Entrevista a Tom Jones, no arranque do festival em que atua, o EDP Cool Jazz
A voz de Sex Bomb regressa a Portugal 16 anos depois de encher a Meo Arena e 15 desde que atuou na inauguração do Freeport de Alcochete. O concerto em Cascais, a 25 de julho no EDP Cool Jazz, motivou esta entrevista.
é possante, mesmo ao telefone: os 79 anos e as mais de seis décadas de carreira só a tornaram mais forte, como se poderá testemunhar a 25 de julho no EDP Cool Jazz – que arranca já no domingo, 7 –, pretexto desta entrevista em que Tom Jones garante que teve apenas dois grandes amores na vida: Linda Woodward, com quem esteve casado de 1957 à morte dela, de cancro, em 2016, e a música.
Chamam-lhe lenda viva e foi eleito o cantor mais sexy de sempre. Ainda se sente um sexsymbol?
Tanto quanto se pode sê-lo, aos 79 [risos]. Ainda tenho o mais importante, a voz. Está impecável e com força para aguentar a digressão que estou a fazer. Ando nisto há décadas, o público adora-me. Se isso significa ser uma lenda viva, que seja!
Como se mantém em forma?
Tento ter uma alimentação saudável e faço caminhadas. Dantes corria, agora vou ao ginásio. Qualquer hotel tem um ginásio com uma elíptica, que é a minha máquina favorita porque poupa as articulações, frágeis na minha idade. Também já é raro fumar charutos, mas continuo a adorar, e não posso beber como dantes... Era cá uma esponja! Agora estou limitado a um copo de vinho à refeição. Também tenho uns truques para a voz: bebo muita água, durmo bem e procuro estar em ambientes com humidade, para me manter hidratado, e quando visito países de clima seco, levo uma máquina de vapor comigo.
Reload, o seu álbum de maior êxito, faz 20 anos. Como planeia celebrá-lo?
Vou fazer um programa especial na televisão e um álbum, para os meus 80 anos, em 2020, com uma matriz parecida: novas versões, minhas, de grandes canções. Ando a escolher o que vou lá pôr. Passei muitas fases ao longo das décadas e gostava de abordar todas, com temas que me influenciaram e sempre quis gravar.
Nenhum inédito?
Não creio, sou um intérprete Em palco, recorda a música que o influenciou. Canta Elvis Presley, Chuck Berry, Bob Dylan, Jerry Lee Lewis e Muddy Waters e gosto de recriar clássicos, incluindo meus. Sex Bomb é uma canção incrível e isso percebe-se quando se muda o arranjo. Começou como balada, depois dei-lhe mais swing... e hoje tem uma série de versões e resiste sempre, resiste a tudo. O mesmo tem acontecido com Delilah, What’s New, Pussicat? e Green Green Grass ofHome.
Canto-as de um modo bem diferente do original, o que é mais interessante para as pessoas: já conhecem, têm em casa... e redescobrem-nas, frescas.
Vem de uma cidadezinha do País de Gales. Como se tornou uma estrela mundial?
Tem tudo a ver com determinação. O Elvis Presley também nasceu numa barraca no Mississípi, vinha de meios modestos. A diferença, entre nós, está nas influências que tivemos. Ele cresceu a ouvir os cantores negros de gospel que eram os seus vizinhos, eu cresci com a BBC. Foi na rádio que conheci a Mahalia Jackson e ele ouvia-a ao vivo. Além disso, a música dele, que também me chegou pela rádio, marcou-me imenso: quando Heartbreak Hotel apareceu, era diferente de tudo o que havia. Hoje continuo a lembrar essas músicas, cantando-as à minha maneira.
Essa, a No Particular Place To Go do Chuck Berry, a Got My Mojo Workin’ do Muddy Waters, a
Great Ball ofFire do Jerry Lewis, que para mim é todo o rock’n’roll metido numa casca de noz, um único tema.
Sempre quis ser cantor?
Sim, desde miúdo: não tinha a mínima dúvida na cabeça e creio que, não tendo isso para nos direcionar, temos um problema; é essa certeza que nos faz andar em frente. Fui mentor no The Voice UK e o meu conselho foi sempre: tens de querer isto acima de tudo o resto.
Descurando a vida pessoal?
Claro que todos querem apaixonar-se, constituir família... e é possível, com a pessoa certa. Eu tive isso, a minha mulher ajudou-me muito, sabia que eu tinha esta visão e fez o caminho comigo. Aguentou as ausências, mas também conheceu os benefícios: vivemos sempre em belas casas, viajámos pelo mundo... Nos anos 60 já passávamos férias no Algarve. Teve acesso a tudo isso graças à minha profissão.
Houve um segredo para a longevidade desse amor?
Era um grande amor, o maior que tive, mas o segredo era o sentido de humor. Sempre que voltava de uma digressão, a primeira coisa que a minha mulher dizia era: “Trazes piadas novas?” Sempre colecionei anedotas, histórias engraçadas: anotavaas num caderno para lhe contar e ríamos juntos. Acho que é do que sinto mais falta, da gargalhada dela.
Se pudesse voltar ao passado, o que mudaria?
Não tenho grandes arrependimentos, mas gostava de não ter sido um sex symbol, porque isso ofuscou o meu verdadeiro talento, que é cantar. Havia pressão para ter um lado sexy, que desviava as atenções do importante. Agora que sou velho posso focar-me nas canções. Estou mais concentrado, mais sério, e isso faz-me feliz.
Qual é a mensagem essencial da sua música?
Ser honesto, dizer a verdade em palco. Ao cantar The Tower of
Song, do Leonard Cohen, sinto que é a minha vida. Na verdade, não tive escolha, nasci com este dom, uma voz de ouro, e é à música que devo tudo.
Gostava de ter algum superpoder?
Sim, a imortalidade! Adoraria viver para sempre.
“Gostavade nãotersidoum sexsymbol, porqueisso ofuscouomeu verdadeiro talento,queé cantar.Havia pressãopara terumlado sexy”,confessa ointérprete deSexBomb