JOSÉ PACHECO PEREIRA
Vamos ter um Governo que não se quer mexer com receio de ficar isolado e por isso não terá qualquer arrojo legislativo. E uma oposição à esquerda que, sem gostar do Governo, apoiando-o o manterá na sua inércia
O resto das eleições
Na semana passada falei do PS, PCP, CDS, Livre, Chega e Iniciativa Liberal, agora sobra o resto, vários perdedores e um vencedor.
PSD
A crise do PSD é antiga e profunda e está longe de ser eleitoral, mas também é. Escrevi muitas vezes sobre o PSD que os partidos não têm um contrato com a eternidade e que, por muito resiliente que seja o sistema partidário português, há sinais de degradação que atingem os dois principais partidos, PS e PSD, que tem a ver com o seu peso relativo no conjunto dos eleitores e com o crescimento da abstenção. Os dois, afectados por muitos factores de crise comuns, dominados pelo peso do carreirismo e do cinzentismo dos candidatos (estava a ver na televisão as notícias que davam a eleição sucessiva de deputados e só pensava em duas coisas – o quê este(a) soma de mediocridades ainda lá está eternamente! ou de onde apareceram estas pessoas de que não se conhece uma obra, um projecto, uma acção, um valor profissional?), não existem fora do aparelho. Mas, dos dois, é o PSD que está em pior estado. Onde é que estão os “valores” como agora se diz, novos e velhos, que o PSD traz para a vida política, que ideias discute, que interesses sociais mobiliza, que tradições representa, que pessoas transporta da universidade, da economia, da cultura? Nada, quase nada.
Os resultados eleitorais não são por si só o retrato dessa perda social porque, mesmo assim, o PSD continua a ter um núcleo duro eleitoral razoável. O pior é antes, durante e depois: saber se a “coisa” está viva, moribunda ou morta. Um partido com faces públicas de, um lado, Miguel Relvas e, do outro, Luís Filipe Menezes não vai a lado nenhum. ◯
Bloco
O Bloco parou. Encontrou os seus limites do seu crescimento. Fez uma campanha eleitoral em condições muito favoráveis – fazer uma campanha eleitoral sempre com sondagens muito positivas apontando para um crescimento considerável, é uma benesse e uma vantagem. O pior é depois, quando as sondagens falham e entram em conflito com um decréscimo eleitoral.
Os votos perdidos para o PAN e para o Livre são sintoma de desgaste. ◯
Aliança
A voz “imprescindível” não chegou ao parlamento e talvez Santana Lopes perceba de vez (duvido) que não tem nada de novo para dizer aos portugueses, presumindo que alguma vez o tivesse. Fazia parte de um certo folclore interno do PSD, era “imprescindível” no teatro dos congressos, misturava vitimização com o culto de personalidade do “menino
guerreiro”, e a comunicação social gosta dessas coisas. Mas, ao sair do PSD, deixou vir ao de cima o enorme vazio que sempre o sustentou. O Aliança não vai durar muito. ◯
PAN
O PAN é um partido que muito dificilmente sobreviverá a esta legislatura. Em muitos aspectos o seu programa não se distingue do BE, e o original é sempre melhor do que a cópia. Não tem também a experiência do BE a disfarçar a sua relação com o PS, de que é há muito, o braço radical. No PAN percebe-se bem como vai servir o PS, com quem partilha uma certa noção de controlismo estatal dos indivíduos, usando cães e gatos e beatas para estender proibições, multas e impostos.
O que restava ao PAN identitário era o animalismo que tem vindo a esconder e a mitigar. O melhor exemplo das suas contradições é que vai comprar a sua fatia no poder socialista, metendo no bolso aquilo que podia ser a sua contribuição para uma causa generosa e humanista, a do fim dessa tortura de um animal para gáudio público, que são as touradas. Mas disso o PAN já evita falar, muito menos que colocar como condição. ◯
O Governo que vem aí...
…vai ser muito mais frágil do que o da geringonça. O que o sustentará é uma espécie de estado de graça visto que a esquerda terá mais a perder do que a ganhar derrubando-o nos próximos dois anos. Mas é um fraca força, a não ser que o Governo faça, como vai fazer, pouco mais do que gestão corrente. Vamos ter um Governo que não se quer mexer com receio de ficar isolado e por isso não terá qualquer arrojo legislativo. E uma oposição à esquerda que, sem gostar do Governo, e sem estar disposta a perder alguma coisa, real ou simbólica, apoiando-o o manterá na sua inércia. Não adianta sequer dizer que os tempos mais próximos precisam de tudo menos de um Governo a fazer-se de sombra de uma sombra de uma sombra. ◯
E o PSD?
Sobra o PSD, mas aí ainda é cedo para saber o que vai acontecer. A táctica dos opositores de Rio é desejarem, ansiarem, por uma coligação negativa com a esquerda, que derrube Costa. É bruta, simples e caótica, e pode dar ao PS em eleições intercalares a maioria absoluta. A de Rio é mais fina, até porque existem como nunca oportunidades de fazer oposição a sério e não catastrofista. Vamos ver. ◯