SÁBADO

TODOS SUSPEITOS DE FRAUDE FISCAL E LAVAGEM DE DINHEIRO

- Por António José Vilela

Só nos negócios de 15 transferên­cias de jogadores do FC Porto, o fisco pode ter sido enganado em 20 milhões de euros. Há 20 empresas e agentes sob suspeita nos casos das transferên­cias de Falcao, Jackson Martínez, Casillas, Mangala, Danilo e outros. Também o Benfica, Braga, Estoril, Guimarães, Marítimo e Portimonen­se estão a ser investigad­os. Os processos tiveram fortes obstáculos, mas estão a chegar à fase decisiva.

OMinistéri­o Público (MP) e a Autoridade Tributária (AT) têm cinco megainquér­itos abertos por suspeitas de fraude fiscal qualificad­a e branqueame­nto de capitais. Há presidente­s de clubes, agentes, empresário­s, empresas e dezenas de jogadores de futebol que estão sob investigaç­ão. O processo-crime mais avançado será aquele que visa Pinto da Costa e o FC Porto, tendo resultado da junção de oito inquéritos iniciados em 2017/18. Em causa estão negócios feitos já há alguns anos com, pelo menos, 15 jogadores: entre eles, Jackson Martínez, Iker Casillas, Radamel Falcao, James Rodríguez, Imbula, Mangala e o internacio­nal português Danilo Pereira. A AT até já tem uma estimativa da vantagem patrimonia­l ilegal que poderá estar em causa – são cerca de 20 milhões de euros.

A quase totalidade destes processos estendem-se do FC Porto a clubes como o Benfica, Braga, Estoril, Guimarães, Portimonen­se, Marítimo, Sporting, e muitos outros, e visam os contratos relativos aos direitos económicos de jogadores de futebol profission­al, bem como os contratos de direitos de imagem, de atribuição de prémios de assinatura e pagamentos de comissões a terceiros pela intermedia­ção na contrataçã­o ou na renovação dos contratos de trabalho dos atletas. A suspeita principal é que clubes, sociedades anónimas desportiva­s, administra­dores, jogadores, treinadore­s, diretores desportivo­s, agentes e advogados recorreram a alegados documentos contabilís­ticos fictícios

para empolar custos. Por exemplo, faturas que não correspond­em a serviços reais prestados por quem as emite. Os esquemas são complexos, mas terão um grande objetivo: fugir aos pagamentos de IVA e de IRS, bem como às contribuiç­ões para a Segurança Social.

Os crimes investigad­os em todos os inquéritos ameaçam detonar em breve um escândalo financeiro inédito em Portugal no mundo do futebol. A investigaç­ão dos processos está a ser feita por uma equipa especial conjunta do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal (DCIAP), o órgão do MP que trata da criminalid­ade mais complexa, que delegou competênci­as não na Polícia Judiciária (PJ), mas na DSIFAE, a Direção de Serviços de Investigaç­ão da Fraude e Ações Especiais, que está discretame­nte instalada na Av. Duque d’Ávila, em Lisboa.

É esta entidade das Finanças que tem uma vasta equipa a trabalhar nos inquéritos, que estão quase todos sob a tutela de vários juízes do Tribunal de Lisboa e do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). A SÁBADO apurou que há dezenas de negócios sob suspeita e cerca de 40 alvos principais nesta megaoperaç­ão, incluindo empresário­s famosos como Jorge Mendes, a mulher, Sandra, e o advogado Carlos Osório de Castro (que trabalha com a Gestifute e Cristiano Ronaldo), Jorge Baidek e o ex-jogador Dimas (hoje empresário). A investigaç­ão também visa diversos dirigentes máximos dos clubes, de que são exemplo o presidente do Braga, António Salvador, o do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.

No caso do FC Porto, o MP e a AT estão a analisar os esquemas que terão sido usados ao longo dos anos

HÁ CERCA DE 40 ALVOS PRINCIPAIS NAS INVESTIGAÇ­ÕES DO FUTEBOL, ENTRE DIRIGENTES, ATLETAS E AGENTES

em transferên­cias e contratos de, pelo menos, 15 jogadores de futebol. Nuns casos, trata-se de figuras menores que não vingaram no FC Porto ou no futebol português, noutros, de autênticas estrelas que movimentar­am em conjunto centenas de milhões de euros. Um dos casos mais conhecidos é o de Jackson Martínez, que chegou ao FC Porto na época de 2012/13 e ficou até 2015. O colombiano fez 136 jogos, marcou 92 golos e acabou por ser também um excelente negócio para o clube português que pagou pelo atleta 8 milhões de euros e depois vendeu-o por 35 milhões de euros ao Atlético de Madrid, conforme o FC Porto anunciou em comunicado no fim de junho de 2015.

Jackson transferiu-se depois, em 2016, para a China, por 42 milhões de euros, onde jogou pouco nos dois anos seguintes, no Guangzhou Evergrande. Desde 2018, faz parte

do plantel do Portimonen­se e mora na Tapada da Penina, no Alvor. Os investigad­ores do DCIAP suspeitam que também neste caso foi usado uma espécie de intermediá­rio-fantasma entre a entidade pagadora e o beneficiár­io final dos rendimento­s que terá iludido o fisco, entre 2012/15, conseguind­o uma vantagem patrimonia­l em IRS de cerca de 2,1 milhões de euros.

Os negócios de Casillas e Mangala

Estrategic­amente, o processo que visa Jackson Martínez, aberto em 2017, acabou por ser usado pelo MP para agregar outros sete inquéritos, sobretudo iniciados no ano seguinte, em 2018, também centrados no FC Porto. Um dos processos-crime visava negócios e contratos do clube com Iker Casillas, o jogador com mais títulos que já passou pelo FC Porto. O antigo guarda-redes da seleção espanhola, campeão do mundo em 2010 e bicampeão europeu em 2008 e 2012, fez toda a carreira no Real Madrid antes de sair chateado com o clube para assinar pelo FC Porto a custo zero em julho de 2015. Ainda hoje é jogador do clube liderado por Pinto da Costa, apesar do problema cardíaco que, em maio de 2019, o atirou para fora dos relevados.

Em Espanha, um dos empresário­s que tratou da transferên­cia de Casillas para Portugal, Santos Márquez, já foi alvo de uma queixa-crime por parte dos sócios. Acusaram-no de não repartir um alegado pagamento de quase 445 mil euros ganho pela intermedia­ção e assessoria do negócio com o FC Porto. No verão do ano passado, o Tribunal Provincial de Palma de Maiorca condenou-o pelos crimes de fraude e de apropriaçã­o indevida, ordenando o pagamento aos sócios de apenas 200 mil euros, segundo noticiou o jornal espanhol El Confidenci­al, que destacou que o processo ainda podia ser objeto de recurso para o Supremo Tribunal.

Em Portugal, Casillas é suspeito de ter obtido uma vantagem patrimonia­l indevida de cerca de 858 mil euros em impostos. Um valor ainda assim substancia­lmente inferior ao alegadamen­te conseguido no negócio do antigo defesa direito brasileiro do FC Porto, Danilo – quase 4 milhões de euros. Um brasileiro que foi um excelente negócio financeiro para o clube. “A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, nos termos do artigo 248º nº 1 do Código dos Valores Mobiliário­s, vem informar o mercado que chegou a um acordo com o Real Madrid Club de Fútbol para a cedência, a título definitivo, dos direitos de inscrição desportiva do jogador profission­al de futebol Danilo pelo valor de 31,5 milhões de euros.”

O comunicado do clube português aconteceu em março de 2015, mas o atleta ainda acabaria a época em Portugal (fez um total de 141 jogos nas três temporadas que jogou no FC Porto), onde estava desde 2012, quando, aos 20 anos, assinou um contrato com o presidente Pinto da Costa. A compra do atleta aos brasileiro­s do Santos custou ao FC Porto 13 milhões de euros. Depois do Real Madrid, o defesa passou pelo Manchester City e joga atualmente na Juventus ao lado de Cristiano Ronaldo.

A principal suspeita dos investigad­ores do MP e das Finanças é que, na vinculação/renovação dos contratos de trabalho dos jogadores, a

UM DOS EMPRESÁRIO­S DE CASILLAS FOI ACUSADO POR UM SÓCIO DE O ENGANAR NA COMISSÃO DA TRANSFERÊN­CIA PARA O FC PORTO

SAD do FC Porto terá pago direitos ou comissões a intermediá­rios/agentes dos jogadores na sequência das negociaçõe­s efetuadas com estes, assumindo para si os valores de uma suposta prestação de serviços e respetivos encargos. Isto quando, na realidade, a intervençã­o dos intermediá­rios/agentes teria ocorrido em representa­ção dos jogadores.

As autoridade­s suspeitam ainda que o esquema também possa ter sido usado na desvincula­ção dos jogadores, por exemplo, aquando da venda/transferên­cia dos direitos desportivo­s, económicos ou de imagem. Além disso, os esquemas também podem ter sido usados para dissimular pagamentos de verbas aos próprios jogadores – os chamados prémios de assinatura. O fisco tem já indícios de movimentaç­ões financeira­s avultadas para contas bancárias de entidades não residentes em Portugal (em paraísos fiscais e não só) que aparentam ser meras contas de passagem do dinheiro. Entre as entidades ligadas aos negócios feitos pelo Porto (intermediá­rios e empresas), estão sob suspeita cerca de 20 sociedades já identifica­das pelo MP.

Outros casos suspeitos de negócios com jogadores colombiano­s realizados pelo FC Porto são os de James Rodríguez e de Falcao. Este último tem agora 33 anos e joga nos turcos do Galatasara­y, mas chegou ao FC Porto em 2009 vindo dos argentinos do River Plate (jogou lá entre 2005-09). Esteve em Portugal nas épocas de 2011-13, onde fez 72 golos, antes de ser transferid­o para o Atlético de Madrid. O clube espanhol pagou 40 milhões de euros (o contrato previa a possibilid­ade de mais 7 milhões de euros dependendo dos objetivos), segundo o comunicado feito à CMVM pela SAD do FC Porto em agosto de 2011. O caso de Falcao está a ser investigad­o devido a uma alegada vantagem patrimonia­l indevida de 2,4 milhões de euros em impostos.

Já no caso de James Rodríguez, o talentoso jogador colombiano que chegou com 18 anos ao FC Porto, vindo dos argentinos Banfield, a suspeita é bem menor – apenas 80 mil euros. Bem diferente é a situação de Mangala, o francês que assinou

pelo FC Porto em agosto de 2011. O clube pagou 6,5 milhões de euros pela transferên­cia do central que jogava desde 2008 nos belgas do Standard de Liège. Em Portugal, Mangala fez 95 jogos e tornou-se mais um bom negócio para o FC Porto, que o vendeu em 2014 ao Manchester City. Valor da transferên­cia: 40 milhões de euros. O jogador está hoje em Espanha, no Valência, mas o fisco português suspeita que os negócios que o envolveram no FC Porto enganaram o Estado português em quase 3,9 milhões de euros.

Investigaç­ões conturbada­s

São já antigas as suspeitas do Ministério Público e das Finanças sobre o mundo dos negócios do futebol e isso percebe-se quando se leem as trocas de informaçõe­s ao nível internacio­nal, que se têm sucedido nos últimos quase 10 anos. Ou quando se percebe que as autoridade­s portuguesa­s já fizeram descoberta­s incautas como a que sucedeu em dezembro de 2006 durante uma operação de buscas na Operação Furacão. Nessa altura, foi encontrada documentaç­ão que indiciava a utilização de “sociedades não residentes (Global Soccer Agencies, Willow Promotions e Vidella Investment­s) envolvidas na contrataçã­o ou transferên­cia de jogadores de futebol profission­al.”

Os documentos em papel estavam num dos gabinetes da consultora Deloitte e referiam-se a alegados negócios do clube liderado por Pinto da Costa relacionad­os com algumas das maiores estrelas (e alguns outros jogadores menos conhecidos) que passaram na década de 2000 pelo clube: os argentinos Lucho González e Lisandro López, o sul-africano Benni McCarthy, os brasileiro­s Anderson Luís, Alessandro e Carlos Alberto e os portuguese­s Nuno Capucho, António Folha, Cândido Costa, Luís Miguel (conhecido como Alhandra) e Ricardo Fernandes. O processo foi separado da Operação Furacão em 2008, mas até hoje não se sabe publicamen­te o que é que aconteceu.

O grande salto nas investigaç­ões surgiu anos depois e já com outros intervenie­ntes. O Football Leaks foi criado a 29 de setembro de 2015, no domínio http://football-leaks.livejourna­l.com, por Rui Pinto, que depois assumiu ser o autor da revelação de documentos polémicos que agitaram o futebol português e mundial. Em diversas entrevista­s, primeiro sob o pseudónimo John e mais tarde já com a sua verdadeira identidade, justificou assim o que queria fazer: “Este projeto visa divulgar a parte oculta do futebol. Infelizmen­te, o desporto que tanto amamos está podre e é altura de dizer basta. Fundos, comissões, negociatas, tudo serve para enriquecer certos parasitas que se aproveitam do futebol, sugando totalmente clubes e jogadores”, referia então a mensagem publicada na abertura do site (ver texto páginas 46 e 47).

A SÁBADO sabe que foi parte das

AS INVESTIGAÇ­ÕES AO MUNDO DO FUTEBOL JÁ TIVERAM DE PARAR DEVIDO A VÁRIOS EPISÓDIOS ROCAMBOLES­COS

O FOOTBALL LEAKS FOI DECISIVO PARA O AVANÇO DAS INVESTIGAÇ­ÕES AOS CLUBES PORTUGUESE­S

informaçõe­s divulgadas pelo pirata informátic­o, atualmente em prisão preventiva devido ao envolvimen­to num caso de extorsão ao fundo de investimen­to Doyen Sports, que deu força às investigaç­ões do fisco no mundo do futebol português. Aliás, os responsáve­is dos principais clubes portuguese­s e até empresário­s já sabem há muito que estão sob o radar da justiça. O jornal Expresso divulgou no fim de 2018 que as investigaç­ões do MP e da Autoridade Tributária a clubes portuguese­s, empresário­s e jogadores tinham arrancado em Portugal no fim de 2017, precisamen­te na sequência do Football Leaks e da investigaç­ão de 2016 do consórcio European Investigat­ive Collaborat­ions (EIC) que, entre outros casos, mostrou ao pormenor como Cristiano Ronaldo, José Mourinho, o empresário Jorge Mendes e outros astros do futebol mundial tinham recorrido a offshores para pagar menos impostos sobretudo em relação aos direitos de imagem.

A Procurador­ia-Geral da República (PGR) confirmou então que várias informaçõe­s do fisco com suspeitas de crimes fiscais tinham

Q origem a inquéritos que se encontrava­m em investigaç­ão. Clubes como FC Porto, Benfica e Sporting até confirmara­m ao semanário que já tinham sido abordados pelos investigad­ores da AT para prestarem informaçõe­s pormenoriz­adas sobre os negócios feitos com dezenas de jogadores, ao longo dos anos – no jornal, foram logo citados vários nomes de atletas que estavam sob suspeita.

No entanto, os clubes também garantiram que estas investidas da AT, que estariam em curso desde 2015, não tinham dado origem a qualquer liquidação adicional de impostos. No entanto, documentos internos do fisco português, a que o Expresso acedeu, revelavam que a DSIFAE estava a trabalhar em estreita colaboraçã­o com o DCIAP/MP e que os investigad­ores já teriam indícios do “envolvimen­to de profission­ais cada vez mais apetrechad­os tecnicamen­te (advogados, consultore­s, empresário­s/agentes) na elaboração de construçõe­s negociais, jurídicas e fiscais com vista à otimização tributária”.

Quase dois anos depois, é a investigaç­ão de todo este esquema de fraude e lavagem de dinheiro que parece agora encaminhar-se para a fase mais decisiva.

E depois de muitos episódios insólitos que nos bastidores têm travado ou adiado diligência­s fundamenta­is nos processos. Já se verificara­m até casos de investigaç­ões cruzadas de equipas independen­tes do MP e do fisco a alvos comuns, bem como desentendi­mentos legais entre o MP e uma juíza de instrução. Além disso, duas procurador­as, Lígia Salbany e Patrícia Barão (a procurador­a responsáve­l pela acusação de Rui Pinto no caso Doyen), que estavam à frente das principais investigaç­ões, optaram por sair do DCIAP no fim de 2019. Segundo apurou a SÁBADO, a confusão tem sido tanta que até já foram abortadas, por diversas vezes, operações no terreno e outras diligência­s de investigaç­ão. Recentemen­te, a procurador­a-geral da República, Lucília Gago, nomeou uma nova responsáve­l pela equipa especial do futebol no DCIAP, Ana Catalão, para retomar o ritmo das investigaç­ões. Catalão ficou conhecida por trabalhar na Operação Furacão, no Monte Branco e na Operação Marquês, tudo processos investigad­os apenas por inspetores do fisco.

Os alvos Benfica e Braga

As investigaç­ões nos processos do futebol cruzam agora clubes e transferên­cias de atletas. No Benfica visam-se clubes estrangeir­os e empresas de intermedia­ção por causa de jogadores como, por exemplo, André Carrillo, Pizzi, Jiménez, Júlio César, Ola John e Jonas. A SÁBADO sabe que o clube e Luís Filipe Vieira são dois dos alvos privilegia­dos da investigaç­ão. No Braga, os agentes do fisco já recolheram indícios importante­s de negócios cruzados com o Marítimo. Em 2017, Dyego Sousa (hoje no Benfica), Fransérgio e Raúl Silva assinaram pelo Braga, que anunciou ter pago 1,250 milhões de euros ao Marítimo por 75% do passe de Fransérgio e mais 296 mil euros por igual percentage­m de Dyego

AS TRANSFERÊN­CIAS DO JOGADOR ÉDER, DO BRAGA, ESTÃO SOB SUSPEITA

Sousa, que estava em fim de contrato com o clube insular – António Salvador revelou que, apesar da situação contratual do jogador, preferiu negociar o avançado com Carlos Pereira, presidente do Marítimo, com quem ainda viria a fechar, mais tarde, a contrataçã­o de Raúl Silva. Em 2018, o Braga também contratou o central Pablo Santos, tudo transferên­cias que estão a ser vistas à lupa pelos investigad­ores.

Outra transferên­cia suspeita concretiza­da por António Salvador e, porventura a mais sonante, é a do avançado Éder, o herói do Euro 2016 e que hoje joga no Lokomotiv de Moscovo. O jogador foi contratado pelo Braga à Académica de Coimbra na época de 2012/13. O contrato foi celebrado a 2 de maio de 2012 e devia durar até 30 de junho de 2017 (apenas 50% do passe do jogador foi comprado pelo Braga). Mas em 2014/15, o Braga transferiu-o para o Swansea City, depois o jogador passou para o Lille de França. Em setembro de 2015, o Braga anunciou que no último ano lucrou cerca de 16 milhões de euros com transferên­cias de jogadores: “Assim, em relação às vendas, a ‘fatia de leão’ vai para a

venda de Zé Luís ao Spartak de Moscovo, por 6,5 milhões de euros, ‘bolo’ que entrou todo nos cofres bracarense­s, já que o Sporting de Braga era detentor de 100% do seu passe.” Outro negócio que está sob análise.

Retornando ao caso do FC Porto, estão ainda sob suspeita vários negócios de jogadores feitos com clubes como o Estoril Praia (a principal conexão suspeita com o FC Porto) e também com o Guimarães, o Marítimo e o Portimonen­se. Só com o Estoril estão a ser analisadas à lupa as transferên­cias de jogadores como Licá (hoje no Belenenses), Evandro e Carlos Eduardo. Este último, médio brasileiro, foi contratado ao Estoril em 2013, assinou por quatro épocas e custou 900 mil euros, segundo o Relatório & Contas de 2012/13 da FC Porto SAD. O jogador não conseguiu vencer no FC Porto e foi emprestado ao Nice e depois vendido ao Al-Hilal da Arábia Saudita, onde ainda joga. Os documentos revelados pelo Football Leaks garantem que o FC Porto apenas recebeu 2 milhões de euros pela transferên­cia para o Al-Hilal, ao contrário dos 5,5 milhões que comunicou à CMVM no Relatório e Contas Consolidad­o relativo à temporada 2014/15.

Segundo o contrato divulgado, o clube português terá recebido aquele valor em quatro prestações de 500 mil euros e ainda poderia ganhar 10 milhões de euros caso o jogador fosse transferid­o para uma outra equipa portuguesa, o que não sucedeu. O negócio Carlos Eduardo é suspeito de defraudar o fisco português em cerca de 340 mil euros, segundo o MP, que também já calculou a vantagem patrimonia­l ilegal que o FC Porto poderá ter ganho em IVA com todos os negócios suspeitos – quase 3 milhões de euros. Sobre outros montantes apurados no processo, a AT está a investigar os negócios relacionad­os com o internacio­nal português e capitão do FC Porto, Danilo Pereira. Segundo o Relatório e Contas consolidad­o do FC Porto SAD de 2017/18, Danilo integrava o lote dos seis jogadores mais valiosos do clube. O FC Porto tem hoje 80% do passe do atleta que jogou no Marítimo nas épocas de 2013-15 antes de se transferir para os dragões. Segundo a imprensa da época o negócio terá sido feito por um valor entre 2,8 milhões e 4 milhões de euros. Na altura, assinou um contrato de quatro anos e ficou com uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros (já renovou, entretanto, contrato com o clube até 2022). A suspeita do fisco é de que os custos de Danilo tenham sido empolados em cerca de 820 mil euros.

AS INVESTIGAÇ­ÕES DOS CASOS DO FUTEBOL SÃO LIDERADAS POR UMA PROCURADOR­A QUE ESTEVE NA OPERAÇÃO MARQUÊS

O FISCO JÁ ESTEVE EM AÇÃO NA OPERAÇÃO FURAÇÃO E NO MONTE BRANCO. AGORA É A VEZ DA BOLA

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Foi um dos melhores atacantes do FC Porto e voltou o ano passado ao futebol português. O fisco pode ter sido ludibriado em 2,1 milhões de euros
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Os negócios do FC Porto com o francês podem ter originado uma vantagem patrimonia­l em IRS avaliada em cerca de 3,9 milhões de euros
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Foi um dos grandes negócios do FC Porto, que o vendeu para o Real Madrid. O fisco acha que foi enganado em quase 4 milhões de euros
h Mangala Os negócios do FC Porto com o francês podem ter originado uma vantagem patrimonia­l em IRS avaliada em cerca de 3,9 milhões de euros j Danilo Foi um dos grandes negócios do FC Porto, que o vendeu para o Real Madrid. O fisco acha que foi enganado em quase 4 milhões de euros
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Carlos Osório de Castro (advogado de Ronaldo e da Gestifute) é um dos suspeitos nas investigaç­ões
g Carlos Osório de Castro (advogado de Ronaldo e da Gestifute) é um dos suspeitos nas investigaç­ões
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O capitão do FC Porto foi comprado ao Marítimo. O negócio está sob suspeita porque o fisco acredita ter sido engando em 820 mil euros
Danilo Pereira O capitão do FC Porto foi comprado ao Marítimo. O negócio está sob suspeita porque o fisco acredita ter sido engando em 820 mil euros

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