OS CARROS DE SONHO
Após a bolha do imobiliário, veio a da alta cilindrada. Este ano Lamborghini, Bentley, Porsche, Jaguar e Tesla batem recordes de vendas. A SÁBADO explica-lhe o fenómeno.
Vendedores e compradores falam dos negócios mais exclusivos com marcas como a Tesla
OLamborghini com portas em formato de asas, modelo Aventador, também voa na tabela de preços até aos 750 mil euros, o equivalente a 1.250 salários mínimos nacionais. Mas vendê-lo tem que se lhe diga, porque implica viagens mensais à fábrica, perto de Bolonha, com os potenciais compradores de Portugal. Conhecida a linha de montagem, os clientes de topo são recebidos num restaurante das imediações, Ristorante Da Taiadela, cujo dono é um entusiasta da marca. Depois fazem test drives no autódromo da cidade italiana de Ímola e pernoitam num hotel de cinco estrelas de Bolonha. Todas estas ações estão previstas no orçamento de marketing. da empresa. “É das rubricas com mais peso, pelo fator diferenciador”, constata à SÁBADO Miguel Costa, diretor das marcas de luxo da SIVA, Lamborghini e Bentley. Conseguiu ainda o feito, em outubro de 2018, de levar 15 fiéis da marca (todos portugueses) à apresentação mundial do Aventador SVJ no circuito do Estoril, vedada ao pú
A LAMBORGHINI FOI A MARCA DE LUXO QUE MAIS SUBIU EM 2019: 260% FACE AO PERÍODO HOMÓLOGO DE 2018 (DE JANEIRO A SETEMBRO)
ESTRANGEIROS COM VISTOS GOLD PROCURAM MOBILIDADE DE LUXO E FAZEM AUMENTAR AS VENDAS
blico. “Foi muito importante para eles, porque é um evento exclusivo e perceberam que eram os únicos não jornalistas que lá estavam.” Assim se explica que a Lamborghini tenha sido a marca automóvel de luxo que mais vendeu em Portugal entre janeiro e setembro de 2019, mais 260% face ao mesmo período do ano anterior, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Dito de outro modo, passaram de cinco unidades transacionadas para 18
► (nestas incluem-se seis topo de gama Aventador). Em 2020, serão entregues mais oito unidades.
Aumento de 42% no setor
Números impressionantes, que atestam a época de ouro do segmento F – o mais alto do mercado automóvel. Isto é, no total das marcas posicionadas neste nível, venderam-se 1.392 viaturas ao longo dos últimos nove meses, mais 42% do que em igual período de 2018, indica a ACAP. Para este boom têm contribuído os residentes com vistos gold, explicam à SÁBADO vários comerciais da área. Havendo mais poder de compra, há mais investimento das marcas: tanto em novos modelos (exemplo do novo elétrico da Porsche, Taycan); como em pontos de venda requintados (a Jaguar/Land Rover abriu cinco showrooms de desde 2016, numa estética de boutique de luxo com rececionista à entrada). Soma-se a isto o desenvolvimento do software:
o carro-computador Tesla permite ao condutor programar karaoke, buzinas, jogos, partidas (até reproduz o som da flatulência), mapas de estações de carregamento, etc. Configurar é um verbo recorrente para clientes de topo. Querem o exclusivo do exclusivo, caso da gravação do nome do dono com iluminação branca ou azulada na embaladeira (zona dos pés para os passageiros da frente). Francisco Nunes, responsável de vendas da Jaguar Land Rover em Portugal, revela à SÁBADO
que tal opção (1.200 euros) costuma ser aplicada em carros de topo da marca, de 180 mil euros; assim como as pinturas especiais duo ton (duas cores, em zonas distintas do carro, por 13 mil euros). Podem ainda espreitar os bastidores da linha de montagem, na fábrica britânica de Solihull (junto a Birmingham): “Da estampagem de chapas metálicas aos toques finais meticulosos.” O mesmo faz a Bentley, que em julho passado levou um asiático de 50 anos, residente em Portugal, de Lisboa até à fábrica de Crewe (Reino Unido) para acompanhar o processo de produção do seu carro (Bentayga, de 320 mil euros, que inclui a gravação da paisagem da sua terra natal, montanhosa, no tabliê de madeira). No fim, o cliente VIP brindou aos 100 anos da marca, numa festa do showroom CW1 House, exclusiva para 70 convidados. As despesas foram suportadas pela Bentley, recorda Miguel Costa. Cumpre a máxima “follow the money”, seguindo o rasto dos consumidores das marcas de luxo: “Procuro pessoas de alto rendimento em eventos de relógios, vinhos, restaurantes, hotéis.”
Previsões para o final do ano
O responsável estima fechar o ano com 15 milhões de euros de faturação: ou seja, mais 5 milhões do que em 2018, um aumento de 50%. Previsões otimistas tem também Nuno Costa, relações-públicas da Porsche Ibérica que ambiciona encerrar 2019 com 105 milhões de faturação. Para 2020 eleva a fasquia: “Queremos atingir os mil carros vendidos em Portugal e 120 milhões de faturação.” Sempre em trânsito, revela que já foi duas vezes à antiga casa de Cristiano Ronaldo, em La Finca, Madrid, entregar-lhe um Panamera 4S e um 911 Turbo. Mais recentemente, a 27 de setembro, dina
VISITAS ÀS FÁBRICAS, CONFIGURAÇÕES DE INTERIORES E SOFTWARES DIVERTIDOS FIDELIZAM CLIENTES DE TOPO
mizou uma ação para 30 adeptos do modelo 911 no Autódromo de Portimão. Ali tiveram um curso de condução desportiva com o campeão ibérico de GTs, Pedro Marreiros. No momento em que fala à SÁBADO, a 10 de outubro, mostra-se confiante junto do carro-sensação: Taycan, o primeiro elétrico da Porsche, estacionado no jardim de uma moradia T6+1 na Quinta da Marinha, em Cascais. Cenário de luxo, a condizer com o modelo que Nuno Costa promove há dois anos. A pré-venda passou pelo envio de sucessivas newsletters, com atualizações e testes do modelo, para mais de 5.000 clientes. Os convidados, jornalistas e clientes, querem saber tudo sobre o desportivo de 761 cavalos, com baterias de lítio, interiores de pele, e uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 2,8 segundos.
Só em Portugal, há 250 reservas do modelo com depósitos a partir de 2.500 euros. Paulo, 58 anos, arquiteto sinalizou o seu Taycan (gama 4S, cujo preço-base é 110 mil euros) com 5.000 euros em maio passado e espera recebê-lo antes do verão, de 2020, com uma série de extras que o fazem subir até aos 130 mil euros. “É o primeiro elétrico que vou ter, mas não o primeiro Porsche”, admite o próprio. ◯