O novo filme de Jim Jarmusch faz uma paródia aos zombies
Jim Jarmusch, 66 anos, um dos pilares do cinema independente, é demasiado bom para fazer “apenas” um filme de género
Depois dos vampiros de Só os Amantes Sobrevivem (2013) e da poesia de Paterson (2016), Jim Jarmusch reuniu os amigos que o têm acompanhado no cinema e atirou-se ao género criado por George Romero em A Noite dos Mortos-Vivos (1968) – mas sempre de forma cool.
COMO SERIA UMA paródia aos filmes zombie realizada por Jim Jarmusch, com Bill Murray, Adam Driver e Chloë Sevigny no papel de polícias de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos invadida por mortos-vivos e Tilda Swinton no de uma agente funerária escocesa com dotes de samurai, e que tem ainda – em papéis menores – gente como Selena Gomez, Iggy Pop, Tom Waits, Danny Glover e Steve Buscemi? O que parece um simples exercício de retórica tem, na verdade, título e data de estreia em Portugal: depois de ter tido honras de abertura da 72ª edição do Festival de Cannes, em maio, Os Mortos Não Morrem chega às salas de cinema portuguesas esta quinta, 20.
Por paródia não se pense, contudo, em gargalhadas a ecoar, e por zombies não se caia no erro de pensar que é de terror que trata Os Mortos Não
Morrem. Jim Jarmusch, 66 anos, um dos pilares do cinema independente norte-americano, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes por três vezes – com O Comboio Mistério
(1989), Vencidos pela Lei (1986) e Para Além do Paraíso (1984) – é demasiado cool para fazer filmes de género em 2019, seja de comédia ou de terror. Afinal, que o seu Só os Amantes Sobrevivem, de 2013, conte uma história de amor centenária entre vampiros (Tilda Swinton e Tom Hiddleston) é quase só um pormenor – não o inscreve no género de filmes de vampiros que, ainda assim, Jarmusch aprecia mais do que zombies, como admitiu ao New York Times.
Sem se levar demasiado a sério mas sempre irónico e blasé,
Os Mortos Não Morrem lá vai respeitando os cânones do género que George Romero definiu em 1968 no clássico A Noite
dos Mortos-Vivos. Foi daí que veio a inspiração para este filme, que é também crítica social, mas personificada em Trump, e que preconiza um apocalipse ecológico causado pela ação do Homem no planeta.
De Murray a Buscemi, os amigos de Jarmusch puseram-se à sua disposição. Tilda Swinton aceitou entrar antes sequer de haver guião. E toda a produção foi montada à volta dos poucos dias livres que Adam Driver ia tendo enquanto rodava Star Wars: A Ascensão de Skywalker (estreia em dezembro). Driver, que protagonizara o anterior Paterson ,éumdos homens do momento em Hollwyood, capaz de transformar um certo James Bond em dano colateral. “Escrevi um papel para o Daniel Craig, que me disse: ‘Jim, vou ter 10 dias livres no verão e são todos teus, mas é a única altura em que posso.’ Só que esses eram os únicos dias em que eu tinha o Adam, que teria de filmar todos os dias. Acabei por tirar o papel do Daniel do filme...”