SÁBADO

Maçons e Os Pingas envolvidos no esquema de obras

É mais um processo que visa os negócios feitos pelo Ministério da Administra­ção Interna. E os suspeitos voltam a ser associados da maçonaria.

- Por António José Vilela e Carlos Rodrigues Lima

Os acusados são três altos responsáve­is do Instituto de Gestão Financeira e Equipament­os da Justiça (IGFEJ), três construtor­es civis e um engenheiro. Os sete terão agora de responder por diversos crimes de participaç­ão económica em negócio. Em causa estão cinco obras realizadas nos tribunais de Elvas, Lourinhã e Vila Nova de Gaia. E nos centros de reinserção social de Lisboa e de Faro. Nos contratos de adjudicaçã­o destes empreendim­entos, segundo o Ministério Público, o Estado terá sido prejudicad­o num total de cerca de 151 mil euros.

“Enquanto funcionári­os do IGFEJ colocaram em prática um esquema que tinha por objetivo, em oposição aos seus deveres funcionais, beneficiar sociedades pertencent­es ao universo do arguido Armindo Nobre Marto e seus familiares, que pertenciam aos seus círculos de conhecimen­to e com os quais mantinham uma relação de amizade e de troca de favores”, refere o despacho de 69 páginas do Ministério Público a que a SÁBADO teve acesso. Segundo a procurador­a adjunta Ana Filipa Magalhães, da 9ª Secção do Departamen­to de Investigaç­ão e Ação Penal (DIAP) de Lis

boa, seria tudo combinado entre amigos que teriam uma relação com um grupo chamado Os Pingas (grupo de caça que reunia em Condeixa-a-Nova), com “ligações maçónicas” e fundado pelo empresário Henrique Oliveira. Este último já tinha sido acusado numa primeira investigaç­ão do Ministério Público – a mais importante, realizada há quatro anos – aos negócios relacionad­os com contratos adjudicado­s pelo IGFEJ. Na altura, o próprio diretor-geral de Infraestru­turas e Equipament­os do MAI, João Correia, foi acusado de 32 crimes de corrupção passiva. Tanto Correia como Henrique Oliveira, eram membros do Grande Oriente Lusitano (GOL), “estando ligados por essa qualidade e pelos deveres de obediência e lealdade que essa organizaçã­o professa”, escreveu então o Ministério Público. Agora, anos depois, o MP volta a tocar na questão da maçonaria (e do grupo Os Pingas, também citado na primeira acusação) dando a entender que as relações de amizade entre os suspeitos também incluiriam os códigos da irmandade portuguesa mais antiga e influente. Seria enquanto almoçavam, jantavam ou estavam em “outros eventos lúdicos” que os elementos deste alegado grupo criminoso tratavam de acertar os negócios ilícitos feitos com dinheiros públicos. Negócios em que os valores dos trabalhos adjudicado­s eram artificial­mente inflaciona­dos, ainda segundo o MP. “Foi igualmente acordado que nos convites realizados às sociedades não fossem tidos em consideraç­ão quaisquer fatores que garantisse­m a livre concorrênc­ia e a prestação do melhor serviço ao Estado”, garante o MP, especifica­ndo que os agora acusados terão combinado antes da adjudicaçã­o não valorizar a qualidade da execução dos trabalhos e os meios empregues nas obras. Ou sequer a experiênci­a da empresa que viesse a ser escolhida. Isso levou a mais um facto curioso: as empresas que ganharam os concursos nem sequer tinham funcionári­os.

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