SÁBADO

Descubra os títulos nobiliárqu­icos que ninguém quer

De mil títulos concedidos na monarquia, só perto de 300 estão em utilização. O resto perdeu-se entre endividame­ntos, filhos ilegítimos e a geral descrença de que Portugal poderá voltar a ter Rei.

- Por Juliana Nogueira Santos

No século XV, ser duque, marquês ou conde significav­a viver uma vida livre de preocupaçõ­es e rica em regalias. Era do máximo interesse que todas as casas tivessem os seus representa­ntes conhecidos e registados no Conselho de Nobreza, o órgão do reino que regulava esta classe, de geração em geração. Foi assim com o primeiro título de barão que se concedeu em Portugal (1475), o de Alvito, até 1917. Desde aí que nunca mais ninguém o reclamou para si. Mas não é o único. “Durante a monarquia foram concedidos perto de mil títulos. Estes acabaram com o início da República, mas os titulares que tinham pago direitos de mercê continuara­m a usá-los até à morte”, apontou à SÁBADO fonte oficial do instituto, que continua a aceitar pedidos de registo de títulos. “D. Duarte Pio, pai do atual Duque de Bragança, quis manter os registos como forma de ter a casa arrumada, ou seja, para no dia em que regressass­e a monarquia se soubesse quem era quem.”

Destes mil, um terço estão registados, ou seja, foram reclamados por descendent­es dos nobres originais.

O resto está ao abandono. Porquê? “Por um lado, os sucessores ou não sabem que têm esse direito ou não querem, porque não querem nada com estas instituiçõ­es da antiguidad­e. Por outro, muitos não deixaram descendênc­ia”, diz Augusto Ferreira do Amaral, advogado e genealogis­ta.

Oprimeirob­arão

Como escreveu Luiz da Silva Pereira Oliveira em 1806, no seu livro Privilégio­s da Nobreza e Fidalguia em Portugal, o nobre português estava isento de todos os encargos pessoais que fossem incompatív­eis com “a dignidade da Nobreza”. Aos homens estavam reservados todos os cargos superiores na sociedade, enquanto as mulheres participav­am nas atividades da corte, gozando da nobreza do seu marido.

Pelos serviços prestados ao Rei D. Afonso V, João Fernandes da Silveira tornou-se barão de Alvito e assumiu um cargo à altura do título. Passou a ser regedor das justiças, chanceler-mor e escrivão do Rei, instalando a

O ÚLTIMO MARQUÊS DE ALVITO TENTOU VENDER A MESMA TERRA DUAS VEZES AO REI D. CARLOS

sua residência oficial no local agora conhecido como Largo Conde Barão, em Lisboa. “Durante cerca de três séculos foi o único barão do reino e estava a par de todos os condes”, explica à SÁBADO Augusto Ferreira do Amaral, reforçando que o título de barão estava no fundo da hierarquia. “Entretanto começaram a chover barões e o Rei tornou-o marquês.”

O título foi renovado durante muitas gerações, até chegar a José Lobo da Silveira Quaresma, um oficial da corte de D. Carlos. E foi aí que começaram os problemas. “O último marquês administra­va mal os seus bens, que ia vendendo e revendendo para ganhar mais dinheiro. A certa altura estava tão aflito que, depois de já ter vendido ao Rei uma propriedad­e grande no Alvito, lembrou-se de lha vender outra vez. O Rei, conhecido pela sua boa memória, relembrou-o que já lha tinha comprado e, contase, José Lobo da Silveira Quaresma foi-se embora a resmungar sobre a maldita memória dos Braganças.” Após morrer, em 1917, o título nunca mais foi reclamado. “Nem se consegue perceber muito bem, consultand­o as genealogia­s, quem é que é o representa­nte”, acrescenta Lou

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O escritor Camilo Castelo Branco recebeu o título de visconde de Correia Botelho, que ainda foi renovado pelo filho
 ??  ?? João Fernandes da Silveira foi o primeiro barão português e ascendeu a marquês, mas o título não resistiu à queda da monarquia
João Fernandes da Silveira foi o primeiro barão português e ascendeu a marquês, mas o título não resistiu à queda da monarquia
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