BoJack Horseman está a terminar – o que esperar?
Uma viagem animada pelos recantos obscuros da experiência humana, BoJack Horseman presta-se a análises sociais, psicológicas, e mesmo filosóficas. Os últimos episódios chegam à Netflix na sexta, 31.
QUANDO concebeu a personagem de BoJack Horseman, um cavalo ator que ficou famoso numa sitcom americana dos anos 90 e passou as décadas subsequentes a esbanjar os espólios do seu sucesso, Raphael Bob-Waksberg podia ter criado apenas mais uma série de animação: sob a história destes animais falantes residiria uma sátira à superficialidade e à desumanização da indústria, à semelhança do que havia sido feito anos antes em Family Guy, South Park ou, antes disso, n’ Os Simpsons.
Assim foi nos seus primeiros episódios – e a resposta morna da crítica fez-se ouvir em concordância – mas, por altura do final da primeira temporada, já se percebia que Bob-Waksberg tinha os olhos noutros horizontes. A aclamação das temporadas subsequentes dava indícios de uma história que só melhorava com o tempo, não só porque as inside jokes deste universo em que convivem humanos e animais antropomórficos se constroem sobre si próprias, mas porque cada nova etapa trazia maior densidade às suas personagens-tipo: Diane Nguyen (Alison Brie), uma escritora desiludida pelo corporativismo e a falta de um rumo definido; Princess Carolyn (Amy Sedaris), uma agente que não consegue encontrar satisfação em ocupar todo o seu tempo com trabalho; ou Todd (Aaron Paul), o jovem tolo e inconsequente que, ainda assim, se debate com um propósito para a vida.
E, claro, BoJack (Will Arnett), um misantropo que se entrega ao luxo, hedonismo e abuso de substâncias à procura da felicidade e é o foco de reflexões sobre o trauma e o abandono (à conta dos pais abusivos), a culpa e o perdão (dos amigos, que magoa em sucessivos ciclos) e as constantes angústias da busca pela mudança. No início da sexta e última temporada, que encerra no dia 31, BoJack decide entregar-se à reabilitação, inaugurando uma nova etapa depois de chegar ao fundo do poço. Resta saber se é um verdadeiro recomeço ou uma velha história que se repete. W
Convidando à reflexão sobre os excessos da vida e a busca da felicidade, BoJack goza de uma densidade raramente vista em séries de animação