SILÊNCIO, HÁ UM NOVO AVILLEZ
E vai cantar-se o fado. Ana Moura e António Zambujo são os curadores artísticos do Canto, o 19.º restaurante do grupo de José Avillez. À cozinha portuguesa juntam-se concertos intimistas.
JÁ NÃO HÁ casas de fado como antigamente. Não querendo estragar o fim da história, também não é esta nova casa lisboeta que vai ser solução, até porque no novo Canto, de José Avillez, não se come só qualquer coisinha, mas pratos de um dos mais celebrados chefs portugueses; e também não se canta só o fado, embora os programadores artísticos sejam Ana Moura e António Zambujo.
Ana Moura tem saudades, como confessa antes de jantar, de um sítio onde “ficar até às tantas a ouvir música e conversar com pensadores”. Quando chorou este lamento no ombro de Avillez – tudo isto em sentido figurado – o chef disse sem pestanejar “tenho o espaço para isso”. Tinha: o restaurante com palco abriu esta terça-feira no Largo São Carlos, em Lisboa.
“O repertório vai adaptar-se ao espaço [intimista], em concertos de 45 minutos e vamos apresentar-nos aqui com a máxima regularidade possível”, promete Zambujo. “Vamos juntar as duas grandes invenções deste mundo: a cozinha e a música”, atira Avillez. Este espaço, agora projetado pelo Studio As
tolfi, já estava na sua mão – foi antes o Belcanto. Quando quis fazer obras para aumentar o restaurante de alta cozinha, os vizinhos torceram o nariz e acabou por mudar o Belcanto
O bilhete para um jantar e espetáculo custa €75 (sem bebidas). Para os que não compraram bilhete no site há o balcão com um consumo mínimo de €20
para a porta ao lado no ano passado.
Sete meses depois de fechar três restaurantes na capital, José Avillez reabre o número 10 do largo, agora escurecido, cheio de objetos ligados ao fado e um bar ao fundo da sala para sentar quem não comprar bilhete (jantar e concerto por €75 no site).
O Canto é assim o irmão modesto do Belcanto – perdeu letras do nome e dedicou-se a uma cozinha “tradicional burguesa”, diz o chef: começa-se com perdiz de escabeche ou tártaro de novilho, segue-se para arroz de marisco, bife do lombo, pluma de porco alentejano e, a terminar, há pudim abade de Priscos, toucinho do céu ou farófias delicadas.
Não é a “casa de fado de antigamente” – esperam-se outros géneros musicais e Ana Moura gostaria de ter pintores ao vivo. Este Canto é antes Avillez a olhar para uma restauração que não é só a experiência gastronómica, mas que se liga às artes e à cultura – mais do que já faz no seu Beco (com espetáculos de cabaré): aqui promete artistas consagrados no palco. W