SÁBADO

E O ÓSCAR VAI PARA... SERÁ QUE ACERTA?

A SÁBADO preparou-lhe um boletim de apostas para pôr a cinefilia à prova durante a 92.ª cerimónia dos prémios da Academia, que se realiza na noite de domingo (dia 9) para segunda-feira.

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Q uma nova geração chega às salas. Claro que, no cinema – toda a arte é subjetiva, mesmo quando custa milhões de euros –, o juízo qualitativ­o é individual. Mas há consensos, tendências, escolas, cânones, indiscutív­eis brilhantis­mos. É pois difícil olhar para 80 anos desta feira de vaidades e não pressentir que, no essencial, é sempre a descer.

Senão repare-se: os Óscares de 1940 consagrari­am as longas-metragens produzidas em 1939, por muitos considerad­o o melhor ano de sempre da fábrica de sonhos hollywoodi­ana. Entre os nomeados a Melhor Filme, estavam E Tudo o Vento Levou – seria o vencedor – de Victor Fleming (e de George Cukor, e de King Vidor, e de David O’ Selznick...), Mr. Smith Goes to Washington, de Frank Capra, o Ninotchka de Lubitsch, o Stagecoach de Ford, O Feiticeiro de Oz eO Monte dos Vendavais na versão de William Wyler. Fora dos nomeados ficariam Gunga Din de George Stevens – o melhor filme de aventuras de sempre? –, Mulheres de Cukor, A Grande Esperança de Ford, o genial Meia-Noite de Mitchell Leisen, a obra-prima absoluta Only Angels Have Wings por Howard Hawks, A Pousada da Jamaica de Hitchcock ou Heróis esquecidos de Raoul Walsh. 15 meses depois da cerimónia de 1940, estreava-se Citizen Kane. Como superar isto?

A 4 de abril de 1960, os Óscares premiariam Ben-Hur de William Wyler (um pastelão, mas um pastelão épico e por vezes vibrante), em desfavor do magnífico – e ousado para a época – Anatomia de Um

Crime de Otto Preminger, além de um Zinnemann precioso, hoje quase esquecido, A História de uma Freira, com Audrey Hepburn. O ano anterior tinha dado a estrear Quanto Mais Quente Melhor de Billy Wilder, Bruscament­e no Verão Passado de Tennessee Williams por Mankiewicz ou o Imitação da Vida de Douglas Sirk.

Chegados a 1980, bastam duas palavras: Apocalypse Now. Claro que, à boa maneira da já então vetusta Academia, Coppola perderia o ceptro de Melhor Filme para... Kramer Contra Kramer, espécie de

Em 1980, o clássico de guerra Apocalypse Now perdeu o Óscar de Melhor Filme para Kramer Contra Kramer, uma espécie de Marriage Story

Marriage Story sem a panache e a fina ironia. Também por lá andavam All That Jazz de Bob Fosse, Bem-Vindo Mr. Chance de Hal Ashby, Manhattan de Woody Allen e O Rapaz do Tambor de Volker Schlöndorf­f.

Em 2000? Venceria Beleza Americana de um tal... Sam Mendes (realizador de 1917), escolhido entre trabalhos de Michael Mann (O Informador) e David Lynch (Uma História Simples), O Sexto Sentido de M. Night Shyamalan e o melhor filme norte-americano em muitos anos, Magnolia, de Paul Thomas Anderson.

É verdade que 2020 tem para amostra um filme notável: Parasitas, de Bong Joon Ho (e mais uma farsa, Jojo Rabbit, singular). Mas que dizer de O Irlandês ao lado de Taxi Driver (1975) ou de Touro Enraivecid­o (1980)? W

Q dos confirmam que o cinema não está só vivo, está também em todo o lado.

Assim, para Melhor Filme do Mundo deste ano concorreri­am: Violeta, de Kantemir Balagov (Rússia), Parasitas, de Bong Joon Ho (Coreia do Sul), Dor e Glória, de Pedro Almodóvar (Espanha), Monos, de Alejandro Landes (Colômbia), The Souvenir, de Joanna Hogg (Reino Unido), Mulher em Guerra, de Benedikt Erlingsson (Islândia), Portrait de la Jeune Fille en Feu, de Céline Sciamma (França), The Nightingal­e, de Jennifer Kent (Austrália), Três Rostos, de Jafar Panahi (Irão), An Elephant Sitting Still, de Bo Hu (China), e Bacurau, de Kleber Men

A maioria dos melhores filmes do ano não vem da América, confirmand­o que o cinema não só está vivo como está em todo o lado – da Rússia à Colômbia, da Coreia do Sul ao Irão

donça Filho e Juliano Dornelles (Brasil).

Quanto às Melhores Representa­ções, dispensand­o a redutora divisão masculino/feminino, a disputa seria entre Viktoria Miroshnich­enko e Vasilisa Perelygina, em Violeta, todo o elenco de Parasitas, António Banderas em Dor e

Glória, os oito miúdos atores de Monos, Honor Swinton Bryne e Tom Burke em The Souvenir, Willem Dafoe e Robert Pattinson em The Lighthouse, Adam Sandler em

Uncut Gems; Kelvin Harrison Jr. por Luce e Waves, Florence Pugh em dois filmes, Midsommar e Mulherzinh­as, Elisabeth Moss em Her Smell, Noémie Merlant e Adèle Haenel em Portrait de la Jeune Fille en Feu, e Aisling Franciosi, Baykali Ganambarr e Sam Claflin em The Nightingal­e.

Finalmente, aos americanos restariam as tais cinco nomeações para Melhor Filme: Uncut Gems, dos irmãos Safdie, Mulherzinh­as, de Greta Gerwig,

Era Uma Vez Em...Hollywood,

de Quentin Tarantino, The Last Black Man in San Francisco, de Joe Talbot, e O Irlandês, de Martin Scorsese. W

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 ??  ?? Com Era uma Vez em... Hollywood, Tarantino reescreve a História (de um crime real) com uma história feita de referência­s cinematogr­áficas
Com Era uma Vez em... Hollywood, Tarantino reescreve a História (de um crime real) com uma história feita de referência­s cinematogr­áficas
 ??  ?? Joker pega numa personagem do universo dos super-heróis e humaniza-a, num retrato de um doente mental
Joker pega numa personagem do universo dos super-heróis e humaniza-a, num retrato de um doente mental
 ??  ?? Com Joe Pesci e Robert De Niro, O Irlandês é uma espécie de requiem do filme de gangsters clássico
Com Joe Pesci e Robert De Niro, O Irlandês é uma espécie de requiem do filme de gangsters clássico
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 ??  ?? Parasitas pode não ganhar o prémio, mas é sem dúvida o melhor filme do ano: a luta de classes nunca foi tão surpreende­nte
Parasitas pode não ganhar o prémio, mas é sem dúvida o melhor filme do ano: a luta de classes nunca foi tão surpreende­nte
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Christian Bale e Caitriona Balfe em Le Mans'66 – O Duelo, um dos candidatos a Melhor Filme

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