O jeito que Ventura dá
André Ventura foi eleito e o regime abana perigosamente. A avaliar pelas proclamações de peito cheio feitas por jornalistas, políticos e comentadores, a democracia está em perigo. Gente que nunca viu os problemas que Salgado e Sócrates representaram para a democracia, vê agora o populismo aos saltos dentro do parlamento. Gente que pactua com poderes reais instalados na política, nos negócios, na advocacia e nos media, que pretende banir do espaço público todos os que não concordam com eles, aponta agora o dedo a Ventura como se fosse a origem de todos os males da República. Avençados do comentariado político, que têm sido uma espécie de clube de abafadores dos escândalos do centrão, políticos falhados, jornalistas medíocres, uma tropa fandanga ao serviço dos grupos de media que lhes pagam para atacar outros grupos de media, tudo se tem banqueteado com Ventura, numa gigantesca manifestação de hipocrisia política. Ventura é um problema para a democracia? Algumas das suas ideias são perigosas, certamente. Mas isso não se resolve exterminando o arauto. Os perigos que Ventura representa resolvem-se com um ataque sério à corrupção, com políticas que resolvam o grave problema das desigualdades económicas, dos salários esmagados e do trabalho precário. Com uma justiça mais eficaz e menos burocrática, com um sistema político que faça da integridade e da probidade valores de referência da sua ação, que trabalhe a favor da igualdade de oportunidades e de uma concorrência livre e sã. Que seja capaz de convencer cada cidadão português que a democracia liberal oferece um caminho mais prometedor e um futuro melhor que as aventuras populistas. É com trabalho sério, respeito pelo pluralismo de ideias e pela tolerância face às opiniões adversas que se neutralizam fenómenos de extrema-direita e de extrema-esquerda. Ventura é apenas um sintoma da doença do sistema político, não é a doença. A doença está no imobilismo dos partidos históricos da democracia portuguesa, que deixaram colonizar temas como a corrupção, o ambiente, a segurança, a justiça pelos partidos emergentes no parlamento; que não têm agenda nem estratégia para enquadrar velhos temas como o nacionalismo e as causas identitárias, que demoraram duas décadas a chegar, mas chegaram. Por isso, Ventura dá muito jeito a esses funâmbulos mediáticos que o diabolizam, desprezando literalmente os eleitores, porque, enquanto o fazem, protegem os seus amigos instalados no Bloco Central dos Interesses.
A doença de Marcelo
Uma operação simples para desobstruir uma veia, feita diariamente às centenas nos hospitais portugueses, desencadeou quase uma crise política, lançando a incerteza de uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Foram muitas as notícias e análises tremendistas que se basearam na saúde do Presidente, como se estivéssemos perante um impasse sério. Não se pode dizer que, na essência, seja uma notícia falsa, mas que as extrapolações e análises políticas feitas são, no mínimo, ridículas, lá isso são.
O ataque ignóbil de Galamba
Perante um excelente trabalho jornalístico do Sexta às 9, da RTP, sobre o envolvimento de um ex-governante do PS no negócio das minas de lítio, o que disse o secretário de Estado da Energia, João Galamba!? Nada! Limitou-se a atacar o programa e os jornalistas. A velha receita arrogante e vitimizadora de Sócrates que mina ainda o PS de António Costa. ◯