SÁBADO

A HISTÓRIA DO FUTEBOL

- ÂNGELA MARQUES

Jáhaviaumg­rupo de WhatsApp criado para o efeito: Liga das Nações por extenso, um emoji de uma taça por graça. Ainda assim, o convite seguiu privado: “Anda.” A resposta, que agora passará a ser pública pelo superior interesse da crónica como género jornalísti­co, chegou mais rápida que uma vizinha coscuvilhe­ira: “Não posso. E para esclarecer de uma vez por todas…” Naquele momento, sabendo da importânci­a da minha jogada seguinte, adiantei-me como um ponta de lança em fora de jogo milimétric­o: “Não gostas de futebol.” Ele corrigiu, como um videoárbit­ro atento: “Tenho um problema ético com o futebol.” Tentei, jogando baixo, apelar: “Podias vir pelas caipirinha­s.” [Achei certo, dado que se tratava de uma final, homenagear o país do futebol e o seu mais exportado combustíve­l.] Mas nem com açúcar amarelo aquela conversa iria ficar mais doce: “O futebol é machista e incita a violência.” Percebi que a coisa tinha ficado política e com a cabeça nas caipirinha­s, tentei fazer uma revienga que emocionass­e Mané Garrincha: “No Brasil a seleção feminina está a fazer história e a pôr muita gente a repensar o discurso.” A tentativa de o ludibriar perdeu-se pela linha final. “Mas obrigada pelo convite.” Insisti num sistema de 4-3-3 feminista

ACHEI CERTO, DADO QUE SE TRATAVA DE UMA FINAL, HOMENAGEAR O PAÍS DO FUTEBOL E O SEU MAIS EXPORTADO COMBUSTÍVE­L

e lembrei que àquela hora milhões, no país do futebol, estavam a ver onze mulheres jogarem à bola – e que isso tinha de fazer alguma diferença. Demonstran­do dominar uma das técnicas mais antigas do jogo (a melhor defesa é o ataque), ele chutou um “a questão não é (só) haver poucas mulheres a jogar. Mesmo que haja mais mulheres a jogar, o que é um bocadinho melhor, a estrutura é machista, usa a lógica da ignorância e do capitalism­o no seu pior”. Na marca de penálti, ele fez uma paradinha – num “Enfim” que gelou as bancadas – e com a classe de um número 10, decidiu o jogo: “Sou capaz de ir à Feira do Livro… comprar uma História do Futebol.” Como Jorge Perestrelo, só fui capaz de me rir e dizer para dentro “O que é que é isso ó meu?”

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