Social Angela Kelly, a mulher mais próxima de Isabel II
É responsável pelo visual da Rainha há 25 anos e tornou-se também sua amiga e confidente. Em Buckingham ninguém percebe o estatuto de exceção de Angela Kelly.
Quem trabalha para Isabel II sabe que tem de seguir uma regra elementar: manter a boca sempre fechada. E até hoje só houve uma exceção: Angela Kelly, a assistente pessoal da monarca há 25 anos. Os especialistas em realeza não conseguem entender como é que a rainha de Inglaterra deu “permissão extraordinária” à designer e consultora de imagem para publicar um livro sobre a sua experiência na Casa Real, com uma abordagem muito íntima, em que são reveladas histórias privadas e fotos inéditas de ambas, que pertencem ao álbum pessoal de Kelly. Chama-se The Other Side of Coin – The Queen, Dresser and the Wardrobe, (em tradução livre: o outro lado da moeda – a Rainha, a assistente de moda e o guarda-roupa) é editado pela Harper Collins e estará à venda no próximo dia 29.
Esta mulher, nascida em Liverpool há 61 anos, não é apenas uma assistente que escolhe os tecidos, as cores e os cortes dos vestidos, e combina os chapéus e as joias que a Rainha vai usar. Ela é acima de tudo sua amiga, conselheira e confidente. Quando Angela e Isabel II estão juntas nas provas de roupa – que chegam a demorar meio-dia e a que só os seus cães podem assistir – os risos ecoam nos corredores de Buckingham. Apesar da enorme proximidade, a “guardiã”, como lhe chamam, trata a Rainha por “Sua Majestade”. Kelly é talvez a única pessoa, que não pertence aos Windsor, que lhe pode tocar, que está com ela diariamente e que a acompanha em viagens.
Guarda-chuvas e chapéus
Este não é o primeiro livro de Angela Kelly, que em 2012 foi nomeada tenente da Real Ordem Vitoriana, concedida pela Rainha para homenagear pessoas que serviram a família real. Nesse mesmo ano, o da comemoração do Jubileu de Diamante, publicou Dressing the Queen (que significa vestir a Rainha) um volume inteiramente dedicado ao estilo de Sua Majestade, editado pelo Palácio de Buckingham. A par
tir daí, ficámos a saber, por exemplo, que Isabel II – de 93 anos, e 67 de reinado, o mais longo de sempre no Reino Unido – nunca usa chapéus depois das 6 horas da tarde, só tiaras. E que possui uma vasta gama de guarda-chuvas, todos transparentes de modo a não lhe esconderem o rosto. A estilista conta que foi a própria Rainha que a ensinou a testar a qualidade dos tecidos: se depois de amassado ficar enrugado, não serve. Os códigos das escolhas cromáticas da roupa de Isabel II também são revelados no livro. Na primavera, veste mais o amarelo dos narcisos, o roxo dos lilases, o rosa suave das flores de cerejeira ou o creme das magnólias. O preto é usado exclusivamente em funerais e no Remembrance Sunday, no segundo domingo de novembro, em que são homenageados os mortos em combate.
Facas nas costas
Angela coordena a equipa de 12 funcionários que trabalham no departamento de guarda-roupa da Rainha, que antes de um evento real é vestida por quatro colaboradores, que lhe colocam o colar, a pregadeira, as luvas e o chapéu. A assistente pessoal traça pelo menos quatro esboços de um tecido, para que Isabel II possa escolher, e faz pesquisa sobre os países que vai visitar, a fim de determinar as cores da roupa que a mãe do príncipe Carlos irá usar. Tudo é estrategicamente calculado no sentido de garantir a máxima visibilidade. Por exemplo, quando a Rainha vai a um local com crianças, recorre a tons vivos e brilhantes, como detalhes feitos com penas, flores e fitas, para captar a atenção.
Até Anna Wintour, a poderosa editora da Vogue norte-americana, fala de Kelly com admiração: “Com a sua criatividade e imaginação, ela consegue sempre garantir que a Rainha seja a pessoa mais visível, tanto numa sala como no meio de uma multidão.” A verdade é que Angela não deixa escapar um detalhe no visual daquela que é uma das mulheres mais elegantes e fotografadas do mundo. Numa estreia de cinema no Canadá, em 2010, a designer resolveu dar um toque especial aos óculos 3D que a rainha usou, colocando-lhes cristais Swarovski a formar a letra Q, de queen (rainha).
A relação tão íntima que Kelly criou com Isabel II é algo que nem ela consegue explicar. Há quem diga que a assistente pessoal veio preencher um vazio emocional, depois da morte da irmã da Rainha, a princesa Margarida, e da Rainha-mãe. “Não sei porque é que Sua Majestade parece gostar tanto de mim, até porque eu não lhe dou descanso. Acho que valoriza a minha opinião, apesar de ser ela quem decide tudo. Somos duas mulheres normais, que discutem roupa, maquilhagem e joias”, disse numa rara entrevista ao The Telegraph, em 2007. E revelou: “Divertimo-nos muito juntas. A Rainha tem um sentido de humor perverso e um talento fora do comum para imitar sotaques, incluindo o meu.” Angela Kelly – que garante que
Isabel II não trata os funcionários do seu guarda-roupa como lacaios, mas com “verdadeiro respeito” – percorreu um longo caminho até se tornar uma das figuras mais importantes da corte. Filha de um estivador e de uma enfermeira, deixou a escola cedo, para trabalhar na costura. Engravidou muito nova e casou-se, mas logo se divorciou, deixou os dois filhos com o pai e foi à procura de uma vida melhor na Alemanha. Arranjou emprego como governanta do embaixador britânico, Sir Christopher Mallaby, em Berlim, e foi lá que conheceu Isabel II e o príncipe Filipe de Edimburgo em 1992, numa visita oficial. Teve oportunidade de comentar com a Rainha que o seu sonho era voltar para Inglaterra e, um ano depois, recebeu uma chamada de Buckingham. Tornou-se costureira de Isabel II, mas a sua extrema dedicação fez com que, em 2002, fosse nomeada sua assistente pessoal, o seu braço-direito. Hoje, Kelly – que vive no castelo de Windsor e conduz um Land Rover – é uma das figuras mais influentes no palácio e o seu estatuto especial incomoda os outros funcionários reais, como sugeriu na mesma entrevista ao The Telegraph: “Não tenho espaço nas costas para mais facas.”
ANGELA DIZ QUE A RAINHA TEM UM SENTIDO DE HUMOR PERVERSO E UM TALENTO RARO PARA IMITAR SOTAQUES