SÁBADO

Escreva aí, Florbela

Rui Rio ditou à assessora o texto para anunciar a novidade nas redes sociais. Mas os deputados com quem esteve reunido souberam pelos jornais.

- Por Margarida Davim

Passava pouco das 11 horas, Rui Rio encaminhav­a-se para a reunião da bancada parlamenta­r. Como sempre, Florbela Guedes seguia-lhe os passos. Rio ia-lhe ditando um texto enquanto se aproximava da sala onde os deputados o esperavam. Lá dentro, ninguém desconfiav­a de que o líder do PSD tinha acabado de dar indicações à assessora de imprensa para pôr no site do partido um texto a anunciar que ia avançar com uma “proposta de revisão constituci­onal nesta legislatur­a”.

A expressão “revisão constituci­onal” até foi usada por Rio na reunião, mas como hipótese académica. O líder social-democrata falou na importânci­a de evitar situações como o chumbo dos nomes propostos para todos os órgãos externos da Assembleia (no dia da não aprovação de Vitalino Canas para o Tribunal Constituci­onal, também falharam as outras indicações que iam a votos), dando o exemplo da necessidad­e de entendimen­tos com o PS para rever a constituiç­ão, mas nunca explicou à bancada que lidera que já tinha anunciado que queria apresentar uma proposta.

Cá fora, os jornalista­s tinham recebido a notificaçã­o do site do PSD com o anúncio e perguntara­m a Rio se queria dar mais pormenores. Mas os deputados, que continuara­m reunidos mais alguns minutos, só se aperceberi­am do que se estava a passar quando começaram a receber notificaçõ­es das aplicações dos jornais.

“Os deputados do PSD não sabiam da proposta de revisão constituci­onal”, assegura à SÁBADO uma fonte da direção da bancada. Vários outros deputados, que não quiseram ser identifica­dos assumiram ter sido apanhados de surpresa pela iniciativa. A comunicaçã­o no site dizia apenas que o PSD “apresentar­á um projeto de Revisão Constituci­onal

até ao fim da atual sessão legislativ­a ou, no máximo, até ao início da próxima”. Na bancada ninguém sabia sequer se se pretenderi­a apresentar as propostas durante o processo de revisão requerido pelo Chega. “Não sei. É difícil, porque para aproveitar esse período as propostas têm de ser entregues até dia 10 de abril”, desabafava um vice-presidente da bancada laranja.

No site explicava-se que “esta proposta contemplar­á algumas propostas que o PSD tem vindo a defender e que necessitam de uma revisão da Constituiç­ão”. Era fácil adivinhar que podiam estar incluídas medidas de reforma da Justiça ou do sistema político. Mas nem o deputado que há meses tem a cargo a elaboração de uma proposta de revisão do sistema eleitoral, Pedro Rodrigues, sabia da iniciativa de Rio. “Comigo ninguém falou”, disse à SÁBADO.

Foi preciso esperar umas horas para, numa conferênci­a de imprensa na sede, se perceber mais alguns pormenores. Aí, Rio adiantou que vai criar uma comissão para a revisão constituci­onal e explicou que apenas fará “propostas pontuais”. Uma delas pode ser o aumento da duração das legislatur­as para cinco anos e a imposição de uma maioria de não magistrado­s nos Conselhos Superiores da Magistratu­ra ou do Ministério Público, eventualme­nte dando ao Presidente poderes para indicar nomes. W

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