SÁBADO

Entrevista a Linda Martini a propósito do fim da digressão

A encerrar a digressão do seu quinto álbum, os Linda Martini dão dois concertos nos Coliseus de Lisboa e Porto. É o culminar de um percurso de luta, aprendizag­em e gratidão.

- Por Pedro Henrique Miranda

ENTREVISTA LINDA MARTINI

Linda Martini, o primeiro disco homónimo do quarteto pós-punk lisboeta, saiu em 2018, e já há material novo a ser refinado, mas nem por isso terminou a digressão que há quase dois anos percorre os quatro cantos do País. Em vésperas de assinalare­m o sucesso do seu quinto álbum (e, por arrasto, de uma carreira de quase 20 anos) com concertos nos Coliseus, falámos com Cláudia Guerreiro e Hélio Morais – respetivam­ente, o baixo e a bateria dos Linda Martini – sobre a ocasião e o percurso até aqui trilhado.

O fecho deste ciclo, ainda por cima com um disco homónimo, simboliza algo para vocês enquanto banda?

Hélio Morais: É especial chegares a um ponto da carreira em que consegues tocar em salas destas. O disco correu muito bem e viajámos muito com ele. Num momento em que já estamos a preparar coisas para o próximo, queríamos fechar este capítulo para que nos pudéssemos focar definitiva­mente no próximo passo – celebrar o nosso funeral mexicano.

Cláudia Guerreiro: Até parece que é um último disco de carreira, nada disso! Se for de meio de carreira já é bom, é sinal de que virão mais 5, o que quer dizer que ainda temos muitos anos pela frente.

HM: Este não é o disco que representa os Linda Martini, todos os discos fazem isso.

Quão confortáve­is estão neste papel de instituiçã­o do rock português?

CG: São conquistas que se celebram a cada novo disco, ficamos contentes. HM: Não somos uma banda transversa­l, com músicas na novela e que passe em

Cada um traz as suas experiênci­as de vida, toda a música que ouve, toda a bagagem de conhecimen­to e cultura para a banda. Tudo o que és está lá quando estás no estúdio e em palco

todas as rádios. O facto de termos público para fazer um Coliseu como fizemos em 2016 – sentir que temos um público que nos apoia para arriscarmo­s fazer duas salas destas novamente é algo que nos deixa muito felizes.

É um público que cresce convosco?

CG: Algum público foi ficando, outro perdeu interesse, mas temos tido a sorte de ter um público muito fiel.

Temos gente que começou a ver-nos com 8 anos e agora tem 28. Nós já temos quase 20 anos de carreira, e é estranho porque não nos sentimos velhos, somos mais ou menos as mesmas pessoas que éramos quando começámos a tocar. E nós continuamo­s a ouvir música, não é por termos 40 anos que desistimos de descobrir coisas. As pessoas vão ficando mais velhas mas continuam interessad­as.

Sentem que a maturidade que foram ganhando se reflete na vossa música?

HM: Começas a ter mais responsabi­lidades, não é que se coloque um peso maior na música, mas já não a fazes só a pensar em ti, fazes com o coração e a pensar na tua integridad­e mas com a consciênci­a de que não é só sobre ti. Do ponto de vista da música, o que a maturidade nos trouxe foi a certeza de que temos de perseguir aquilo que nos faz feliz e não o que os outros esperam de nós.

CG: Ganhámos também a maturidade de uma relação. No início era um bocado mais conturbado, éramos mais novos e não nos conhecíamo­s tão bem. Temos a grande vantagem de sermos quatro, se estás chateado com uma pessoa podes falar com outra. Eu e o [Pedro] Geraldes tínhamos uma relação dificílima, não coincidíam­os em nada, mas os pares iam mudando e nós aprendendo como é que o todo se pode equilibrar melhor.

Vai-se tornando mais fácil compor?

HM: Os nossos discos têm saído com um espaçament­o anos. CG: O Tem desafio ficado menor é muito mais com maior, fácil o passar fazer porque discos. dos queres fazer coisas diferentes, mas há mais prática a fazer acontecer. Aprendes a aproveitar mais aquilo que fazes.

HM: Antes era crucial que cada parte fosse especial. O baixo, a bateria, a guitarra, tudo tinha de ser incrível todo o tempo. E fomos percebendo que às vezes quatro coisas muito simples na combinação certa resultam muito melhor.

CG: Uma luta que temos desde o Olhos de Mongol [o álbum de estreia, de 2006] é aprender a dar espaço uns aos outros.

Quais são os planos para estes concertos?

HM: Além de nos focarmos neste disco, este ano celebram-se os 10 anos do Casa Ocupada, portanto é possível que toquemos algumas. Ainda não fechámos o set, mas já falámos sobre isso, se vai acontecer ou não não sei, porque tudo muda nesta banda, o que é fixe.

CG: Tentamos não deixar nenhum disco de fora, mas não gostamos de dar concertos muito longos, e este já vai ser mais longo do que o ideal. São concertos difíceis porque as músicas são duras... Não dá para ser sempre a abrir por 2h. W

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