Televisão Na Turquia está a nascer um novo bollywood
As séries turcas estão a roubar cada vez mais espectadores a Hollywood. Já conquistaram o Médio Oriente, a Ásia e a América Latina.
Imagine que às alianças e conflitos de a Guerra dos Tronos se juntava a história de um amor proibido ao género de O Sexo e a Cidade. A ligação até pode parecer estranha, mas não é assim tão improvável. Na verdade, é mesmo esse o enredo de uma série turca que já foi vista por mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. Magnificent Century (em português, o século magnífico) é baseada na vida do sultão Solimão, que governou o Império Otomano durante 46 anos, e conta a história do seu caso de amor com uma concubina ucraniana com quem casa, indo contra a tradição. Não é como uma típica série de Hollywood, mas rivaliza com qualquer uma delas. Porquê? Quando estreou, em 2011, conquistou mais de um terço das audiências televisivas nacionais. Teve, além disso, uma equipa de consultores e de produção de 130 pessoas, 25 delas dedicadas apenas ao guarda-roupa. Cada episódio
CADA EPISÓDIO PODE DURAR MAIS DE DUAS HORAS E CHEGA A HAVER MAIS DE 50 PERSONAGENS PRINCIPAIS
da série custou, em média, 270 a 360 mil euros. Mais: a série foi vista em 55 países e tornou-se tão popular no Médio Oriente que o turismo árabe para Istambul disparou.
A Turquia é, atualmente, o segundo maior mercado de produção e distribuição de conteúdos televisivos (só atrás dos Estados Unidos), com sucessos de audiências na Rússia, China, Coreia ou América Latina. A culpa é das séries televisivas como a que descrevemos, que os especialistas locais apelidam de dizi.
E as dizi. têm algumas particularidades: cada episódio pode durar mais de duas horas, todos têm uma banda sonora original e pode haver mais de 50 personagens principais. São filmadas preferencialmente no centro histórico de Istambul – só se usam os estúdios quando é mesmo necessário. O argumento varia: tão depressa se conta a história de uma violação coletiva como os esquemas do Império Otomano. “Contam-se pelo menos duas versões da Cinderela, por ano, na televisão turca. Por vezes, a Cinderela é uma mulher solteira de 35 anos com uma criança; noutras é uma atriz principiante de 22 anos”, diz Eset Ackilad, um argumentista e realizador turco, ao The Guardian.
A fórmula para o sucesso
Apesar das variantes, todas obedecem à mesma fórmula: 1) não se pode pôr uma arma na mão do herói; 2) a família está no centro da narrativa; 3) o protagonista passa sempre por uma mudança radical; 4) o galã tem um desgosto de amor e fecha-se a novas paixões; 5) nada bate um triângulo amoroso. A globalização das séries turcas começou em 2006, com o sucesso Binbir Gece (1001 Noites), que tinha como protagonista o galã turco de olhos azuis Halit Ergenç – mais tarde, este ator assumiu um dos papéis principais de Magnificent Century.O programa foi vendido para 80 países. Apesar de ainda não terem conquistado os mercados de língua inglesa – o que pode ter a ver tanto com o público dos Estados Unidos e Reino Unido, que não gosta de assistir a programas com legendas, como com a cultura islâmica –, as dizi estão a roubar cada vez mais espectadores a Hollywood. Porquê? Talvez pela diversidade. “Normalmente, as histórias ocidentais têm mais sexo, mais violência e drogas. A televisão turca tem menos de tudo isso”, diz o realizador Eset Ackilad. ◯