AINDA NÃO FOI DESTA, JOÃO
O filho confessou-se ansioso com o resultado. O pai, experiente político, assegurava estar preparado para liderar o partido.
OVolvo XC 60 de João Almeida estava a chegar a Aveiro quando o telemóvel tocou mais uma vez. Já lhe tinham ligado colegas de partido e a mãe. Como seguia na conversa com a SÁBADO sobre as suas expectativas para o congresso, que começava nessa manhã, não atendeu. Dessa vez, foi diferente: – Olá, pai.
– Olá, Vicente. Já estás acordado? – Já.
– E então, o que contas ao pai? – Que acordei agora.
– [Risos] A mana já tinha acordado, que eu sei.
– Estou muito ansioso por amanhã. – Ó filho, não é preciso. Vicente, de 9 anos, referia-se à eleição do novo líder do CDS: o pai era um dos cinco candidatos. E estava, naturalmente, entre os dois principais candidatos à vitória. O advérbio de modo justificava-se pela notoriedade, pelos apoiantes de peso (todos os colegas do grupo parlamentar, António Pires de Lima, Adolfo Mesquita Nunes, Nuno Melo) e pela sua longa história centrista: está ligado ao partido há 27 anos, desde que o partido tinha cinco deputados.
“Foi um bocadinho alistar-me como voluntário para fazer esse combate de dar maior representatividade ao CDS”, explicou à SÁBADO. “Ele tem um excelente equilíbrio: ainda é jovem, mas tem experiência consolidada por ter sido secretário-geral e torna mais fácil saber qual é o caminho a seguir”, antevia na véspera o irmão Frederico Almeida, vereador em Cascais, à SÁBADO. A esperança estava lá entre os almeidistas. Do outro lado estava outro candidato forte, o líder da jota, Francisco Rodrigues dos Santos.
João Almeida recusava-se, contudo, a excluir Filipe Lobo D’Ávila, opositor de Assunção Cristas. “Não farei nada por essa bipolarização. Não estou nada convencido de que seja assim. Pode acontecer.” E aconteceu.
Esta foi a segunda vez que João Almeida, de 43 anos, saiu derrotado na corrida à liderança do CDS.
Na primeira vez, contra José Ribeiro e Castro, os “objetivos” e a “maturidade” eram bem distintos: “Eu queria marcar uma posição, não queria propriamente ser presidente do partido. Hoje, tenho uma experiência política diferente, sinto que estou preparado para ser presidente do partido.”
Em família
A madrugada que antecedeu o congresso fora longa, com muitas mensagens escritas e chamadas. Preparou alguns tópicos, “um grande avanço em relação ao costume”, em que apenas organiza as ideias na cabeça. Queria – e fê-lo – recusar no seu discurso ao congresso que era o candidato da continuidade, o herdeiro de Assunção Cristas.
Saiu de casa pelas 9h20, com o telemóvel e um porta-fatos nas mãos. A mulher, Catarina, entregou-lhe uma sandes. “O meu pãozinho favorito!” Era escuro, de centeio alemão. Comeu-o já sentado ao volante, enquanto fazia scroll no Facebook. E arrancou. No rádio, Stevie Wonder cantava I Just Called to Say I Love You.
Aqueles últimos quilómetros, desde São João da Madeira – a sua “terra”, para onde foi viver na juventude e a que regressa aos fins de semana – até Aveiro somaram-se aos “quatro a cinco mil quilómetros, excluindo os aviões para as ilhas”, de campanha.
O orçamento, superior a 3 mil euros, saiu-lhe do bolso. Excluindo uma noite dormida fora, regressou sempre a casa. “Há outra tranquilidade e é poupança.”
No banco de trás, a mulher, Catarina Alves, assumia que o facto de
FOI PARA AVEIRO COMO POSSÍVEL VENCEDOR, MAS RECUSOU SER O HERDEIRO POLÍTICO DE ASSUNÇÃO CRISTAS
também ela estar na política (é militante, inscrita em Sintra e antiga dirigente distrital da jota) dá-lhe a vantagem de compreender as noites e os fins de semana fora, em campanha. O tema de discussão do casal é outro: o “ponto do risoto”, dizem a sorrir. Ele, que gosta de cozinhar – mas que com a candidatura não tem tido tempo –. é um “perfeccionista” e segue as regras à risca; ela, também com pouco tempo, atira os ingredientes para a Bimby. O resultado não é consensual: “Um risoto é um risoto, não é um arroz malandrinho”, diz Almeida. Agora que perdeu pela segunda vez, o deputado terá tempo para voltar a aperfeiçoar a receita. W
GASTOU 3 MIL EUROS NA CAMPANHA E SÓ DORMIU UMA NOITE FORA DE CASA