SÁBADO

Insólito

Depois dos canais para cães, a nova moda no mundo dos animais domésticos são vídeos e filmes para gatos. Têm quase sempre os mesmos protagonis­tas: apetitosos passarinho­s (e esquilos).

- Por Marco Alves

O sucesso dos canais de YouTube para cães e gatos

Oprimeiro ponto que se deve reter é o seguinte: se vai enveredar por este caminho é bom que não tenha amor à sua televisão. Ou ao portátil. Porquê? Porque estamos a falar de gatos. Mas antes de explicar melhor, comecemos por um enquadrame­nto histórico. Com cães.

Tudo começou em fevereiro de 2012, quando foi lançado nos EUA o Dog TV, o primeiro canal de televisão dedicado a cães, especialme­nte aos que ficam longas partes do dia sozinhos em casa. É um canal de cenas fofinhas: cães a brincar, a correr, a latir, a fazer buracos na relva, a interagir com crianças. O canal ainda existe e continua disponível em Portugal, no cabo.

A resposta dos gatos veio logo a seguir, e com muitas variantes. Aparenteme­nte, um gato não tem muito interesse nas coisas que interessam aos cães, o que não é surpresa. A receita tinha de ser diferente e pode ser vista, por exemplo, no YouTube – se se procurar por “Cat TV” ou “Movies for Cats”.

Os vídeos são muito simples: há uma câmara fixa apontada a um tronco, ou a uma mesa, ou a um terreno, e no meio há sementes e frutos. O vídeo consiste na passagem pelo local de dezenas de animais para se banquetear­em neste lanche fácil. Pequenos e amorosos esquilos, lindos pintassilg­os, pardais, melros, piscos e ratinhos.

É aqui que entra a falta de amor que os donos devem ter pela televisão, ou pelo portátil. Quem tem ou já teve um gato sabe que um passarinho parado na televisão vai receber provavelme­nte uma patada do gato. Também há vídeos de aquários, o que resulta no mesmo.

“A tv não foi feita para gatos”

A moda dos vídeos para gatos (ver caixa) tem tido uma pequena explosão de mediatismo nas redes sociais – alguns vídeos já ultrapassa­ram os 7 milhões de visualizaç­ões –, com milhares de referência­s, e muitas centenas de patadas. Talvez após um ou outro ataque ao ecrã, os gatos percebam que não vale a pena, relaxem e desfrutem de um bom serão à televisão. Se isso é bom para o animal, é a outra questão que se começa a debater nos EUA.

À SÁBADO, Liliana Sousa, especialis­ta em comportame­nto animal, começa por frisar que “a televisão não foi feita para cães e gatos” e que “precisamos de muitos mais estudos sobre esta questão”. No caso dos filmes para gatos, a professora universitá­ria no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar vê tudo menos relaxament­o. “O gato está a ser enganado, estão a dar-lhe um paradoxo: vê, mas não cheira nem toca. E isso provoca stress.” W

“O QUE O GATO QUER É CAPTURAR E COMER AQUELE PÁSSARO. ISSO NÃO É RELAXANTE”

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Câmara fixa, sementes, frutos secos ou pão. E depois é deixá-los pousar

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