O COLAPSO SILENCIOSO DO COMUNISMO
A Queda do Muro de Berlim trouxe mais paz e liberdade à Europa. Mas será que aproveitámos em toda a sua extensão a mais importante e inédita revolução pacífica do século XX?
Trinta anos depois da Queda do Muro de Berlim como aproveitámos a mais importante e inédita revolução pacífica ocorrida no coração da Europa ao longo de todo o século XX? Para lá da consagração da liberdade individual e coletiva como um valor intrinsecamente europeu e sem barreiras de qualquer espécie, a questão que hoje se coloca é saber como aproveitámos aquele acontecimento e todas as suas consequências mais importantes: a reunificação da Alemanha, o colapso silencioso do império soviético e do comunismo, a afirmação da vontade dos povos da Europa Central e Oriental contra a tirania e o abraço que deram aos valores europeus. Como bem sabemos, ao olhar para a Europa de hoje e para as contradições políticas emergentes no seu seio, aproveitámos mal um dos mais longos períodos de paz na Europa. Os primeiros 20 anos depois do abraço fatal de Gorbachev ao império ideológico e político que todos os dias parecia um verdadeiro Titanic, mergulhado numa crise económica, política e agrícola profunda, foram turbulentos em algumas zonas do espaço europeu. Na verdade, a Europa que emergiu da Queda do Muro teve as dificuldades próprias de um espaço político, cultural e económico que viu aparecer no seu coração 17 novos países. Economias planificadas. sociedades historicamente reprimidas nas suas liberdades e direitos fundamentais, grupos étnicos e as suas identificações ancestrais e, até, místicas, sobretudo em toda a zona dos Balcãs e do Cáucaso, guerras que trouxeram todo o tipo de
nacionalismos. Esta mistura explosiva foi amortecida pela força do sonho europeu, materializado na ideia de progresso económico e liberdade que as instituições da Europa comunitária concretizavam. Um sonho que, no entanto, conhece hoje a ameaça de novos muros da vergonha. Muros de ódio, de segregação, de xenofobia e racismo, de discriminação económica e social, determinados por uma nova geografia política e estratégica onde a velha Europa dos valores e ideais humanistas e universalistas tem dificuldade em encaixar-se. Os novos desafios trazidos pelo Brexit, pela xenofobia de Orbán, pelo populismo de Le Pen e Salvini, pelo expansionismo imperialista da Rússia, têm de ser derrotados com as mesmas armas com que o Muro de Berlim foi derrubado. A tolerância, o civismo, a resistência civil, a inteligência política, uma imprensa livre e instituições fortes. Afinal, todas as armas da democracia e do respeito pela liberdade individual.