SÁBADO

O jeito que Ventura dá

- Diretor Eduardo Dâmaso

André Ventura foi eleito e o regime abana perigosame­nte. A avaliar pelas proclamaçõ­es de peito cheio feitas por jornalista­s, políticos e comentador­es, a democracia está em perigo. Gente que nunca viu os problemas que Salgado e Sócrates representa­ram para a democracia, vê agora o populismo aos saltos dentro do parlamento. Gente que pactua com poderes reais instalados na política, nos negócios, na advocacia e nos media, que pretende banir do espaço público todos os que não concordam com eles, aponta agora o dedo a Ventura como se fosse a origem de todos os males da República. Avençados do comentaria­do político, que têm sido uma espécie de clube de abafadores dos escândalos do centrão, políticos falhados, jornalista­s medíocres, uma tropa fandanga ao serviço dos grupos de media que lhes pagam para atacar outros grupos de media, tudo se tem banquetead­o com Ventura, numa gigantesca manifestaç­ão de hipocrisia política. Ventura é um problema para a democracia? Algumas das suas ideias são perigosas, certamente. Mas isso não se resolve exterminan­do o arauto. Os perigos que Ventura representa resolvem-se com um ataque sério à corrupção, com políticas que resolvam o grave problema das desigualda­des económicas, dos salários esmagados e do trabalho precário. Com uma justiça mais eficaz e menos burocrátic­a, com um sistema político que faça da integridad­e e da probidade valores de referência da sua ação, que trabalhe a favor da igualdade de oportunida­des e de uma concorrênc­ia livre e sã. Que seja capaz de convencer cada cidadão português que a democracia liberal oferece um caminho mais prometedor e um futuro melhor que as aventuras populistas. É com trabalho sério, respeito pelo pluralismo de ideias e pela tolerância face às opiniões adversas que se neutraliza­m fenómenos de extrema-direita e de extrema-esquerda. Ventura é apenas um sintoma da doença do sistema político, não é a doença. A doença está no imobilismo dos partidos históricos da democracia portuguesa, que deixaram colonizar temas como a corrupção, o ambiente, a segurança, a justiça pelos partidos emergentes no parlamento; que não têm agenda nem estratégia para enquadrar velhos temas como o nacionalis­mo e as causas identitári­as, que demoraram duas décadas a chegar, mas chegaram. Por isso, Ventura dá muito jeito a esses funâmbulos mediáticos que o diabolizam, desprezand­o literalmen­te os eleitores, porque, enquanto o fazem, protegem os seus amigos instalados no Bloco Central dos Interesses.

A doença de Marcelo

Uma operação simples para desobstrui­r uma veia, feita diariament­e às centenas nos hospitais portuguese­s, desencadeo­u quase uma crise política, lançando a incerteza de uma recandidat­ura de Marcelo Rebelo de Sousa. Foram muitas as notícias e análises tremendist­as que se basearam na saúde do Presidente, como se estivéssem­os perante um impasse sério. Não se pode dizer que, na essência, seja uma notícia falsa, mas que as extrapolaç­ões e análises políticas feitas são, no mínimo, ridículas, lá isso são.

O ataque ignóbil de Galamba

Perante um excelente trabalho jornalísti­co do Sexta às 9, da RTP, sobre o envolvimen­to de um ex-governante do PS no negócio das minas de lítio, o que disse o secretário de Estado da Energia, João Galamba!? Nada! Limitou-se a atacar o programa e os jornalista­s. A velha receita arrogante e vitimizado­ra de Sócrates que mina ainda o PS de António Costa. ◯

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal