SÁBADO

Música Entrevista aos Battles, antes do concerto no Jameson Urban Routes

De volta aos discos, os Battles atuam pela primeira vez em Portugal como duo a 22 de outubro, no Jameson Urban Routes. Falámos com o guitarrist­a e teclista Ian Williams sobre os “estranhos tempos” que vivemos.

- Por Pedro Henrique Miranda

“NÃO É ASSIM TÃO DIFÍCIL, se prestares atenção.” Após quase três décadas a fazer música estranha para ouvidos estranhos em bandas como Don Caballero, Tomahawk ou The Mark of Cain, perguntámo­s a Ian Williams se continua a ser difícil, para os Battles, pensar fora da caixa: “É uma questão de ouvir o que fazem as máquinas, cada uma tem a sua personalid­ade e pode conduzir a um novo tipo de sonoridade.”

O truque, para a banda, é precisamen­te “não fazer as coisas como é suposto”. O músico sente que “as pessoas são mais recetivas quando damos a volta às coisas, chegamos ao resultado pelo nosso próprio caminho, ao invés de seguir uma fórmula pré-estabeleci­da”. Talvez seja

Com convidados como Tune-Yards, Shabazz Palaces e Xenia Rubinos, a estreia dos Battles como duo, Juice B Crypts, é apresentad­a na abertura do Jameson Urban Routes, em Lisboa

por isso que Juice B Crypts,o seu quarto registo de originais, se revele um dos mais ecléticos da sua carreira, em que colaboram com um vasto leque de convidados e desafiam definições exatas. Williams revela que “quando fazes música instrument­al, estás sujeito a todo o tipo de pressões: vais tocar como um virtuoso, vais ser mais sinfónico, mais suave?” É bom, para o músico, “sentir que não tens de fazer nenhuma dessas coisas e deixares-te levar” pelos parceiros de estúdio. Parceiros que, neste caso, levaram a música abstrata dos Battles por caminhos como o rock progressiv­o de Jon Anderson, dos Yes, o R&B alternativ­o de Xenia Rubinos ou a art pop de Tune-Yards. O músico explica que procuraram contornar as limitações dos seus instrument­os – a guitarra e os sintetizad­ores

modulares, no caso de Williams, e a bateria de John Stanier – recorrendo a métodos como gravar samples dos seus próprios sons, passando-os depois por pedais de efeitos e moduladore­s de timbre e tom – o caso do tema Izm, que partilham com o duo de hip-hop alternativ­o Shabazz Palaces –, de maneira a “subverter o espectro dos géneros”.

O hip-hop de hoje, com a sua “forma de ser simultanea­mente acessível e experiment­al” é, de resto, uma importante referência para a banda, que lamenta que o rock teime em “querer estar eternament­e nos anos 60 e 70”. Questionad­o sobre se é uma altura para se estar numa banda como a sua, Williams responde que são “tempos estranhos”. Reconhecen­do que “a mecânica da divulgação musical está a acelerar”, afirma que, hoje em dia, “não estás a competir apenas com o que saiu este ano, mas com o Neil Young, os Parliament e os Beatles – com toda a história da música”. Ainda assim: “Sempre senti que a altura era de mudança.” E não há motivos para o desânimo, diz: “Estamos prestes a fazer uma digressão pela América Latina, e garanto-te que no Peru ou no Equador não há uma única loja com discos dos Battles.” Feitas as contas, citando Dickens: “Acho que se pode dizer que vivemos no melhor dos tempos e no pior dos tempos – acho que seria assim que começaríam­os o nosso romance.”

DO MUNDO PARA PORTUGAL

Atuando no contexto do Jameson Urban Routes, os Battles são a grande atração de um festival que leva à capital nomes de todo o mundo. Depois dos norte-americanos, que inauguram o festival (dia 22, 21h30), o Musicbox recebe o indie rock dos brasileiro­s Carne Doce, precedido do português Bruno de Seda (23, 21h30); a espanhola Angélica Salvi a abrir para o folk eletrónico de Kelsey Lu (24, 21h30) ou o set eletrónico quádruplo de DJ Haram, Badsista, Odete e DJ Narciso (24, 0h30). Na segunda metade do festival, os portuguese­s Moullinex e Bruno Pernadas interpreta­m Plantasia, o disco de culto de Mort Garson (25, 21h30); a espanhola Bad Gyal, a lusa Catxibi e o francês King Doudou agitam a pista de dança (25, 0h30) e os turcos Altin Gün, autores de um funk-rock psicadélic­o enraizado na Anatólia, estreiam-se no País, com a abertura dos lisboetas Môrus (26, 21h30). Os bilhetes custam entre €10 e €15. ◯

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Constituíd­a pelo baterista John Stanier (esq.ª) e o multi-instrument­ista Ian Williams (dir.ª), os Battles atuam na abertura do Jameson Urban Routes, a 22/10

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