SÁBADO

Julgamento

A instrução do processo dos jihadistas portuguese­s começa este mês. O único preso pede a nulidade da acusação.

- Por Nuno Tiago Pinto

Instrução de terrorista começa a 21 de fevereiro

Uma acusação repleta de factos inócuos, juízos de valor e conclusões. Este é o resumo que a defesa de Rómulo Costa faz do documento de mais de 200 páginas em que o Ministério Público (MP) acusou oito portuguese­s de terem aderido, financiado e recrutado em nome do autoprocla­mado Estado Islâmico. Pelo menos na parte que lhe diz respeito. Já o juiz Carlos Alexandre, que conduzirá a fase de instrução, marcou a primeira sessão para o próximo dia 21 no Tribunal de Monsanto.

No requerimen­to de abertura de instrução, a defesa de Rómulo Rodrigues da Costa, a cargo do advogado Lopes Guerreiro, pede a nulidade da acusação por ela não conter a narração, mesmo que sucinta, dos factos que fundamenta a aplicação de uma pena ao arguido. “Não se encontra um facto concreto e objetivo dos crimes”, lê-se no documento.

Versões diferentes

Em dezembro, Rómulo foi acusado de três crimes: adesão e apoio a organizaçõ­es terrorista­s; recrutamen­to para organizaçõ­es terrorista­s; e financiame­nto ao terrorismo. O MP acredita que ele cedeu o passaporte ao irmão mais novo, Celso, para este conseguir viajar para a Turquia – onde tinha sido proibido de entrar – e daí seguir para a Síria.

Durante a investigaç­ão, Rómulo foi também apanhado em escutas telefónica­s a discutir com os irmãos as batalhas em que participar­am e as armas que usaram. Falou também de como podia ajudar Ashan Iqbal, irmão das mulheres de Celso e Edgar, detido na Tanzânia e acusado de terrorismo. E discutiu como poderia localizar e repatriar os filhos dos irmãos e as suas mulheres. Entre os seus documentos a Judiciária encontrou também letras de hip-hop com inspiração jihadista.

No requerimen­to, a defesa tenta desmontar as várias acusações. Sobre o uso do passaporte, garante que “não há prova de que ele tenha cedido o seu passaporte ao irmão ou a interposta pessoa”. Mais: “desconhece como Celso se apossou e usou o passaporte”, acrescenta­ndo que, além disso, “nessa altura não era proibido viajar para a Síria nem o Estado Islâmico tinha sido declarado uma organizaçã­o terrorista”.

Sobre os telefonema­s com os irmãos, a defesa diz que “são moralmente censurávei­s” mas que deles não “resulta a prática de qualquer crime”. Já sobre os contactos para saber do estado dos filhos e das esposas dos irmãos e conseguir o seu repatriame­nto “não se vê que ilícito é”.

Em relação às letras e aos documentos encontrado­s na posse de Rómulo, Lopes Guerreiro garante que também não são crime: são músicas e capas de álbuns “disponívei­s no YouTube há vários anos”.

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Reside em Londres há 20 anos. Aí converteu-se ao islão, tal como os irmãos. Foi preso em junho de 2019
Rómulo Rodrigues da Costa Reside em Londres há 20 anos. Aí converteu-se ao islão, tal como os irmãos. Foi preso em junho de 2019

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