SÁBADO

Robert Forster (1941-2019)

Mestre dos médios papéis, o versátil ator destacou-se em Jackie Brown, de Quentin Tarantino, e, mais tarde, nas séries Breaking Bad e Twin Peaks. Tinha 78 anos

- PEDRO HENRIQUE MIRANDA

Quando Robert Forster conheceu Quentin Tarantino, a sua carreira estava em trajeto descendent­e há vários anos. Após um início bem-sucedido ao lado de nomes como Marlon Brando e Elizabeth Grant, ficara, nas palavras do próprio, “preso em papéis malvados por anos” após ter aceitado fazer de antagonist­a em Força Delta, de 1986, por falta de dinheiro. Na altura, não conseguiu de Tarantino o papel a que se candidatav­a (em Cães Danados, a sua primeira longa-metragem, de 1992), e teve de esperar outros cinco anos até voltar a cair nas boas graças do público, no terceiro filme do realizador, Jackie Brown – um papel que lhe valeu uma nomeação para o Oscar de Melhor Ator Secundário, e que o ator considerou “o melhor trabalho que alguma vez tive”. Robert Forster, que, destacando-se mais na assistênci­a do que na ribalta, inscreveu o seu nome em algumas das mais significat­ivas produções do cinema e da televisão americana, morreu na sexta-feira, 11 – o dia da estreia do seu último filme –, aos 78 anos, vítima de cancro no cérebro. Robert Wallace Forster Jr. nasceu a 13 de julho de 1941 em Rochester, Nova Iorque, filho de Grace Dorothy, americana de ascendênci­a italiana, e Robert Sr., um treinador de elefantes de circo. Obstinado a licenciar-se em Psicologia, entrou no mundo do espetáculo por acaso quando, por influência de uma mulher que conheceu na faculdade – June Provenzano, que se tornaria a sua primeira esposa, com quem teve 3 filhos –, entrou num auditório onde se faziam audições para a série Bye Bye Birdie, acabando por ficar com o papel. A presença numa produção da Broadway de Mrs. Dalloway, em 1965, garantiu-lhe um contrato na 20th Century Fox, que seria posto em risco pelo seu alistament­o para servir na Guerra do Vietname, não fosse o suicídio da mãe ao saber da notícia – os efeitos psicológic­os da sua morte por imolação seriam um dos motivos para a sua isenção do serviço militar. Entrou, no seguimento, em diversos filmes de grande orçamento de Hollywood, incluindo Reflexos Num Olho Dourado, de John Huston, Emboscada na Sombra, de Robert Mulligan, e o papel principal no aclamado Medium Cool, de 1969. A estes, seguiram-se papéis secundário­s em televisão e filmes de série B como Alligator, Vigilante e Força Delta, com Chuck Norris, que assinalari­a o início da sua queda de popularida­de.

DEVOLVIDO À RIBALTA POR TARANTINO, DESLUMBROU PELA SIMPLICIDA­DE DOS SEUS PAPÉIS SECUNDÁRIO­S

Max Cherry

Após anos em que, como o próprio lembraria mais tarde, “aceitava qualquer papel que me oferecesse­m” face à responsabi­lidade de sustentar quatro filhos, a carreira de Forster foi revitaliza­da – um padrão recorrente nos primeiros filmes de Tarantino – com o papel de Max Cherry em

Jackie Brown, uma decisão que o realizador viria a considerar “uma das melhores que já tomei em toda a minha vida”. Numa performanc­e incomum para um filme de Tarantino (num filme incomum para a reputação do cineasta), convenceu mais pela contenção do que pelo exibicioni­smo e mais pelas expressões do que pelas palavras, angariando uma nomeação para o Oscar de Melhor Ator Secundário de 1997 que lhe mudou o rumo de vida. No seguimento, foi presença constante como personagem secundária em grandes produções: o remake de Psycho de Gus Van Sant, Ela, Eu e o Outro, com Jim Carrey e Renée Zellweger, Mulholland Drive, de David Lynch, do qual foi quase inteiramen­te cortado após o projeto de série ser transforma­do em longa-metragem, ou Os Descendent­es, ao lado de George Clooney. Depois de 2010 ainda deixou duas impressões duradouras na televisão: na última temporada de Twin Peaks (que Lynch queria que Forster tivesse integrado desde o princípio, não sendo possível por conflitos contratuai­s), como o xerife Frank Truman; e em Granite State, o penúltimo episódio do celebrado Breaking Bad, como Ed Galbraith, pelo qual recebeu o prémio Saturno de Melhor Ator Convidado. Seria chamado a retomar o seu papel em El Camino, o filme que serve de epílogo à série, e que estreou na Netflix no dia da sua morte. Aquando da notícia, Samuel L. Jackson, com quem contraceno­u em Jackie Brown, disse que se tratava de “um verdadeiro ator de classe”, e Bryan Cranston, estrela de Breaking Bad, salientou que nunca esquecerá a sua gentileza e generosida­de. ◯

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LUIS GRAÑENA

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