SÁBADO

Radical O português que tem como hobby caçar tempestade­s

Bruno Gonçalves é engenheiro do ambiente e tem como hobby perseguir tornados e chuvadas de granizo. Ia embarcar para os Açores quando ouviu falar do furacão Lorenzo, mas desta vez ficou em terra.

- Por Vanda Marques

Quando o vento chega aos 128 km/h o melhor é correr para dentro do carro. É sinal de que a caçada tem de ser interrompi­da. Caso contrário passa-se de caçador a presa. Ventos fortes, chuvas tão pesadas que não se vê um palmo à frente da testa, e até granizo que deixa mossas nos carros ou parte vidros são os ossos deste ofício. Bruno Gonçalves é caçador de tempestade­s e tira férias para se submeter ao mau tempo e tirar fotografia­s impression­antes. Fez a primeira viagem aos Estados Unidos em 2015 – é lá que consegue ver fenómenos como supercélul­as (tempestade giratória) ou tornados. Na semana passada, Bruno ainda pensou em embarcar para os Açores para ver o furacão Lorenzo. Mas por ser um passatempo não é possível reagir com tanta rapidez. Ficou no Algarve, onde vive.

É nos Estados Unidos que o engenheiro do ambiente consegue captar “o poder da atmosfera”, como escreve no seu site. Bruno explica porque é que aquele país é tão prolífero em intempérie­s – “um grande continente, com ar muito quente e húmido, que vem do golfo do México para o interior dos EUA, e que se encontra com o ar mais frio e seco, do Norte, logo, resulta em duas massas de ar diferentes que colidem.” Resultado? Grande instabilid­ade atmosféric­a. Ou seja, paraíso de tempestade­s.

Bruno Gonçalves esclarece que é possível prever quase tudo por computador, mas o imprevisto está sempre presente. Garante que não é uma atividade perigosa e nas três viagens que fez aos Estados Unidos, em que percorreu cerca de 41 mil quilómetro­s, nunca esteve em perigo. E o caso de Tim Samaras, um caçador que morreu numa dessas incursões? Bruno diz que esse caso foi excecional. “Ele e o seu grupo – todos muito experiente­s – estavam a perseguir

uma supercélul­a em El Reno, quando se formou um tornado com um diâmetro de 500 metros. Em poucos minutos aumentou para 4 km e apanhou-os de surpresa.” Samaras e dois colegas morreram.

Da janela à associação

As tragédias assustam, mas Bruno diz que só em Portugal é que o veem como o “maluquinho das tempestade­s”. Já na América é apenas mais um, no meio de centenas de caçadores. A sua mulher e o seu filho, de 12 anos, entendem o hobby mas não o acompanham. Para os pais de Bruno Gonçalves é que é mais complicado. “Eles tentam convencer-me a não ir. Acham que sou maluco.”

Foi aos 8 anos que Bruno ficou colado à janela, em Lagoa, a ver uma tempestade. Primeiro apareceu o medo, depois veio o entusiasmo. Quando ouvia uma trovoada corria para ver os relâmpagos. Mais tarde formou-se em Engenharia do Ambiente, mas tudo ficou mais sério quando, em 2008, comprou uma máquina fotográfic­a e começou a fotografar tempestade­s. Nos fóruns de meteorolog­ia encontrou mais aficionado­s e decidiram criar uma associação, a Troposfera. Em maio de 2015, Bruno e mais quatro amigos seguiram para a América. Foram 22 dias de viagem, mas ainda sem ver um tornado. Regressou em 2018 aos Estados Unidos – já esteve em nove estados –, mas foi em maio deste ano que Bruno, integrado numa excursão do profission­al Mike Olbinski, conseguiu ver tornados. Já conta com três no currículo. Gostou tanto da experiênci­a que quer repeti-la, mas de forma diferente. “Estou neste momento a preparar uma viagem, em 2020, para levar outras pessoas para irem fotografar e experiment­ar caçar tempestade­s comigo.” Tem coragem? É seguir o Bruno.

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Elk City (Oklahoma) Depois de um dia que começou no Texas, terminaram em Oklahoma. E foi a caminho do hotel que pararam para ver mais uma trovoada.
1 1 Elk City (Oklahoma) Depois de um dia que começou no Texas, terminaram em Oklahoma. E foi a caminho do hotel que pararam para ver mais uma trovoada.
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Sublette (Kansas)
As tempestade­s aparecem mais depois de almoço. Bruno conta que neste caso foram “15 minutos de imagens.”
2 2 Sublette (Kansas) As tempestade­s aparecem mais depois de almoço. Bruno conta que neste caso foram “15 minutos de imagens.”
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Plainview (Texas)
A supercélul­a passou por cima deles e tiveram de correr para o carro.
3 3 Plainview (Texas) A supercélul­a passou por cima deles e tiveram de correr para o carro.
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Happy (Texas)
Na primeira viagem aos Estados Unidos, assistiram a uma hora de raios. A fotografia é uma composição de 10 minutos.
1 Happy (Texas) Na primeira viagem aos Estados Unidos, assistiram a uma hora de raios. A fotografia é uma composição de 10 minutos.
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Fleming (Colorado)
No primeiro dia da tour com Mike Olbinski, os elementos apressaram-se a pegar nas câmaras quando se aproximava uma nova supercélul­a.
2 2 Fleming (Colorado) No primeiro dia da tour com Mike Olbinski, os elementos apressaram-se a pegar nas câmaras quando se aproximava uma nova supercélul­a.

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