OS APERTOS DE MÃO DERAM LUGAR ÀS VÉNIAS...
…na Novabase, na Servilusa só anda um empregado por elevador, a CGD abriu as portas para evitar toques, a Volkswagen acabou com os secadores das mãos. E a Altice deu 1.500 auscultadores novos.
Se não sabe como cumprimentar um colega em tempos de coronavírus, experimente seguir as instruções da tecnológica Novabase: “Evita os apertos de mãos, abraços e beijos. Cumprimenta o colega à japonesa, com uma vénia.” A lógica é a mesma que faz os autocarros da Carris pararem em todas as estações, evitando que se toque no botão stop, que levou empresas como a RTP a pôr fim ao sistema de entrada nos edifícios através de impressão digital e que fez outras darem horários flexíveis a trabalhadores que viajam em transportes públicos – evitando as horas de pico. Na Navigator, até as reuniões do gabinete de gestão de crise – que quase todas as empresas adotaram – são feitas por conference call, pelo menos uma vez por dia. Só na Infraestruturas de Portugal há mais de 50 pessoas a gerir a crise, na Nestlé são 23, na Remax 19 e na Frulact 14. E se o contacto acontecer mesmo? Na Altice, os trabalhadores que fazem instalações em casa dos clientes sabem que devem pedir autorização para lavar as mãos antes de saírem.
POUCOS NOS ELEVADORES E AS RARAS REUNIÕES
h O número varia, mas várias empresas instituíram uma frequência máxima nos elevadores: na Servilusa permite-se apenas uma pessoa de cada vez, na Navigator duas, na Remax três e na Galp quatro. Na Novabase, Worten e na consultora informática Claranet, recomenda-se, em vez disso, a utilização das escadas. E muitas empresas, como a Caixa Geral de Depósitos e a Altice, por exemplo, passaram a abrir as portas de todo o edifício, para evitar toques desnecessários. As regras também mudaram para as reuniões presenciais. Todas as empresas com quem a SÁBADO falou tentaram reduzi-las ao mínimo – na Navigator, por exemplo, 95% acontecem agora por conference call ou Skype. Se for mesmo preciso, REN, Navigator e Worten impõem um limite de 10 pessoas por sala – no segundo caso com pelo menos um metro e meio de distância entre elas, no último com dois metros. Na Randstad, a medida é outra: deve ser mantido um intervalo mínimo de uma cadeira. Na Claranet, os colaboradores que restaram passaram para salas individuais. E nas lojas da Altice as equipas também foram ajustadas para que possam trabalhar com dois ou três metros de distância.
CANTINAS COM TURNOS E PRATOS COM LUVAS
h Comer na empresa também já não é igual. Na Sogrape, que produz o Mateus Rosé, há agora seis turnos diferentes, para evitar picos de afluência – operacionais e administrativos não se podem misturar e o acesso ao refeitório é feito por um novo circuito que não passa pelo interior das instalações da empresa. Na Navigator a lotação foi reduzida para metade, colocaram-se lugares em ziguezague e o horário foi alargado – se não tiver uma distância mínima do comensal seguinte, deve mudar de sítio. Também no edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos, onde já foram detetados dois casos de coronavírus, o refeitório passou a funcionar das 11h45 às 14h45 e começaram a usar-se outras salas da empresa para servir refeições. Já nos cinco hotéis do grupo Discovery Hotel Management passou a ser possível fazer refeições nos quartos em todas as unidades. Os talheres dos buffets são, agora, trocados a cada 30 minutos, os pratos e talheres são colocados com luvas, nenhum alimento fica mais de uma hora nos buffets e todas as mesas e cadeiras são desinfetadas assim que um cliente sai.
MÉDICO SEMPRE E O FIM DOS SECADORES DE MÃOS
h As fábricas da Navigator passaram a ter um médico disponível 24 horas por dia, de segunda a domingo. Na Altice, foram contratados novos médicos, com experiência na área da saúde pública. Já na Volkswagen, que está a trabalhar em regime de serviços mínimos, todos os secadores de mãos foram eliminados das casas de banho e substituídos por dispensa
OS TALHERES DOS BUFFETS DOS HOTÉIS DISCOVERY SÃO, AGORA, TROCADOS A CADA 30 MINUTOS
dores com toalhas de papel. Além disso, muitas empresas, como a Frulact, passaram a disponibilizar lenços de papel e baldes do lixo com tampa e pedal. A limpeza foi reforçada em todos os negócios – entre as 12h30 e as 14h30 as lojas dos CTT encerram para que seja feita uma desinfeção mais profunda; a Novabase contratou mais uma equipa de limpeza. Elevadores, maçanetas, corrimãos – tudo o que exija toque humano é prioritário. É também por isso que já não se podem comprar bilhetes nos autocarros e que nas estações o pagamento só é possível com cartão. Se alugar um carro na Hertz, a limpeza adicional foca-se em volantes, manetas de mudanças, puxadores, tabliê, retrovisores e botões de vidros.
Já os 2.500 trabalhadores da Luís Simões viram ser instituída uma nova regra: obrigatoriedade de medição diária da temperatura a todas as pessoas que entrem nos seus centros, sejam ou não trabalhadores habituais. Aconteceu o mesmo na Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP). “O acesso às instalações da STCP já há mais de uma semana que só se efetua após controlo de temperatura”, confirma fonte oficial. Noutras empresas, como a Navigator, a medição de temperatura aplica-se apenas a quem vem de fora. Há mais regras para visitantes: na Novabase estão proibidos de usar os elevadores, na Sogrape não podem frequentar o bar e a cantina e devem usar casas de banho específicas – se forem motoristas de camiões, é suposto que, sempre que possível, se mantenham dentro dos mesmos até serem chamados para carregar e descarregar. Na Riopele há outra medida: um questionário feito à entrada, para ajudar a despistar casos suspeitos. Não trabalha na Navigator mas precisa de entrar na empresa? Pode, mas só de máscara.
HEADSETS NOVOS PARA TODOS
h Todos os colaboradores da Altice que trabalham em centros de atendimento receberam headsets novos. Foram, no total, 1.500 auscultadores. Para proteger clientes e colaboradores, os balcões do banco Eurobic deixaram de estar abertos: é preciso tocar à porta para entrar nas agências. Sempre que possível, as empresas cancelaram todas as viagens – nacionais e internacionais – e optaram por teletrabalho: na Altice há 4 mil pessoas a trabalhar de casa, na EDP são 3 mil, na Novabase estão fora dos escritórios todos os 1.800 colaboradores, tal como os 1.300 da consultora Ernst & Young. Se precisar de fazer uma entrevista de emprego – são mais de 11 mil por mês – a Randstad também tenta sempre adotar soluções virtuais. Uma das raras exceções são os candidatos que não têm acesso a tecnologia. Quem foi para casa primeiro? Além de grávidas, pessoas com doenças crónicas e respiratórias, houve outras prioridades: quem trabalhava em open space ou andava de transportes públicos, por exemplo.
Medidas de exceção para garantir a segurança. Como fez a Novabase que encerrou balneários, cancelou consultas de osteopatia e estética e passou a fazer atendimentos médicos por Skype. Mas houve, claro, mais cancelamentos: os campos de férias da Páscoa para os trabalhadores da Jerónimo Martins, por exemplo, uma conferência da Ernst & Young sobre o Orçamento do Estado – que já tinha 120 inscritos – e até o cruzeiro que celebraria o 20º aniversário da Remax. Uma viagem de Lisboa a Marrocos, com 2.700 colaboradores a bordo. W
A REMAX CANCELOU O CRUZEIRO A MARROCOS E A JERÓNIMO MARTINS OS CAMPOS DE FÉRIAS DA PÁSCOA