a versão cénica da peça
Fernanda Lapa encena e assina a dramaturgi­a e a versão cénica da peça
 ??  ?? A atriz Cucha Carvalheir­o fotografad­a no Museu do Teatro, em Lisboa
A atriz Cucha Carvalheir­o fotografad­a no Museu do Teatro, em Lisboa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal