SÁBADO

O PANDEMÓNIO

- ÂNGELA MARQUES

Q FRUTOS SECOS Família de aromas que lembram nozes, amêndoas, avelãs, etc. Em generosos e estagiados em madeira velha, também figos, passas e tâmaras.

FRUTOS VERMELHOS Aroma de certos tintos que recorda framboesas, morangos, groselhas, ameixas e cerejas maduras.

FUGAZ Aroma instável, que se desvanece mal se sente na boca.

FUMADO Aroma a lenha.

GINJA Aroma raro, presente em grandes tintos e Portos Tawny. GORDO Vinho muito alcoólico, feito com uvas muito maduras, de climas quentes. Cremoso ou amanteigad­o, que reflete aromas do estágio em madeira. GRANDE RESERVA Denominaçã­o que se concede a vinhos longamente estagiados em barrica de carvalho e em garrafa.

GROSSEIRO Rústico, duro e vulgar, sem elegância.

GULOSO Macio e equilibrad­o.

HERBÁCEO Com odores ou aromas vegetais, a lembrar erva. HONESTO Diz-se de um vinho simples, mas sem defeitos.

INDECISO Vinho que, por ser jovem, ainda não se desenvolve­u, portanto é ambíguo e desequilib­rado mas, consoante o terroir ou o produtor, pode merecer o benefício da dúvida.

INTENSO Complexo, com cor, aroma ou sabor profundos, com longo final de boca.

INFANTIL Sem estrutura, mas muito frutado, lembra rebuçado.

JOVEM Vinho geralmente frutado, de poucos taninos, com acidez agradável e sem estágio (que poderá ou não vir a ter).

LEVE Suave, pouco alcoólico e encorpado, que desliza bem. LIGEIRO Com pouca estrutura, leve. Pode ser uma qualidade em brancos e rosés jovens. LIMÃO Odor frutado que se deteta em certos brancos, sobretudo da região dos vinhos verdes.

LÍMPIDO Limpo. Diz-se de um vinho bem elaborado, sem sedimentos nem alterações ao nível de cor, aroma e sabor. LONGO Que se prolonga no fim de boca, com expressão aromática e um paladar sustentado.

MAÇÃ Odor que se sente em brancos frescos não submetidos a fermentaçã­o maloláctic­a. MADEIRA Odor que lembra carvalho, fumo, lenha queimada, baunilha, cedro, incenso ou resinas, típico de vinhos bem estagiados em barricas.

MAGRO Aguado, diluído, pouco alcoólico e pobre em extratos. Ou em declínio, que perdeu, corpo, estrutura e untuosidad­e.

MEL Delicado aroma floral, caracterís­tico de brancos muito maduros e elegantes. Pode ter matizes subtis, como flor de laranjeira, acácia ou alecrim.

MENTA Aroma excitante que se sente em versão verde em certos brancos e picante em tintos.

MINERAL Aroma de alguns brancos de grande qualidade e boa acidez, que lembra rochas.

MUDO Sem graça. Apagado.

MURCHO Odor que lembra flores murchas ou vegetais secos. Não é defeito nem evoca nobreza.

MUSCULADO Encorpado e com taninos rústicos.

MUSGO Aroma herbáceo e vegetal que lembra florestas.

NERVO Estrutura e músculo do vinho, que deve ser bem equilibrad­o pelo álcool e pelos taninos.

NERVOSO Com acidez elevada e algo adstringen­te.

OBJETIVO Vivaz e brilhante, com acidez alta e final seco. ORIGINAL Vinho com qualidades distintiva­s, que o identifica­m. OSSUDO Vinho com pouco álcool e muita acidez, como muitos dos vinhos verdes. OXIDADO Vinho estragado pelo contacto com o ar. Passado.

PEQUENO De aromas discretos, com pouca acidez e estrutura. PESADO Muita cor e estrutura.

PÊSSEGO Aroma frutado de certos brancos de alta qualidade.

PINHO Aroma balsâmico.

PLANO Sem sabor nem corpo ou sem corpo nem acidez; chato.

PLENO Grande vinho, que enche a boca, encorpado e com boa acidez e taninos.

POBRE Com falta de estrutura, corpo e taninos. Final curto.

POTENTE Vinho bastante alcoólico, cheio de vivacidade, com estrutura e bom corpo.

PROFUNDO Encorpado e com cor muito intensa.

QUEBRADO Em decadência. QUENTE Quando a sensação dominante na boca é o álcool.

RAÇA Que expressa bem o seu terroir e revela caráter. REDONDO Com todos os elementos em sintonia: acidez, corpo, taninos e teor alcoólico.

REQUINTADO Vinho muito elegante, com raça. Sofisticad­o.

RICO Equilibrad­o e complexo.

RIJO Adstringen­te.

ROBUSTO Encorpado e completo, com boa estrutura.

ROSAS Odor floral, rico.

RÚSTICO Honesto, mas sem subtileza, geralmente muito alcoólico e com taninos ásperos.

SALGADO Impressão gustativa que se sente em vinhos de videiras plantadas junto à costa. SAUDÁVEL Sem defeitos.

SECO Com caráter, sem sabores açucarados.

SÓLIDO Com boa estrutura, encorpado e com muitos taninos.

SUAVE Equilibrad­o e elegante, untuoso e com textura fina e redonda. Fácil , mas requintado.

SUBTIL Delicado, harmonioso.

TALHA Recipiente de barro cozido, bojudo e revestido por pez (resina), para fermentaçã­o. TANINOS Compostos fenólicos, responsáve­is por cor, aroma e estrutura, de sabor adstringen­te.

TENRO Redondo e delicado.

TOSCO Grosseiro.

TRANQUILO Que não é efervescen­te, sem gás.

TURVO Opaco, com partículas em suspensão.

UNTUOSO Suave e macio ao paladar, com corpo sedoso.

VELHO Que passou muitos anos a envelhecer na garrafa. VERTICAL Com acidez alta e fim de boca muito seco. VIGOROSO Pleno de força e juventude. Vivo. Saudável. VULGAR Comum, sem grandes qualidades.

XAROPOSO Demasiado doce, sem o equilíbrio da acidez.

ZIMBRO Odor balsâmico caracterís­tico de bons tintos velhos.

Não posso precisar há quantos anos ouvi falar, pela primeira vez, de uma coisa chamada Grupo das Mães. Lembro-me da caricatura que se fez dele mas não me lembro de mais – era simpático e inofensivo. Esta semana, porém, conheci um outro do mesmo género em que o impensável aconteceu. Uma mãe, preocupada com a covid-19, pedia ajuda. Tinha um jantar combinado para 30 pessoas e pedia conselhos: “O que faço?”, dizia ela. A resposta, célere, surgia também óbvia: “Arroz de pato, toda a gente gosta!”

Tive de rir, até porque ainda podíamos rir. A semana estava a começar, o alarme já era algum, mas a verdade é que parecia que ainda o podíamos combater com humor (podemos sempre, creio, até porque da vida a única coisa que se leva é uma muda de roupa e nem essa podemos escolher). Nos dias que se seguiram vi com preocupaçã­o o meu bom humor esfumar-se. O caso não estava para brincadeir­as.

Houve, no entanto, quem quisesse brincar com isto. E não foram eles, fomos nós, todos, uns mais que outros, mas todos, cada um à sua maneira, quem furou a lógica. Fomos para a praia, fomos para as filas dos hipermerca­dos, fomos ao fim da rua para espreitar o fim do mundo. E finalmente ouvimos a notícia que não queríamos ouvir: confirmou-se a pandemia. Só que o pior não seria a pandemia, diziam-nos. O pior poderia bem ser a falta de noção – e nisso português típico é fortíssimo.

Hoje, quando me lembro do arroz de pato, ainda tenho vontade de rir. Realmente: quem não gosta de arroz de pato? Já não estou a gostar tanto do que a pandemia nos está a mostrar. Vivemos num País de orçamentis­tas, sempre interessad­os no acidente que se passa do outro lado da estrada, mas a verdade, vejamos, é que o mundo não precisa de heróis agora, a menos que eles venham com um ventilador às costas.

Assim, tenho uma ideia: guardemos o arroz de pato para depois. Guardemos as teorias de conspiraçã­o para depois. Guardemos a rebeldia e/ou estupidez para depois. Até para garantir que estaremos cá para ver esse “depois”. De outra maneira, o que agora é uma pandemia vai ser um pandemónio. W

O PIOR PODE SER A FALTA DE NOÇÃO – E NISSO O PORTUGUÊS TÍPICO É FORTÍSSIMO

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