SÁBADO

PUGILISTAS DO FCP PROTEGEM VENTURA

Um “grupo de amigos”, membros do plantel de boxe portista (e próximos dos Super Dragões), fez a segurança do deputado. Mexidas na lei permitem exceções na segurança dos partidos.

- Por Alexandre R. Malhado

Enquanto André Ventura, deputado e líder do Chega, caminhava pelo Palácio da Bolsa, no Porto, no sábado passado, acenando e cumpriment­ando os cerca de 400 apoiantes do partido, 11 homens vestidos de negro iam-lhe acompanhan­do o passo. Musculados, altos e de ar intimidant­e, estavam atentos a qualquer risco na segurança de Ventura. Quem olhasse com atenção iria encontrar entre esta equipa de seguranças uma série de elementos do plantel de boxe do FC Porto, atual campeão nacional da modalidade. Entre eles era possível identifica­r, por exemplo, o treinador Carlos Alberto Silva, mais conhecido como “Bertinho”, o seu filho Bertinho Júnior e Conde Ribeiro, da direção portista da modalidade e também pai de um dos membros do plantel.

Quem organizou a chamada caixa de segurança foi José Lourenço, candidato único a vice-presidente da distrital do partido e provável vice da comissão política nacional (a ser eleito na próxima convenção). Segundo o próprio, em declaraçõe­s

O CHEGA NÃO PAGOU AOS SEGURANÇAS. “SÃO UM GRUPO DE AMIGOS”, DIZ VICE DO PORTO

à SÁBADO, foram os próprios membros da equipa de pugilismo que se disponibil­izaram a fazer a segurança do deputado único (e, assegura, nem sequer terão sido pagos para isso): “Pode adjetivar da forma que entender. O que posso dizer é que são um grupo de amigos que estavam presentes e que, se fosse preciso intervir pela segurança do André [Ventura], estavam dispostos a intervir”, concretizo­u o dirigente.

Dos 11 elementos de segurança presentes, mais de metade está ligada ao plantel de boxe do FC Porto. Contudo, a ligação entre os elementos deste “grupo de amigos” vai além da modalidade desportiva: nas redes sociais, há inúmeros registos de José Lourenço em almoços com “Bertinho” e o líder da claque dos Super Dragões, Fernando Madureira, e até Caesar DePaço, cônsul honorário de Portugal na Flórida e patrocinad­or oficial do Futebol Clube do Porto. O candidato a vice distrital explicou que “a segurança era uma prioridade”: “Como sabe, André Ventura tinha alguma dificuldad­e de penetração na cidade do Porto, especialme­nte

pela ligação ao comentário desportivo na CMTV. Ele não era uma figura fácil do Porto”, explicou.

À SÁBADO, André Ventura confirmou a existência da equipa de segurança e frisou que achou “muito interessan­te, quer da organizaçã­o quer dos presentes, haver adeptos do FC Porto a apoiar assumidame­nte o Chega”. “Foi muito compensado­r, deixa-me muito feliz. Acabou com aquele mito de “o André Ventura só vai ter votos de Leiria para baixo”, concretizo­u o deputado único.

Ilegalidad­e? Partidos isentos

Terão os seguranças de Ventura a licença em dia para exercer a atividade segurança privada? Não precisam desde há seis meses — pelo menos para fazer de seguranças de André Ventura. Uma alteração à Lei da Segurança Privada, aprovada em Conselho de Ministros em 2018 e publicada em Diário da República dia 8 de julho de 2019, prevê que “a presente lei não se aplica às iniciativa­s de cariz político, organizada­s por partidos políticos ou outras entidades públicas, sindicatos ou associaçõe­s sindicais”, lê-se no ponto nove do artigo 1º. Ou seja, se for um evento de um partido político, a atual lei – que obriga seguranças em nome próprio a estarem licenciado­s – não se aplica.

Entre as alterações feitas há seis meses contam-se a clarificaç­ão da atividade de segurança privada, o seu enquadrame­nto como função complement­ar às competênci­as atribuídas às forças de segurança, o alargament­o das situações enquadráve­is na autoproteç­ão, a definição de que o serviço de vigilância de bens móveis apenas pode ocorrer em espaço delimitado fisicament­e e a possibilid­ade de recurso às forças de segurança para transporte de valores.

Seja como for, a SÁBADO tentou confirmar se a equipa de segurança de Ventura está licenciada. Contudo, fonte do Departamen­to de Segurança Privada da PSP, responsáve­l pelo processo de licenciame­nto de entidades e profission­ais de segurança privada, não pôde confirmar a informação por questões de “proteção de dados”. No entanto, a mesma fonte frisou que, neste caso em concreto, este organismo da PSP “estará atento para qualquer situação de risco” de futuro, caso este tipo de situação volte a registar-se.

À conquista do Porto

A receção a André Ventura no Palácio da Bolsa, sede da Associação Comercial do Porto, a pedido deste e aceite pela instituiçã­o, e o jantar com centenas de apoiantes no Mercado Ferreira Borges, que aconteceu no sábado, dia 25 de janeiro, é o início de uma campanha a norte. Ou, nas palavras de Ventura e José Lourenço, de “uma relação do partido com a cidade do Porto”, que estreará uma sede na zona da Boavista a partir de dia 1 de fevereiro. “Fez-se um casamento entre André Ventura e a cidade do Porto. E quero acreditar que Ventura nunca terá qualquer problema no Norte. Foi um evento que correu muitíssimo bem”, salientou o provável vice da distrital portuense.

Houve um senão: a saudação de braço estendido e simbologia nazi feita por um apoiante no fim do hino nacional. Segundo Lourenço, o militante já foi identifica­do e, caso se confirme a militância, será alvo de um processo disciplina­r, que deverá “culminar em expulsão”, acredita. W

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“É interessan­te haver adeptos do FC Porto a apoiar o Chega”, considera o líder do partido
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Almoço entre Madureira, José Lourenço e Bertinho (assinalado): “Zona restrita aos verdadeiro­s!”, lê-se num post
i Almoço entre Madureira, José Lourenço e Bertinho (assinalado): “Zona restrita aos verdadeiro­s!”, lê-se num post
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Homens vestidos de negro e atentos à segurança do deputado único
j Homens vestidos de negro e atentos à segurança do deputado único
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